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A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.
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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Farol


"Sinto que tens tanta gente que gosta de ti."

O que mais gosto de sentir.
Quando chegas.
O cheiro do mar que te cobre a pele, o cabelo e os olhos.
O sal acumulado nas pestanas que te enfeitam o olhar.
Há nas tuas palavras o balanço das ondas agitadas da invernia,
a maresia que perfuma o ar de final de dia.
Quando chegas trazes o abraço contigo
e nele vêm as tiras de algas verdes e castanhas,
[aquelas que têm bolinhas que gosto de rebentar e ouvir estalar]
e os grãos de areia dourada que se te colam à pele.
Deixo-me ficar lá
nesse abraço que não quero que termine
nesse balanço que me segura.
Gosto que fales
baixinho, sussurrado,
que me digas as saudades
e os beijos que quiseste dar
Quando chegas,
tenho a certeza de que o tempo vai parar
e, ao longe,
do farol,
a luz vai vir iluminar
o teu corpo no meu a brilhar.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Companheiras de Quarta Feira [Comungar]


Daqui
Nesta mesa de jardim encontram-se uma vez por semana. No meio da semana. A quarta feira em que dão folga a si próprias. Esquecem compromissos familiares e domésticos. Comportam-se como se voltassem à adolescência da liberdade, dos não compromissos, da escapadela ao Liceu, da omissão de como tinha sido o dia. Ela primeiro. Ela depois. Chegam por entradas distintas do jardim. Uma vem de perto, Lisboa é a sua casa. Outra vem de mais longe, dos arredores ensolarados onde o mar é vizinho, companheiro e confessor. A que chega primeiro. Irrepreensivelmente vestida, penteada, maquilhada. Pousa a mala na cadeira do seu lado direito. Abre-a. Tira os óculos e um livro. Geralmente um livro fininho. Poesia ou ensaio. Senta-se. Respira fundo, olha em redor, como se absorvesse cada pormenor de uma paisagem que já deve saber de cor, mas na qual descobre um novo elemento todos os dias. Põe os óculos. Inicia a leitura. Lê devagar. Absorve cada palavra lida, pensa-a, estuda-a, procura a origem. Volta não volta sublinha frases, toma notas de lado. A que chega depois. Estudadamente despenteada. Afogueada da corrida que caracteriza o seu passo. Devagar é palavra para a qual ainda não descobriu o significado. Passa a vida a correr e se não correr, não vive. Roupa prática, sapatos práticos, telemóvel na algibeira das calças, moleskine pequeno noutra algibeira, carteira enfiada num outro qualquer bolso do blusão. Sorri. A primeira admira-lhe o sorriso. Quase o inveja por ser tão espontâneo, tão característico. Passa a semana inteira presa à energia que este sorriso semanal lhe devolve. A segunda senta-se. De imediato inicia um qualquer tema de conversa. Tem sempre assunto, tem sempre vontade de contar seja o que fôr, mesmo que à partida pareça pouco interessante. Nada, nas suas palavras é pouco interessante. O empregado vem recolher o pedido. Não precisava de o fazer. Desde que as duas fixaram a quarta feira como o dia da fuga, o jardim é sempre o mesmo, o pedido é sempre o mesmo. Um chá preto. Duas chávenas. Por vezes dois queques, por vezes nada mais além do chá. A conversa flui. A segunda fala dos alunos que tem este ano. Admira-os. Empenhados, trabalhadores e conscientes de que têm de dar tudo por tudo. Conta peripécias de sala de aula, fofoquices de sala de professores. Imita este e aquele. Falas e trejeitos. A primeira ri. Observa-a com carinho, desejosa de absorver tanta energia positiva, tanta vontade de seguir em frente, sempre. A primeira fala do seu projecto de escrita que avança mais devagar do que gostaria. Está presa num detalhe da história, não o consegue ultrapassar, não sabe que rumo há-de dar a uma das personagens. E depois o marido e os filhos que não lhe dão tréguas. Há sempre tanto para organizar, para assegurar, para manter. Sente-se pronta a desistir. Ataca-a a segunda. Que nem pense nessa hipótese. O projecto de escrita é o teu projecto. E a primeira sente-se confortada, sabe que ali, às quartas feiras, há alguém sempre pronto a ouvi-la, a estimular-lhe os sentidos que tantas vezes andam adormecidos. Estica o braço por cima da mesa. Toca na mão da segunda, devagar, a medo que ela não gosta de toques. O contacto físico nem sempre lhe é agradável. Obrigada por teres inventado ser minha amiga, mesmo que só às quartas-feiras. Foge a mão da segunda, mas não lhe fogem os olhos. O castanho que, de um lado da mesa, se fixa no verde do outro lado da mesa. O despenteado, louco, falador, intempestivo, que se reflecte no aprumado, sensato, calmo, silencioso. Duas faces que se miram como se se mirassem num espelho que lhes devolve a imagem do que gostariam de ser. A primeira, a segunda; a segunda, a primeira. Comungam gostos, dias. Tudo o resto as distingue, as afasta, as empurra para caminhos opostos. Fazem da quarta-feira, do chá, da mesa de jardim e da vista do miradouro o ponto que as une e no qual se sentem confortáveis. Por horas. Comungam. E gostam de estar ali.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Depois de um Fim de Semana, Antes de um Feriado


Eu e a minha Máquina,
Almoçageme,
Outubro 2010

Hoje estou entupida. Não me saem palavras.

Foi um fim de semana diferente, este primeiro fim de semana de Outubro. A resposta a um desafio revelou-se uma excelente experiência. Pessoas novas para conhecer, para conversar, para trocar experiências. Diz-se que a mesa é um local privilegiado para nos conhecermos uns aos outros, mais uma vez confirmei esta verdade. Numa perspectiva de fornecedora e não de comensal, observei em cada um dos que ali chegavam para ser servidos que a mesa, e o que nela se expõe e como se expõe, é um ponto de encontro. Trocam-se palavras banais mas também se encetam conversas mais conteúdo.

No final de cada dia senti-me estourada mas muito contente.

terça-feira, 11 de maio de 2010

FUSÃO [inversamente proporcional]


I. Ela entrou. Virou-se para o espelho. Tirou os óculos escuros, passou a mão pela zona das olheiras que lhe cavavam fundo os olhos tristes. Desistiu e voltou a pôr os óculos escuros. Melhor assim, para que ninguém testemunhasse o que na alma se passava. Carregou no botão. O elevador estremeceu ligeiramente e iniciou a subida. As portas de grade, de lagarta, sucediam-se e entremeavam-se com pedaços de parede onde, pintado a preto, um número ia identificando andares. Subia o elevador e no estômago apertava-se cada vez mais o nó. Não sabia o que ia encontrar quando o elevador parasse. Talvez nem conseguisse abrir a porta de lagarta, enferrujada, chiante. Talvez se limitasse a abri-la ligeiramente e voltasse a fechá-la para poder carregar no botão que a devolveria ao piso térreo e à rua. Talvez até desmaiasse ali. No chão do elevador de 1 metro por 1 metro, com uma porta de lagarta, um espelho testemunha de olheiras e um painel antiquado de botões a marcar os andares, sete.
II. Ele entrou. Virou-se para o espelho, à direita. Passou os dedos pelo cabelo encaracolado, curto e bem aparado. De seguida rodou a cara ligeiramente para a direita e para a esquerda, observando a barba. Olhou-se a si mesmo nos olhos. Fundo, tentando perceber o que ele mesmo não percebia quando pensava nela. Porque razão a perdera. Porque razão a deixara tão só ao ponto de a perder. Retomava palavras, gestos e silêncios, procurando o ponto em que os silêncios se haviam tornado incómodos, pesados, silenciosos e gritantemente reveladores da dor que no peito dela se instalara. Via-a ir, dia após dia, não conseguindo puxá-la para si, abraçá-la, amá-la, como fizera no princípio de tudo. Incomoda-o esta dor. Pensa nela sempre calada e não percebe o silêncio. Convence-se de que existe algo escondido por trás deste silêncio em que se mergulhou, que se impôs a si mesma e a ele. Ainda a deseja. Na realidade desconhece se o que sente é desejo ou apenas o sentimento de querer mostrar uma atracção que se deixou afogar nos silêncios sucessivos dos dias. A introspecção não é o seu forte. Prefere não pensar, prefere continuar na ilusão de que o silêncio se vai desmoronar um dia destes e ela vai voltar a rir ruidosamente, vai voltar a falar até perder o fôlego e ele vai voltar a apaixonar-se por ela.
III. Tal como iniciara a subida também soluçante foi a pausa do elevador. O nó no estômago estava agora a subir, a garganta doía-lhe, apertada pela força com que continha lágrimas que não queria soltar. Voltou a tirar os óculos escuros. Olhou-se a si mesma nos olhos. Fundo, para se dizer a si mesma que a decisão tomada era a decisão irreversível que poria fim a um capítulo de vida. Compôs o cabelo com as mãos. Achava-o horrível. A seguir a tudo isto terminar iria mudar também a forma como se mostrava aos outros. “Estás tão magrinha, está tudo bem contigo?” tinha-lhe dito alguém que com ela se cruzara na véspera. Que sim, que estava tudo bem…mas os olhos que sempre a traíam insistiam em dizer ao mundo que nada estava bem. Tudo iria ficar bem. Sabia que ele a tentaria demover desta decisão, que lhe diria que a culpa era dela, que ela é que estava estranha, que ela é que o afastava. Sabia que tinha de encontrar dentro de si própria uma força que talvez não conseguisse encontrar. Talvez até não conseguisse evitar as lágrimas. Isso é que a irritava!
IV. Será que ela desistiu? Será que não vem?
V. Será que consegue?
VI. Passa after-shave na cara, um pouco de creme nas mãos. Conserta o colarinho da camisa e sai da casa de banho. Dirige-se à porta de entrada, no extremo oposto do corredor. Enquanto anda, as tábuas de soalho rangem-lhe debaixo dos pés. Quase o incomodam. Vai de cabeça baixa. Quer encostar-se à porta e esperar o barulho do elevador a soluçar quando parar no seu destino. O sete.. Senta-se, no chão, de costas para a pesada porta de carvalho castanho escuro. Encostado à porta. A cabeça apertada entre as mãos. Espera.
VII. Conserta a écharpe que lhe compõe o decote demasiado aberto para a temperatura que teima em não subir e sai do elevador. Corre delicadamente, quase com amor, as lagartas enferrujadas da porta. A luz da clarabóia de vidro é esparsa. Um arrepio de frio fá-la encolher os ombros. Por momentos pensa nele. No abraço que já não existe espontâneo e carinhoso. Sacode o cabelo e vira à esquerda. Os saltos ecoam na lage do chão. Chega à porta. Pesada, de carvalho castanho escuro. Chega à porta. Pesada, de carvalho castanho escuro. E às narinas chega-lhe o odor do after-shave tão familiar. Tremem-lhe as pernas. Sente-se soçobrar à dor que tem vindo a conter.Não consegue conter a dor que lhe invade o peito, que lhe faz rebentar a cabeça, que lhe retira a visão. Encosta-se à porta e por ela se deixa deslizar até ficar sentada no chão.A cabeça apertada entre as mãos. Espera.


Fica escuro. Tudo escuro. Tudo acaba…
Porque o silêncio não é de ouro. O silêncio, mata!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Farol


farol (fa-rol)

s. m.

Torre elevada que possui no seu cimo poderoso facho de luz que serve para orientação dos navios e aviões durante a noite.
Marinha Conjunto das velas de um mastro: o farol do artimão.
Projetor de luz colocado na frente de um veículo: o farol do automóvel.
Fig. Aquele que esclarece, que guia.
Gír. Ostentação, falsa aparência com que se procura embair os outros.
Fam. Anel com brilhante excessivamente grande.

Disseram que eu sou um Farol.
Vou reflectir.
Tenho de escrever sobre esta palavra...

sexta-feira, 19 de março de 2010

[Des]Focamento vs Ubiquidade


Chamo-me um nome que alguém me pôs, décadas atrás, sem pensar no seu significado, sem pensar no peso que me transmitiria ao longo dos anos. Tenho décadas de vida sem saber muito bem quantas. É sempre assim. Sempre que tento lembrar-me de alguma coisa importante no momento a minha cabeça atraiçoa-me e não me leva lá. Depois, de repente, traz-me a recordação pedida quando eu já nem sei onde a colocar. Não reconheço esta casa onde estou. É branca e luminosa, chão de tábuas longas de madeira encerada. Há tanta luz que por vezes preciso de fechar os olhos para a conseguir atenuar. Não fico de olhos fechados por muito tempo. Tenho medo da morte. Que ela me esteja a vigiar, à espreita, à espera de me ver definitivamente esquecida de mim. Penso que quando isso acontecer, ela virá para me levar. De que serve alguém cuja memória não funciona, cujo cérebro não consegue relacionar dois dias, duas palavras, dois sentimentos? Não, não quero estar consciente quando esse estado de inconsciência se instalar. Que incongruente é o meu pensamento. Estava a falar da casa, não era? Há sempre música. Uma música de fundo que toca baixinho. Reconheço o som do piano e do violoncelo. Há alturas em que só o violoncelo se ouve. Nessas alturas páro. Toda eu estremeço, sustenho a respiração, concentro-me. Porque aquele som é o meu som, sou eu se eu fosse um instrumento. A grandiosidade, a sensualidade das formas dadas à madeira, a robustez das cordas, a sensibilidade do som. Indubitavelmente, eu sou[som] um violoncelo. A minha cabeça, sempre a minha cabeça. Sempre pensei muito e muito rápido. Era frequente conseguir fazer mais do que uma coisa ao mesmo tempo, correr daqui para ali sem nunca perder o norte, a compustura, o objectivo que tinha em mente. Subitamente, a minha ubiquidade foi enfraquecendo. Se fazia uma coisa não conseguia saltar rapidamente para outra, se me concentrava num pensamento, numa frase, numa imagem, não conseguia saltar para outra sem que a primeira continuasse a ocupar-me toda a capacidade reflexiva. Pode ser que esta casa seja minha. Consigo reconhecer a minha personalidade em determinados objectos, em determinadas cores, na luminosidade que sempre me atraíu e agora me fere os olhos, mas em mim repousa a sensação estranha de que vivo num lugar emprestado, onde me movimento com a certeza dos passos de proprietária, mas com a alma desfocada de hóspede em lugar estranho. E as vozes? De quem são as vozes que ressoam todo o dia na minha cabeça? Pedaços de mim também desfocados ou verdadeiras pessoas que aqui vivem comigo? A minha solidão é tão grande que é impossível que aqui viva alguém. Não, de certeza que as vozes que ouço são réstias da minha consciência desaparecida. Simulo uma normalidade que não sinto. Encaixo-me no que é socialmente aceite como normal e luto comigo mesma por não me sentir adaptada a essa normalidade.
A luz já deve ter diminuído, os meus olhos já se podem abrir.
Rodo o corpo. Levanto a cabeça da almofada e abro os olhos.
Mais uma vez. Um sonho. Um pesadelo. Uma alucinação.
Mais uma vez. Eu a provar a mim que a ubiquidade continua a existir. Eu sou várias e estou em diversos tempos simultaneamente
Mais uma vez. Eu vivo. Desfocada no lado ubíquo de mim.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Azul

Eu e a minha Máquina,
Jardins da Parede
Maio 2007

Azul, n.m. 1. cor do arco-íris semelhante à do céu sem nuvens; 2. qualquer gradação desta cor; 3. [fig] o céu

O espanto não foi genuíno quando me falaste no azul como sendo a tua cor preferida. Digamos que eu poderia ter chegado lá sem grande esforço. O azul tem implícita em si a ideia de limpeza, de pureza, quase frieza, tal como o branco. Pareceu-me quase evidente que seriam estas as características que gostarias de te associar. Não porque fossem estas as que melhor te definiriam, mas sim porque seriam estas as que te defenderiam. Já te disse. Sou bom leitor de pessoas, de emoções, de sentimentos. Nada em ti é azul. Tudo em ti tem o vermelho da paixão, o escuro negro da tristeza adormecida. Há, no meio das tuas palavras sempre prontas e animadas, um mistério do sentido não transmitido que por vezes me incomoda, me desassossega. Porque me abro eu para ti, deixando-me exposto em todas as minhas fraquezas e dúvidas, se nunca deslindo o que a tua capa azul de pureza e transparência oculta? Serás verdadeiramente minha? Poderás algum dia pertencer-me por inteiro? Sei-o bem. Há entre nós o pacto silencioso do sentimento confortável. Jamais poderei chegar ao teu vermelho. O negro foi-me aberto numa réstia. E eu continuo. A acreditar que um dia me abraçarás com a mesma vontade com que eu desejo o teu abraço.

terça-feira, 16 de março de 2010

Projecto Novo, Dia Zero


Na minha vida sempre houve livros. Não o digo por fanfarronice ou por tentar ser melhor do que outras pessoas, mas apenas porque é a realidade. Cresci numa casa em que os espaços para os livros estavam constantemente a ser criados e recriados. Deste crescimento rodeado de páginas e letras vem o sentimento especial que tenho por cada um dos volumes que compro, que me oferecem. São pessoas que estão representadas por aquele monte de palavras concentradas.

A livraria com que sonho...não sei se irá surgir em algum momento da minha vida futura. Gostaria de pensar que sim. Para já, iniciarei hoje um projecto (não remunerado) relacionado com os livros. Mais uma vez, em espaço escolar. Sei que será um projecto de onde retirarei imenso prazer, ou não implicasse ele livros, as minhas palavras e a informática. Procurarei estabelecer parcerias com os contactos interessantes que tenho acumulado desde que iniciei o blogue e espero obter resultados de excelência.

Estou entusiasmada com este novo desafio!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Tempestade [II]


Fotografia gentilmente cedida pelo

E vou descendo. Os meus pés sentem o corpo deslizar sobre a calçada portuguesa molhada, escorregadia, quase untuosa. Dou por mim de frente para o rio. Imensa massa de água que nos dá a cidade da luz molhada. Indiferente a quem passa, a quem me olha, a quem me julga, sento-me no chão. Indiferente às marcas que vou inscrever no casaco demasiado caro que uso por cima de toda a outra roupa demasiado cara com que me visto e revisto todas as manhãs, todos os dias, todos os meses, todos os anos. Que pouco sentido tem tudo isto para mim. Diz-me. Que interesse pode ter para mim se me sujo ou não se não consigo desviar o pensamento de ti, mesmo sabendo que esse é um pensamento que tenho de deixar de pensar.

A ponte. O Tejo. O barulho dos carros que passam no tabuleiro, conduzidos por pessoas indiferentes, apressadas, abstraídas, concentradas ou apenas em gestos automáticos. Não há barcos. Mais um aviso amarelo, ou laranja, não sei. Só sei que este Inverno tem sido fértil nestes avisos que tiram os barcos do mar, os pescadores do seu ganha-pão, os amantes de desportos aquáticos dos seus momentos de lazer.

E voltas tu. Trazes o cabelo preso. Sabes que gosto quando o prendes desalinhadamente com os lápis de carvão com que gostas de escrever. Sabes que adoro quando o soltas e abanas a cabeça para que fique naturalmente despenteado, selvagem, sem risco, sem sinal de ter sido primorosamente escovado. E tu furiosa com a humidade que o encaracola. E eu feliz por o poder enrolar nos dedos.  Estou sentado à beira rio. Acredita, não foi conscientemente que te enviei aquele sms. Precisava de saber que algo te faria lembrar de mim. Sei que não posso fazê-lo. Já mo pediste. Já mo explicaste. Mas também não te posso escrever. Pediste que não o fizesse. Estou resumido à relação profissional. Nós e os livros. Os dos outros. Histórias de amores que terminam sempre bem. Estórias de relações como a nossa. Urbanas, paranóicas, desprovidas de qualquer racionalidade, prenhas de sensualidade e desejo. Como nos deixámos ir nesta loucura? Estaremos loucos ou simplesmente conscientes da precaridade da vida, da efemeridade dos dias? Precisaremos de sentir a adrenalina do proibido ou apenas oferecer-nos a paixão que as nossas vidas "normais", rotineiras e socialmente aceites já não conhecem? Não, não podemos continuar. Sei que te deixo desalinhada quando inscrevo o meu nome no teu telefone, na algibeira esquerda do teu casaco ou dos teus jeans, mas o que queres? Preciso de saber que não me esqueces. Não quero que me esqueças.

O céu continua carregado. Há uma bruma a envolver a ponte e o rio. Não vejo a outra margem. Vejo-te a ti. Chegas, encharcada. Olhas-me nos olhos. Sorris. As mãos no meu rosto, no meu pescoço, no meu cabelo. E o beijo. E o teu corpo encostado ao meu. Abraço-te. Inspiro-te. O teu cheiro. Não digas nada, pedes. Abraça-me forte e deixa-me ficar aqui. Contigo.

O Meu Blogue É Mágico

Quem considerou existir magia no meu blogue não fui eu mesma. Seria demasiada falta de humildade e muita vaidade da minha parte. Foi o Gato Verde que o classificou como mágico e me desafiou a espalhar magia por mais dez blogues de entre todos os que procuro ler todas as manhãs (pelo menos!).

As regras consistem em completar a frase Magia é..., publicar o selo do desafio e oferecer tudo, num bonito embrulho (leia-se comentário deixado em espaço próprio), a outros dez blogers (Blog dos Cinco,  Verde Água, Dias de uma Princesa, Escrito a Quente, Xanax, Oxigénio, Em Estado Puro, Um Homem na Cidade,  Há Vida em Marta, Paixão Fotográfica, Cócó na Fralda) e seus espaços mágicos. Sei que nem todos irão publicar o selo e passar o desafio, mas sei que todos vão ficar felizes por, para mim, as suas publicações serem mágicas!

Ora vamos lá...
Magia é a Vida; quando nos cruzamos com pessoas a quem descobrimos afinidades, quando conseguimos alcançar a paz interior que nos permite saborear todos os momentos que queremos não perder; ter a capacidade, aparentemente básica, de ler e compreender e deslindar palavras escritas por outros e que nos tocam e nos fazem pensar e nos fazem crescer e nos fazem ser melhores.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Auto Retrato da Blogger

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E partindo desta amálgama de palavras-chave utilizadas no blogue e respectivo número de utilizações, digam de mim o que quiserem. Eu não me importo e até gosto. Afinal de contas, é sexta feira, está sol, a Primavera é capaz de estar para chegar e eu gosto que falem sobre mim!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

De [re]Viver

Dia 1.
Quando descobri o distanciamento

Uma vida inteira assim. Os mesmos gestos, as mesmas rotinas, as conversas de ocasião. É possível viver assim. Em silêncio, porque os silêncios, como muros, se foram erguendo entre nós, emparedando janelas que mantinhamos abertas e que agora não somos capazes de reabrir. Quando ainda as conseguíamos abrir, faziamo-lo para que o ar que respiravamos fosse o mesmo. Agora, desejamo-las fechadas mas não o dizemos alto. Preferimos que o distanciamento não se diga, porque é essa a função da palavra. Pôr a pairar no ar aquilo que se sente, tonando-o visível, demonstrável, público, e nós não queremos que o nosso distanciamento se exponha aos olhos, ao entendimento de todos. Como sobreviveríamos se o fizessemos? Como poderíamos desculpar-nos por termos deixado o silêncio instalar-se entre nós? Matar-nos. Num momento iríamos soltar palavras de culpa que, vestidas de espadas afiadas e desembainhadas num segundo, cortariam os poucos fios que conseguem ainda unir-nos. Ténues. Quase invisíveis. Quase tão finos quanto os que a aranha tece para a sua teia. Os nossos olhos, desabituados de mergulhar nos do outro, chorariam lágrimas de infelicidade, de fim, ou apenas da frustração que se eleva do facto de não termos sabido manter-nos unos. Cá dentro, as emoções formariam turbilhões de dor, retorcendo entranhas, provocando vómitos e desmaios. E nós. Despidos da dualidade que queríamos manter sentir-nos-iamos amputados e perdidos. Sim, é possível viver uma vida inteira assim. Alojados num conforto aparente, desalojados dos afectos. Mas será esse o meu caminho?

Dia 2.
Antes de...[Quando descobri o distanciamento]

Vejo-te chegar. Sorrio. Reconheço-te na juventude vigorosa, no sorriso sempre aberto, na vontade indomável de fazer coisas, de ir. Rendo-me ao teu interesse por mim, às tuas atenções, sempre constantes e presentes nos mais pequenos gestos, nos dias mais banais. Entrego-me [-te] de forma consciente e calma, distante da entrega da paixão que queima corpos, seca bocas, faz doer. Dizes que me amas. Repeto-lo e acredito, sorrindo. Entrego-me [-te] sem a fremência do desejo e alcanço a paz. Estou segura, protegida pela certeza das tuas decisões, pelo conforto do teus braços. Tornamo-nos Um e caminhamos a par...

Dia 3.
Quando descobri o distanciamento

Sinto a paixão a queimar-me, a invadir-me, a devorar-me. Não te aproximes de mim. Nas tuas mãos, nas tuas certezas fui secando. Tal como as folhas que se soltam das árvores em tardes invernosas de ventania, também eu me soltei dos teus ramos, mas enquanto as folhas morrem sem a seiva que corre nas árvores, eu renasço ao soltar-me. A minha seiva renova-se, circula e faz-me acordar. A paixão acorda-me para a verdade que há tanto tempo escondo a mim própria. De repente percebo que a vida em mim existe. De repente a paixão toma conta de mim, põe-me um nó na barriga e desalinha-me a vida. Faz-me cantar, sorrir e amar perdidamente. E quando amainar deixa a sensação de que a vida está ali, ao meu alcance, que da próxima vez que me invada, será para ser vivida, "no matter what". O distanciamento. Mata. E eu quero viver.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

PARABÉNS !!!


Foi ontem. Ela estava tão nervosa...eu sabia que sem razão, mas faz parte destas ocasiões sentir a barriga apertada e a garganta a não corresponder à necessidade de produzir som. Enviou-me um sms já passava das nove da noite. Contente. Muito contente. A partilhar comigo a alegria de já ter direito ao seu canudo! E eu fiquei Feliz! Por ela, pela força que teve durante estes anos em que trabalhou de dia e estudou de noite, se privou de ler em português e inglês para apenas se dedicar aos livros que o curso a obrigava a ler. Agora acredito que vai conseguir atingir o sonho seguinte, abrir um estaminé dela onde partilhe com muitos, ao vivo, as delícias que faz nos seus tachos e tachinhos em cima de um fogão, a gás ou a lenha!


P A R A B É N S, minha Querida Amiga :-)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Taras&Manias


"Cada bloguista participante tem de enunciar 5 manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher 5 outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do recrutamento. Cada participante deve reproduzir este regulamento no seu blogue."

O que é que eu acabei de dizer no post anterior? Este blogue está mesmo em Silly Season...até já aceita desafios para fazer mais um postzinho...O Ogre deixou-me este desafio/aviso na caixa de comentários e aqui estou eu. A pedir ajuda às minhas crianças porque não consigo lembrar-me de 5 manias/hábitos pessoais...

1º NUNCA sair de casa com as camas por fazer. Mania herdada da minha Avó Materna que dizia que sabemos como saímos, mas não sabemos como entramos e se entramos...

2º GORDURA. Trauma que me acompanha desde sempre. Passo a vida a pesar-me, a proibir-me de comer isto ou beber aquilo e mesmo assim, acho SEMPRE que estou GORDA...

3º SOUTIENS&CUECAS sempre iguais. Nem pensar em vestir cuecas brancas. Nem pensar em ter um soutien de uma cor e umas cuecas de outra! NUNCA!!!!...

4º ESTALAR A LÍNGUA quando estou chateada...(esta foi o Manel que disse e tenho que corrigir. É horrível!)

5º ACHAR, SEMPRE, QUE NÃO SOU SUFICIENTEMENTE BOA ou que não faço as coisas bem feitas (algumas coisas). É irritante até para mim...

Bem...e agora que já sabem mais coisas sobre mim, desafio-vos:

Asinhas de Frango, Escrito a Quente, Verde Água, AnjoDemónio, Em Estado Puro,

a confessarem as vossas manias!!!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Dúzia de Palavras

Estou a tentar. Como te prometi. Tenho o caderninho de capa castanha à minha frente. A tua letra, grande e bem desenhada. Decidida. Todas as tuas palavras alinhadas, numeradas, numa ordem que eu deveria perceber. Tenho a certeza que quando pensaste nestas palavras que me ofereceste, pensaste em resultados que iriam surgir. Mas como fazer para que façam sentido num mesmo texto? Sim, tens razão. Não tenho pensado o suficiente nelas. Tenho-as transportado comigo, todos os dias, com o carinho com que se transporta algo muito querido, mas não tenho pensado nelas. Por onde andam os meus pensamentos? Há um distanciamento enorme entre o meu eu criativo e o meu eu real. Cada um puxa para seu lado a pessoa em que habitam. E as tuas palavras? Acho que aquela fusão cósmica que existe entre nós fez com que tu soubesses que este presente de aniversário me daria um imenso prazer. Eu gosto dos teus desafios e os textos mais bonitos que por aqui passaram foram resultado de desafios teus, de revisões tuas. Às vezes gostava que as nossas vidas não fossem tão distantes. Vês? Lá estou eu a pedir mais do que tenho. Tenho o meu caderninho castanho com a tua letra grande e bem desenhada. Sempre comigo. Um pedaço de ti a comungar dos meus dias, a tornar ubíqua a tua presença.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Eu ... Já ... Nunca ... Sei ... Sonho # [1]



Em Estado Puro vi o meu nome no final de um post sobre revelações. Fiquei a olhar para as quatro letras que me dizem. Como revelar mais de mim num blogue onde já tanto é revelado? Às vezes até penso que todos os que me leêm já me conhecem melhor do que eu consigo conhecer-me a mim, mas decidi que não viraria costas ao desafio e que conseguiria descobrir mais revelações sobre mim.
Eu já pensei adptar uma criança.
Eu nunca passei férias sem os meus Filhos.
Eu sei o quanto custa perder pessoas de quem gostamos.
Eu quero conseguir, um dia, ir a Moçambique.
E a Nova Iorque. E a LA. E a Barcelona.
Eu sonho com quase nada, mas gostava de
me ver publicada, em papel.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Eu...Já... Nunca ...Sei ...Sonho...

Eu sonho com um futuro feliz. Para mim e para os cá de casa. Uma casa ainda mais cheia. Crianças e mais crianças. Tempo de mais qualidade para lhes dar tempo. Um refúgio de paredes brancas com barras azuis, no Alentejo.

Eu sei
que nem sempre transmito a felicidade que devia. Não há razão palpável para que eu não ria sempre, não gargalhe.

Eu nunca
fiz algo que me envergonhe ou de que me arrependa. Cada momento da minha vida faz parte de mim, da minha história, da minha passagem. Tudo o que fiz foi feito com a consciência plena. Quanto ao futuro, não digo Nunca.

Eu já
vi as minhas palavras impressas em papel de jornal e de revista. E gostei :-)

Este post é escrito a partir disto.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ensaio # [4]


O Amor devia ser assim. Imenso, avassalador. O bichinho que se forma na barriga quando se dão os primeiros encontros, os primeiros toques, as primeiras carícias, devia instalar-se para sempre. Fazer de cada um dos apaixonados um ser ubíquo, capaz de adivinhar o mais pequeno desejo, o mais íntimo pensamento. A cada distanciamento corresponderia uma tempestade incontrolável de sentimentos. Nunca os maus sentimentos do ciúme ou da desconfiança. Sempre os bons sentimentos. A fusão de corpos e almas. O comungar de ideias e vontades. A fraqueza do Amor está na perda lenta da paixão. Deixa-se ir nos pequenos nadas dos dias que passam e perde o brilho, a luz, como se de um farol abandonado se tratasse. Apetece sair. Sair e voltar a entrar. Começar o jogo do início. Olhar a imensidão do céu e desenhar nela os contornos de um recomeço. No espaço infinito do céu, o azul reflectido no mar, desenhar com os fios brancos das nuves os contornos de uma nova história de amor a acontecer.

PS - Nada erudito, um pouco a atirar para o piroso, está este mini-texto...

Perfeitinha? Eu?!

Pois, parece que sim! Aos olhos do Mr. Me, parece que eu mereço este selo. Não eu, porque ele não me conhece pessoalmente, mas sim o meu diário virtual a quem ele chama, simpaticamente, espaço literário...

Confesso que não gosto muito de aceitar desafios deste género, mas gosto de aceitar os selos que vou adicionando ao flick que está lá no fundo da página. Assim sendo, também não vou passar "ao outro e não ao mesmo". Digo-vos apenas que vão até ao blogue do Mr. Me e vejam as regras do jogo. Se vos apetecer, peguem nelas e respondam às perguntas. A seguir, peguem no selo e colem-no nos vossos espaços virtuais.

Está bem assim?
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