Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

De partida


Daqui
De onde me vês partir?
Da janela, através de um vidro manchado de dedadas, borrifado de pó, vento e gotas de chuva, ou apenas de dentro de ti?
Já não sou a mesma. As revoluções dentro de mim são sempre constantes, o movimento dos meus pensamentos transforma-me. E eu deixo-me ir e mudo. E não me apetece voltar atrás na mudança. Gosto de ser como sou, de estar como estou.
Há páginas e páginas dentro de mim. Quando elas saírem, verás tudo o que não consegues agora perceber, porque estás definitivamente longe. Sempre.
Se eu parto sem olhar para trás, é porque atrás não há caminho para percorrer. Vivo para a frente, para o que me apaixona e faz sorrir. Atrás está o que me faz sofrer.
Por favor, vê-me partir. Sem olhar para trás.


segunda-feira, 30 de julho de 2012

sinto-TE


Diário de Lisboa
Arrisco e apago as luzes.
Há coisas que só consigo perceber quando faço desaparecer a luz.
Há sons dos quais me apercebo melhor quando a luz cai.

sinto-TE melhor quando a noite cai sobre nós. o som do respirar que se aproxima. o perfume que se vai instalando passo a passo. e no escuro da noite há luzes que sobem ao céu e nos iluminam os corpos que imagino. tu não Estás cá...

domingo, 10 de junho de 2012

Arame Farpado

Foto da Autoria de
 Rogério Martins
Há dias em que o preto e branco caem sobre mim.
Ando assim.
Preto e branco.
Rodeada por muros e grades. Não gosto.
Dentro de mim, liberdade é palavra obrigatória para que eu consiga viver [mais ou menos] feliz. O socialmente correcto atrofia-me. Não gosto de ter de ser igual a todos só porque todos são e agem assim. Não gosto de "ter" de ser "crescida", só porque sim.
Quando os dias me apertam, o meu peito aperta-se também. Por vezes o arame farpado invisível quase me fere. Obrigo-me a respirar fundo e a pintar com cores vivas o preto e branco. Acredito que só se vive uma vez e que tenho de aproveitar cada minuto desta vida que alguém me deu oportunidade de conhecer.
Se o arame farpado nem assim me alivia a dor que os dias me vão inflingindo, então tenho de inventar mais cores.
Misturo as que existem, invento razões para que as cores conhecidas de todos não sejam suficientes para pintar o meu Mundo.

No meu Mundo não há lugar para arame farpado...nem para dias a preto e branco.





terça-feira, 17 de abril de 2012

Privavera, em Música

Olhando para trás,

Daqui

lembro-me que havia uma máquina de escrever. Não igual a esta!
Era preta, pesada, fita vermelha e letras encarrapitadas em cima de uns ferros que se chegavam à frente de cada vez que lhes tocavamos. Batiam no papel, deixavam a marca e vinham à frente, mostrar-se!
Na mesma escrivaninha havia um mata borrão, uma elipse com corpo que se balançava em cima do papel escrito a tinta permanente e que absorvia as letras, duplicava-as em negativo.
E havia um Avô. Que lia o velhinho Diário de Notícias enorme.
E dois sofás de napa vermelha. Um deles está cá. Na minha casa, no meu escritório, encostado às estantes dos meus livros.
O Avô que me ensinou a ler naquele jornal estendido no chão.
A máquina de escrever que não era um brinquedo, mas que os nossos dedos gostavam de utilizar, matraquear, fazer barulho e ouvir a campainha que tocava quando o rolo chegava ao final do papel, avisando que era obrigatório mudar de linha. A máquina não era um brinquedo, mas o Avô deixava que brincássemos.
A máquina de escrever mudou de mãos. Das do Avô para as de um dos seus Netos. Lá está ela, em destaque, para nos relembrar as tardes em que o Avô nos deixava ouvir aquela campainha.

Pormenores...

Daqui

I. ...De Casa

Casa. Há bem pouco tempo, o meu Universo.
Agora, a minha casa. O porto onde regresso após cada viagem, o destino desejado, o ponto final de cada dia.
Casa. O lugar por onde viajo hoje.
A mesa da casa de jantar pejada de papéis e dossiers. Os telefones. A minha agenda. O dia de hoje vai ser dedicado aos contactos. Iniciar novos e consolidar mais antigos. A conversa, o sorriso, as palavras. Os resultados vão surgindo e a lapiseira, fina, vai transformando em manchas escuras os espaços brancos da minha agenda. Aqui sorrio eu. A agenda em branco angustia-me. Gosto de a ver carregada de nomes de quem não conheço mais do que a voz ao telefone. Cada voz uma surpresa. Cada saída de casa uma nova Família que visito, vou conhecendo aos poucos, vou adicionando ao meu registo de memórias. [mais material para "aquele" livro que um dia vai acontecer].
A rotina da casa alterou. A rotina da Família alterou. A casa sente a minha falta, sinto-o, vejo-o nos pequenos pormenores que só eu detecto.

II. ...Dos Filhos

Os filhos. Neles também muita coisa mudou.
Estão mais crescidos e soltos. A alteração na minha vida tem feito com que se alterem também as rotinas deles. De repente parece que cresceram. De repente há namorado/namorada nos mais velhos. Há mais ausências na mesa de refeições, há mais presenças. Podemos ser só quatro, mas também podemos passar a oito. A flutuação. O movimento da Família. Cada um de nós é um Mundo, uma realidade, sonhos, pensamentos e palavras que se junta a outros Mundos e cria um Atlas de conversas, de dúvidas, de desejos e planos. Um Atlas onde os Países também têm cores diferentes, onde uns têm mais terra e outros mais água, onde uns sonham e outros estão bem presos à Terra.
Medo. Perda. Duas palavras que me ensombram volta não volta.
Orgulho. Palavra que define o meu Mundo de Mãe.
O meu Mundo, agora transformado em dois, divide-se por estas três palavras. Porque é enorme o sentimento de orgulho que tenho nos meus Filhos, mas enormérrimo o medo de os perder.

III. ...De mim

À cabeça vêm-me memórias de outros dias.
De determinados dias.
Dias. Lá ao longe.
Sinto-lhes o cheiro, a textura, a macieza do clima morno, os sorrisos que por lá andavam.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Promessa a Uma Pessoa [Sozinha]

Daqui
Pedi-te que não me deixasses sozinha.
Nunca mais.
Estou sozinha.
Uma vez mais.
No silêncio da noite. No vazio da cadeira que me olha de lado. Que me provoca. Não a ira, a tristeza. Uma tristeza que arranha a garganta, põe os olhos sem brilho, os lábios sem sorriso.

Estar sozinha é estar assim.
Inventar conversas de mim para mim e conversá-las.

Está frio. Que raio de tempo este que não se entende...
Tal como eu não me entendo a mim.
Sozinha.
Que importa onde.

Importa a promessa feita
E essa não foi cumprida

Breve Crónica do Tempo que passa

Daqui

Tudo mudou para mim.
O tempo deixou de ser contado entre lençóis engomados a preceito e peúgas estendidas aos pares para que a tarefa de as dobrar fosse facilitada.
O tempo passou a ter outra importância. A importância de um trabalho que gosto de fazer e que me traz num vaivém de kms, de conversas, de pessoas.
[Sobre estas tantas pessoas que tenho conhecido, quase poderia escrever uma centena de crónicas. São tantas as que tenho conhecido nestes últimos 17 meses.]
17 meses, tanto tempo e que parece tão pouco. Parece que foi ontem que me lancei nesta aventura, de braços abertos como se de asas se tratasse. De alma aberta para novos desafios.
17 meses, a altura em que as crianças ensaiam passos mais ousados, palavras mais completas. É como me sinto. Uma criança que está a arriscar as aventuras de andar e falar.
O ano encerrou as portas comigo em sucesso e Janeiro trouxe consigo a surpresa de novos desafios. A princípio fiquei quase em coma. As palavras ouvidas a ressoarem-me no cérebro. A minha vida a passar como um filme. 46 anos. Tudo o que fui fazendo. Tudo o que me fez o que sou.
Já estive suspensa. Depois vieram dias de formação. Ouvir, ouvir, ouvir. Escrever, aprender, digerir, dar a volta a todos os pensamentos e tentar que se arrumem e me ajudem a arrumar-me.
A nova etapa já começou. Plena de desafios. Plena de trabalho. Horas e horas fora de casa...

E eu? Eu só. A Vera. A que lê. A que pensa. A que espera sempre mais.

Continuo eu. A leitura em ponto lento. O pensamento sempre presente. Eu, os outros, o presente e o futuro, porque ainda não atingi a capacidade de um dia de cada vez.
Continuo a acreditar que no futuro algo de melhor vai acontecer. Continuo que os dias vindouros me irão surpreender. Coisas boas. Acredito sempre nelas.

sábado, 17 de dezembro de 2011


Daqui

Há dias mágicos...

O dia de Inverno em que acordamos com o Sol a fazer riscas de sombras nas paredes do quarto e a aquecer os pés da cama.
O dia de Verão em que o calor nos acorda cedinho e nos chama para a vida, irresistível na sua energia e alegria.
O dia em que acordamos depois de uma noite bem dormida e de um sonho que nos pôs com um sorriso nos lábios e um calor no coração.

Hoje é um dia mágico sem que nada disto tenha acontecido.
As letras comovem-me sempre, as leituras muito mais e quando tudo isto se alia às emoções, então há, de certeza, magia na maneira como olho o dia.
Uma colega desta "profissão" recente vê hoje o produto do seu trabalho nas bancas - Velocidade Colher - e eu não consigo desligar este acontecimento importante na vida dela, do meu sentir.
Trabalhar num projecto como é O livro, é trabalhar na obtenção de um resultado que, não é à toa, se diz ser idêntico ao de ter um filho. É uma coisa que nasce, mas uma coisa onde tudo transpira o ser de quem nele trabalhou. Ao folhear o livro da Gasparzinha não me senti a folhear apenas mais um livro de culinária. Senti-me a fazer parte do mundo dela, porque é isso que um livro deve transmitir, bocadinhos de quem o criou, e o livro dela traz logo isso no início, a dedicatória.
Hoje, o dia é mágico para ela. E este post é para ela.
A fotografia escolhida, do meu fotógrafo/blogger preferido. Uma fotografia que me faz sonhar com cartas de amor. As cartas que gostaria de ter atadas com uma fita vermelha dentro de uma gaveta perfumada com o cheiro intenso de sabonetes de outras eras.
Hoje, o dia é mágico porque me fez vir aqui e, ao chegar, encontrar 12 comentários para publicar. Cheios de saudades, de ternura e de pedidos de regresso. E as lágrimas a virem-me aos olhos, porque, às vezes, o virtual consegue ser tão mais forte que o real.
Hoje, o dia é mágico. Por vocês.
Obrigada!

sábado, 5 de novembro de 2011

Continuo por Aqui


Diário de Lisboa - The Lisbon Diary

Completou-se na quinta feira um ano. Um ano inteirinho de trabalho intenso, de uma reviravolta imensa na minha rotina de Mãe, Dona de Casa, blogger dedicada.
Os resultados têm sido excelentes, surpreendentes para mim e, penso, para todos os que de mais perto me conhecem. Impensável, na minha cabeça, esta coisa de andar de um lado para o outro, a entrar de casa em casa desconhecida, a sair de minha casa à hora em que todos regressam, a entrar em minha casa à hora em que já muitos dormem.
Sim, tem sido uma vida marcada pela diferença relativamente aos últimos 13 anos. De casa. De Filhos. De Família. De roupas. De pós. De refeições. De tantas coisas completamente enfadonhas e absurdamente pouco criativas. No entanto, foi no meio de tão pouca criatividade em meu redor que nasceu este blogue que acumulou 126 seguidores ao fim de 3 anos, que acumulou comentários que me deixaram orgulhosa dos pontos e vírgulas que sempre soube usar e das palavras sem erros que vou ter de reaprender a escrever.
Sinto-lhe a falta. Aqui foram ficando pedaços de mim. Os pedaços que realmente eram meus e os que ia inventando, deixando sair à medida que as mãos se agarravam às teclas. Cheguei a imaginar, na minha cabeça desprovida de outras preocupações que não as inerentes à esplendorosa carreira de Dona de Casa, que alguém, lendo o meu blogue, me convidaria para escrever em locais de maior visibilidade e que a oportunidade de ter um livro com o meu nome na capa poderia surgir. Nada disto aconteceu...
Hoje, em conversa com alguém que também gosta da escrita, embora a condimente com sabores e cheiros diferentes dos meus, voltou esta vontade súbita de dar aos outros as minhas palavras. Porque elas continuam a dançar cá dentro da cabeça quando, agarrada ao volante, ando por estradas conhecidas e desconhecidas, com vontade de ter um aparelhómetro que ligado ao meu cérebro fosse registando o que naqueles momentos únicos de solidão me vai surgindo como escrevível.
Depois o sinal de sms abanou o meu telefone e outra pessoa, esta das mais importantes na história deste blogue, veio avivar a vontade de voltar a ler comentários aos meus posts.
Nada como as imagens do Artur para me porem a escrever! As saudades dele também são grandes!
Fui lá buscar esta fotografia. Aquela pode ser a minha mão. A mão que empurra, dia após dia, portas de escada de prédios desconhecidos e que faz trabalhar o que me leva a cada casa onde entro.
Um ano. Foi o tempo que já passou desde que começou esta minha nova vida.
65 é o número de pessoas que passaram a estar ligadas a mim por causa de uma máquina. 44 é o número de pessoas que me conheceram, a mim e à máquina, mas não ficaram tão ligadas a mim.
59,6% é o número que representa o meu sucesso nesta actividade.
Eu, que nunca fui fã de números, vivo agora em função deles. E vivo bem...mas tenho saudades das minhas letras que sempre me ocuparam a mente.
Continuo por Aqui e sei que apenas depende de mim, mas preciso de incentivos e esses, vêm daí!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Post pontual

Daqui
Regresso aqui.
Um comentário perdido na caixa de correio do blogue relembra-me a ausência.
O abandono a que tenho deixado este espaço. A falta de notícias. A aridez de palavras.

Agosto está a terminar. Já se arrumaram na memória os dias de férias em família. Já se fazem ouvir as palavras "escola" "horários" "cadernos" "livros".

Os meus livros estão, finalmente, arrumados. As mudanças dentro de casa não páram e o espaço para os livros está organizado. Os meus livros. As histórias que já li. As muitas que tenho para ler.

Durante três semanas os livros foram-se sucedendo, no meu saco de praia, no meu pano enquanto "corava" ao sol.

Estou em casa. Outra vez. De regresso ao trabalho que me tem tirado o tempo para escrever.

sábado, 25 de junho de 2011

No silêncio da noite e da casa adormecida

Daqui
Prefácio
Há entre mim e as fotografias do Artur um caso sério de amor. Não nos conhecemos e pouco mais sabemos um do outro do que as letras que compõem os nossos nomes próprios. Ele, cinco letras. Eu, apenas quatro. O que é certo é que sempre que a vontade de escrever se sobrepõe à loucura dos meus dias, sei que nas imagens do Artur há, de certeza, algo que me espera e que me inspira.
Hoje, mais uma vez, o dia terminou tarde e em trânsito. O regresso a casa, o jantar, a mesa cheia. Os da casa, mais dois extra. Barulho, conversas, risos, jogos. Intimidades, olhares, partilhas. A família construída. Os esboços de outras famílias que virão a existir...

Capítulo I
O Tempo
...num tempo onde não sei se estarei para viver.
Assalta-me frequentemente a melancolia do tempo que passa. Assalta-me frequentemente a tristeza do tempo que já deixei passar. E depois há cá dentro do peito uma sensação boa de tempo que passa. De olhar para os meus quatro projectos de vida e ver que cada um tem um caminho traçado e que o percorre com a naturalidade da segurança, do conforto, da certeza de saber que algures existe uma espécie de almofada onde poderão sempre voltar a deitar a cabeça quando o cansaço ou as lágrimas insistirem em os derrubar. São tão felizes estes quatro! E eu, sou feliz por eles. Por saber que lhes tenho dado tudo de mim. Por saber que o cansaço que à noite me derruba e me atira para o sofá sem força sequer para ler umas páginas é provocado pelo melhor trabalho do mundo, aquele que eu nunca diria que não voltaria a fazer se o tempo pudesse voltar atrás. Ser Mãe. Este é o trabalho que eu sei fazer melhor e é nele que me realizo. É inevitável o sentimento que me assola. O de que o tempo que passa faz com que as asas dos meus filhos os vão levando, todos os dias, um bocadinho para mais longe de mim. É inevitável a saudade que sinto de os ter ao colo, a caberem-me num braço apenas. É inevitável o desejo de nunca me separar deles...mas é também muito reconfortante sentir que posso contar com eles e que eles continuam a contar comigo.

Capítulo II
A Saudade
...é uma palavra portuguesa e que define um sentimento que eu acho que só nós portugueses sentimos com tanta força.
Hoje tenho sentido saudades fortes, das que tiram o ar. Não sei como as resolver.
Hoje estive em Lisboa à noite e fui incapaz de pôr de lado memórias. As noites de Verão em Lisboa são uma parte forte de mim. Hoje conduzi à noite (como é hábito ultimamente) pela marginal. Faço-o quase em "piloto automático". Gosto de sentir que o mar me vem acompanhando sempre, pelo meu lado esquerdo. A companhia musical, Rodrigo Leão, album Mãe. A música tão forte, tão sentida. Lágrimas.

Capítulo IV
Os dias que correm
...tão iguais.
Intimamente desejo que algo suceda.
Algo que transforme os dias que correm iguais em dias diferentes.

Por vezes basta apenas um abraço. Sentido. Apertado. Um beijo. Uma festa. Um olhar. Um ramo de flores. Um bilhete deixado esquecido em cima do nosso sofá preferido. Um convite para qualquer coisa. Por vezes basta sentir que alguém sente a nossa falta.

...para que os dias que correm iguais se transformem em dias tão maravilhosamente diferentes.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Acessorize [me]

Daqui
Os acessórios fazem parte de mim.
Eu sem acessórios estou despida.
Preciso de todos os furos das orelhas preenchidos por brincos que nunca são iguais à esquerda e à direita. Cinco de um lado, seis do outro.
Preciso de anéis no dedo anelar da mão esquerda. A fazerem companhia à aliança que o modela há 23 anos.
Preciso de colares. Um, se fôr grande e vistoso. Mais do que um se os tamanhos não chocarem com o fio de prata de duas voltas que nunca sai do meu pescoço e onde estão três medalhas, sempre, penduradas. Um Stº António que, acredito, me protege nesta minha vida de descrente. Uma estrela de cinco pontas para que algo do mar (e também do céu) se passeie comigo e um quadrado em que cada face ostenta o nome de cada um dos meus filhos. Quatro.
Se é importante acertar na cor da roupa que visto em cada dia, não é, de todo, de menor importância a escolha dos acessórios que conjugo em cada dia.
Depois há dias estranhos. Como o que hoje atravesso. Ainda não me consegui sentir na roupa certa, nos acessórios correctos. As calças já foram trocadas. A escolha foi para uma echarpe. Demasiado formal. Este cabelo que depois da chuvada de ontem ficou com um aspecto de juba intratável. Uma vontade louca de ir dormir a sesta. 
Na cozinha, à espera, o livro aberto na página da receita que será hoje o jantar. Eu sem vontade de ir para a cozinha. Cozinha. A divisão da casa, minha e de outros, onde tenho passado mais horas nos últimos meses. Onde irei passar o final de dia e início da noite de hoje. Espera-me uma demonstração em Lisboa. Espero que me espere um sucesso porque tem sido duro este mês de Maio. Mês do Coração, mês em que o meu coração tem batido mais depressa quando inicio uma nova demo, mês em que o meu coração vem quase parado quando o resultado não foi o que eu queria atingir!
E eu e os meus acessórios. 
A tilintar. 
Sempre com a esperança de um bater forte de coração no regresso a casa.

Linhas Paralelas


Daqui


Tento não me perder e para não me perder tracei duas linhas paralelas no chão que piso.
Iludida pela imagem das duas linhas vou caminhando a direito. 
Só posso caminhar pelos caminhos que as duas me indicam, pouco importando qual o destino a que me levam. 
Faço-o de olhos fechados. Outras vezes, de olhos semicerrados. 
E as linhas sempre lá. Do lado direito, do lado esquerdo. Paralelas.
Uma de fronte da outra. 
Namoram-se? Veêm-se? Que sei eu da vida destas duas linhas que me guiam? Tracei-as eu ou foi alguém que as traçou para mim? 
E a vida vai passando.
Sem que eu a tente prever, sem que tente adivinhar para onde vou, onde pararei este meu caminho conduzido por mãos invisíveis que me vão levando, de ponto em ponto na vida.

terça-feira, 10 de maio de 2011


Já fez 10 anos o rapaz mais novo cá de casa. Excitação máxima. Presentes. Roupa nova. Bolo para a escola. Soprar velas. Parabéns a você.
Nenhum aniversário o é na realidade se não fôr coroado com uma bela festa de anos onde estejam reunidos todos os amigos e família, onde haja brincadeira até todos estarem mais mortos que vivos.
Foi o que aconteceu no passado domingo.
A mesa encheu-se de coisas boas, daquelas coisa que só as crianças sabem apreciar verdadeiramente, e a casa encheu-se de crianças. Vozes, risos, correrias, muita animação. O tradicional saltar à corda que juntou crescidos, médios e pequenos.
Os cães que estavam completamente doidos também. Assim que apanhavam o caminho aberto esgueiravam-se do quintal para debaixo da mesa da casa de jantar em função "aspirador" sem fios.
As gargalhadas provocadas pelas respostas e conversas da mais nova criança da Família. Sempre com resposta na ponta da língua, "do alto" dos seus dois anos e nove meses, foi-nos presenteando com frases, palavras e gestos aos quais ninguém conseguia ficar indiferente.
O tempo passou a correr, nas palavras do aniversariante. Saíram os amiguinhos. Ficaram Avós, Tios e Prima. Jantar em Família.
Foi tardia a chegada à cama, mas valeu a pena!
Foi um dia e tanto.
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