Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.
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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Manel # [I]

A minha Máquina noutras Mãos
Algarve
Agosto 2010
Um filho é um pedaço de nós. Um ser que se forma através da multiplicação de células onde os ADN's materno e paterno estão presentes, um ser que se forma e que tem nas suas células o seu próprio ADN. O que é um Filho, para além desta conjugação de células, para além do maravilhoso processo de criação de um novo ser? Um Fillho é um projecto de vida, um projecto para toda a vida! Um Filho é uma presença constante em cada um dos minutos, dos segundos da minha vida. Cada um dos meus Filhos tem um lugar próprio dentro de mim, dos meus pensamentos, das minhas preocupações, dos meus desejos (que não têm de ser os deles!). Cada um dos meus Filhos segue o seu percurso nos dias das suas vidas, sem imposições que não as da boa educação, do respeito, das regras, da Família. Cada um deles tem interesses diferentes e formas muito distintas de estar na vida, no mundo, com os outros. São quatro. Quatro pessoas que se formam diariamente, que vivem experiências diferentes, que reagem de forma diferente ao que vivem. Amo-os a todos. Imenso! Tanto que não me imagino sem eles e em tudo os incluo. Porque continuam sempre a fazer parte de mim, como se ainda vivessem dentro de mim apesar dos seus tamanhos...por este amor que sinto ser tão grande por todos, não sinto peso na consciência em confessar o que se segue.
Dos quatro há um que se aproxima brutalmente de mim. O nº 2 na escala de idades, o nº1 no género masculino. Os gostos, as tendências nas áreas de estudo, nas emoções, na forma de lidar com os outros, na sensibilidade. Entendemo-nos bem demais. Somos cúmplices. E ele tem crescido de um modo que me orgulha. Muito. Tem sabido conjugar o que mais gosta na vida - o mar, a praia, o surf, o skimming - com o que lhe pedimos - a escola, os resultados, a responsabilidade, o comportamento. E isso dá-me um prazer enorme. E ele sabe.
Hoje, o trabalho que tem vindo a fazer nas modalidades de que tanto gosta, foi premiado com um convite/pedido de autorização que me foi feito. Fiquei sem ar, com o coração parado, com a garganta seca. O destino é o continente que faz parte do meu sonho mais antigo. É como se ele, de repente, estivesse transformado numa parte de mim. Ainda não consegui falar com ele, mas sei que vai ficar tão louco quanto eu estou!!!
E, aos poucos, os meus Filhos vão conquistando os seus mundos distintos, mas continuam a ser os Meus Filhos, os bocadinhos de mim pelo mundo!

Manel

Daqui
Branco, pureza, paz.
Mas também alegria.
Tenho o coração a bater de felicidade.
Tenho os olhos a brilhar de orgulho.
Tenho as pernas a tremer de ansiedade, da boa.
A felicidade que me inunda neste momento tem a ver com o reconhecimento.
Tem a ver com o sentir profundo de que têm valido a pena os anos dedicados aos meus Filhos.
A todos e a cada um deles.
Tem a ver com o reconhecimento do meu trabalho de Mãe bem feito.
A felicidade está a rebentar comigo. E sei que também vai rebentar com ele!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Jerónimo Só

Daqui
Era assim que estava. sentado num canto escuro. sozinho. enrolando com as mãos pequeninas, de palmas muito brancas e unhas muito rosadas, o cabelo já de si encarapinhado. o olhar escurecido. pela falta da luz. pela falta de alguém. tentei controlar os meus sentimentos. ia avisada para o que ali ia encontrar, mas a realidade é sempre mais chocante que as palavras que nos são ditas. a característica europeia da vida afasta-se anos luz da característica africana da vida. sabia que ia estar cara a cara com crianças que há muito vivem sós, reféns da herança que o vírus HIV lhes deixou nas Famílias que foram desaparecendo. sabia que ia encontrar meninos, que na Europa seriam empurrados em carrinhos de bébé, a viver sozinhos. a sobreviver. sabia tudo isto, mas não sabia o sabor do nó que se formaria na minha garganta e que teria de fazer desaparecer. a minha ida aquele local, aquela pequena aldeia, aquelas habitações tinha o propósito de criar empatias e não compaixões primárias. eu estava ali para que o escuro das casas feitas de terra misturada com água se esbatesse um pouco. estava ali para aprender como viver numa civilização diferente da minha. mas não estava preparada. sentia-o agora. era como se tivesse acordado dum sonho onde todas as crianças eram felizes. de repente acordava e descobria que existem crianças com olhos muito tristes, mais tristes do que deveria ser permitido uma criança ter. baixei-me para entrar na habitação escura. vinda do sol luminoso do hemisfério sul, a escuridão adensava-se. só via, no canto oposto, uns olhos enormes que me fitavam. à minha brancura. às minhas roupas. senti-me desadequada. senti-me excessiva. senti-me uma ofensa. olá Jerónimo. ele não fala português, dizem-me. vou-me aproximando. os olhos sempre fitos em mim, nos meus movimentos, principalmente na mão direita, no pulso carregado de guizos brilhantes, coloridos e sonoros. sento-me à sua frente. percebo a preocupação misturada com a tristeza do olhar. opto por me acocorar, fico numa posição idêntica à dele, frente a frente, como se fossemos o positivo e o negativo de uma foto, a versão a preto e branco, a versão a cores. estendo o braço direito, o que lhe prende a atenção e o olhar. olha-me. desconfiado. quase amedrontado pela proximidade. denotando os efeitos de uma vida curta sem o toque de outrém. não falo. não me mexo. as pernas avisam-me que esta não é uma posição a manter durante muito mais tempo. subrepticiamente balanço o peso do corpo para me manter acocorada. o braço direito estendido na direcção dele, para que se sinta tentado a tocar-me. o braço direito baixa-se. a mão larga o bocado de cabelo que enrolava entre os dedos e avança na direcção dos meus guizos. toca-lhes. fita-me, interrogando com o olhar. mexo ligeiramente o pulso para que os guizos se façam ouvir. quase sorri. repito o movimento do pulso. os olhos soltam-se um pouco mais. permitem-se relaxar um pouco, permitem-se esquecer. a solidão. a tristeza. a doença. a morte. Qu’ manêra qu’ ê bô nôm’?, pergunto-lhe, usando a memória para me recordar de como deveria encetar uma relação de proximidade com aquele menino só. como é o teu nome? sorriu. uns dentes brancos, mais do que brancos, quase fluorescentes na escuridão da cabana. Jerónimo. responde. sorrio. respiro fundo. o gelo está quebrado. afasto lentamente a minha mão direita. enfio-a dentro do saco que tenho pendurado no ombro. tiro um outro pequenino saco. puxo as fitas que o apertam e abro-o. uma pulseira de guizos. um espelho de carteira. uma esferográfica. um papel. disponho-os no chão entre nós. alinhados. Jerónimo estende imediatamente a sua mão esquerda para os guizos. fá-los tilintar. mais e mais. sorri. olha-me e sorri. atrevo-me e mostro-lhe o espelho. viro-o para que veja o seu rosto reflectido. fecha o sorriso. semicerra os olhos. percebo que nunca vira a sua cara antes. decido continuar a espantá-lo. pego na esferográfica e desenho uma casa no papel amarelado. percebe. é a representação do local onde vive. sem deixar de abanar a pulseira de guizos, volta a sorrir. a olhar-se ao espelho. estende-me a mão. sempre a esquerda. dou-lhe a caneta. faz riscos nos papel. um. e outro. e mais outro. de repente, muitos. sai da posição em que estava e avança para mim. tento aguentar a pressão das pernas e não me deixar ir abaixo. percebo que se vai aproximar mesmo muito de mim. não quero desequilibrar-me e assustá-lo. consigo. quando o tenho bem perto, toco-lhe na cara. faço-lhe uma festa. beijo-o na testa. sinto que está criado o laço de que preciso para retirar aquele menino do escuro. da solidão. da morte. durante os próximos meses estarei por aqui, a tentar diminuir infimamente a dor que há muito se lhe instalou no coração. na vida. difícil.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mandela's Family

Foi uma das primeiras notícias que ouvi esta manhã quando liguei o rádio da cozinha.
Fiquei com pele de galinha.
Há pessoas que não conhecemos mas cujas vidas parecem estar ligadas à nossa por esta ou aquela razão.
Mandela.
Um nome. Um simples homem. Um grande Homem. Uma história dentro da História do sec. XXI.
Recordo a libertação e o que na altura escrevi. Em papel, porque não tinha computador.
Pele de Galinha...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O meu coração bate com a força dos tambores. Há terra quente e vermelha a empoeirar-me a visão já antes toldada pelo azul do mar. Há os sorrisos brancos e os olhos castanhos e brilhantes que me afagam. No sonho que tenho, Moçambique é a minha terra, o meu destino, a minha forma de ser. Um dia...

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Eu e os meus Irmãos

É de ficar sem palavras. Esta Grande Reportagem sobre Famílias de Irmãos. Irmãos que ficam sozinhos, sem Pais, que sobrevivem da melhor maneira que sabem. Impossível não sentir a garganta a apertar quando se ouve "é muito difícil não ver a Mãe", principalmente quando se é Mãe, quando se compreende melhor do que ninguém o que deve ser para aqueles meninos viverem sem a presença feminina, sem a presença do afecto maternal. Impossível não sentir assombro perante a organização que eles foram capazes de criar - as casas onde dormem aos pares para não terem medo durante a noite, as cadeiras e as estantes que o mais velho foi capaz de construir e ensinar aos irmãos, os brinquedos feitos de fios e de latas, forrados com papéis de bolachas "para ficarem mais bonitos". Tudo tão simples, tão básico, tão diferente. Nunca viram uma televisão, água canalizada ou luz eléctrica. Gostavam de ter uma bola para jogar. E à pergunta "O que é que vos faz falta?", a resposta inacreditável da aceitação da condição em que existem, da felicidade que encontraram vivendo assim, "Nada, não nos faz falta nada..."

E eu presa naquelas imagens, naquela frase, naquele continente nunca visitado mas tão amado. E eu cheia de lágrimas a rebentar dentro de mim. A deitar os meus Filhos, a aconchegar-lhes a roupa, a pensar simultaneamente na simplicidade e na importância deste meu acto diário. A pensar em todas as crianças sozinhas no Mundo. E mais lágrimas a aparecerem...

Parabéns Cândida Pinto. Parabéns Jorge Pelicano.

sábado, 24 de outubro de 2009

Jorge Pelicano

Jorge Pelicano é um homem por trás da câmera. A câmera que lhe permite mostrar ao Mundo o que os seus olhos veêm, o que o seu coração sente quando capta as imagens. Jorge Pelicano é jovem mas é já um senior em termos de trabalhos premiados. Hoje venceu mais três prémios, em Seia, com um trabalho sobre o abandono a que está votada a linha do Tua. Foi o Jorge Pelicano que nos mostrou como é ainda a vida dos últimos pastores na Serra da Estrela. Para além disto, amanhã, na SIC vai passar uma reportagem sobre os orfãos da SIDA em Moçambique, com a assinatura dele e da Cândida Pinto.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Mia Couto, Jesusalém

Convite trazido da Leya

Soube do lançamento do livro através do blogue da Laurinda Alves. Ficou imediatamente marcado na minha agenda mental. Primeiro por se tratar do Mia Couto, inventor de novas palavras, inventor de novos mundos, moçambicano...a minha nacionalidade do coração. Depois por a apresentação ser feita pela Laurinda Alves, uma pessoa que sigo desde os tempos do trânsito na TSF, que sigo agora de perto, diariamente no blogue.

Fui com os rapazes. Nunca tinha estado numa apresentação de um livro...estava nervosa...sentámo-nos, [graças ao olho vivo do Manel que conseguiu descobrir umas cadeiras livres]...

A apresentação foi iniciada pelo Senhor Caminho, Zeferino Coelho, pela apaixonada de Mia, Laurinda Alves. Seguiram-se as leituras de excertos do livro - Jesusalém - nas vozes de Paulo Pires (voz maravilhosa, encorpada, quase parecia não pertencer aquele corpo!) e Natália Luiza. Durante as leituras viajei...para aquele mundo inventado, sonhado. Quase senti o cheiro da terra que não conheço, quase me senti personagem da história que ainda não li. E emocionei-me. Senti as lágrimas a fugirem dos olhos, pela beleza das palavras, pela capacidade de escrever tão bem.

Mia Couto encerrou a sessão. Falou. Em tom calmo e baixo, íntimo, como se estivesse a falar com cada um dos que ali estava, sozinho, numa sala silenciosa...falou de si e do seu mutismo enquanto criança...falou de si e da sua família deixada para trás...falou de si e da família que foi sendo criada pelas palavras da Mãe...falou de si e das suas famílias inventadas. Sempre calmo, sempre sereno, sempre...

Não fiquei para os autógrafos.
Quis que dentro de mim ficasse a marca. Daquelas vozes. Daquela magia. De África...tão longe e sempre tão dentro de mim...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Tu, e tu, e tu, e tu, e tu...*


Hoje abro o Vekiki com um link para o blogue grafia com "Foto".


A proposta que lá vão encontrar é altamente estimulante, porque ajudar não custa nada, porque o que para cada um de nós é mínimo noutras paragens pode ter o valor do maior tesouro do mundo, porque ser cidadão do Mundo também passa por aí, pela consciência de que globalização não é só termos o Mundo ao alcance dos dedos que batem em teclas!

'Bora lá visitar o blogue do Sávio e ajudar São Tomé!

"* A convocatória, ou em como este blogue não é só palhaçada"

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sapatos para Eventos de Verão


Sapatos comprados no desfile de apresentação
da colecção de calçado Verão/2009 do Blogobairro

É conhecida a minha "costela" africana. Orgulho-me dela e faço questão de a alimentar, alimentando o sonho de um dia pisar terras moçambicanas.

A Si, uma vizinha sempre atenta, organizou um grandioso desfile de calçado de Verão no Blogobairro e deu a este modelo o nome Sapatos VeKIKI. Claro está que me apressei a trazê-los para casa na sua bela caixinha e serão os primeiros a sair no próximo evento social! Carreguem as máquinas fotográficas e preparem-se para me ver sair em cima das patas elegantes da girafa africana.

Obrigada Si :)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Cores de Amizade


Eu e a minha Máquina,
a Capulana que a GB me trouxe de Moçambique

Ela foi ao lado de baixo do Mundo. As minhas encomendas eram fáceis. Uma capulana e areia de uma praia de lá, documentadas por tantas fotografias quantas fosse possível tirar. Veio tudo! A capulana de cores a condizer com o louro do cabelo (segundo ela, GB), uma garrafa de plástico cheia de areia e muitas fotografias.

Nas fotografias adivinho um país feito de gente boa. De pessoas que não vivendo nas condições perfeitas para qualquer um de nós, ocidental e europeu, continua a sorrir. Adivinho um país onde gostava de estar.

GB, obrigada! A capulana já faz parte dos essenciais na mochila de verão. A areia aguarda um recipiente digno para se juntar à exposição de conchas e pedras que povoam os meus móveis.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Notícias de Lá


"Amiga, estamos...bem...isto é maravilhoso! Se ganhar o euromilhões, vimos todos. Beijos grandes.", é este o texto do sms que acabei de receber. Porque será que não me admiro? Porque será que parece que sinto o mar, o calor, o cheiro, a terra, tudo a chamar por mim? Eu também tenho de ir...um dia. Obrigada G.!

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