O Artur tem saudades das minhas palavras nas imagens dele. Eu tenho saudades das imagens dele nas minhas palavras.
Não nos conhecemos. Vamos trocando emails, planeando algo em comum, encontrando-nos na virtualidade de um espaço a que acedemos pelo teclado dos nossos computadores.
Encontrar um meio termo entre os meus posts diários que se multiplicavam e a minha ausência de semanas actual não me está a ser fácil.
Sinto falta absoluta das páginas dos meus livros, sinto falta absoluta de ver este meu espaço repleto de palavras que me vão saindo à medida que os dedos se abandonam ao prazer das teclas brancas do meu pequenino computador.
Sinto falta de me ver lida, sinto falta de me ver escrita, mas não sei como hei-de conciliar tantas tarefas. A que de rompante entrou na minha vida e a alterou completamente ocupa-me dias e pensamentos. As que há onze anos desempenho diariamente absorvem o tempo que sobra, multiplicando-se, espalhando-se como polvos, crescendo como uma esponja cresce quando absorve a água em que é mergulhada. E eu, atónita, quase sufoco sem saber como hei-de dar volta a tanta coisa. Sem outros braços que me ajudem, sem os meus braços conseguirem dar vencimento a tanta solicitação.
Ai!!!! Um ataque de ansiedade invadiu-me um dia destes.
Senti que sair era urgente, mas não consegui. Sair da solidão sempre povoada, das palavras envoltas em silêncio e vazio, da aparente calmaria dos dias.
Senti saudade de pegar em mim e na minha máquina (até ela tem estado abandonada, sem carga, fechada num armário) e ir. Lisboa sempre o meu destino de sonho. As ruas escorregadias e a luz clara espelhada pelo rio. Sensação de espaço e fuga em ruas estreitas de pessoas envelhecidas. Guardei a saudade. Expliquei-lhe que não era ainda a altura certa para a libertar do peito. Enrolei-a de forma criteriosa e engoli-a para dentro do meu coração sempre aos saltos.
Os dias têm-me engolido, têm-me retirado o pouco tempo que me dedicava.
Saudades profundas
Das imagens do Artur
Das minhas palavras
Dos meus pensamentos
Dos meus livros que se acumulam cada vez mais
(porque não lhes resisto quando os vejo no escaparate)
Necessidade premente de aprender a conjugar vários verbos em simultâneo!