
- Não, não sabia...mas mesmo que soubesse viria de carro.
- Mas porquê?
- É que tenho 18 anos, acabei de tirar a carta e é normal que queira andar de carro para todo o lado, não é?
Não, não é normal !!!
Impossível passar ao lado de tanta emoção. Inexplicável a emoção que me dominou ontem. [Desde manhã que acompanhei a emissão da SICNotícias que foi, por seu lado, acompanhando o que ia acontecendo em Washington.] Incrível, ver e ouvir pessoas das mais diversas origens, dizerem como estavam emocionadas por poderem fazer parte da História da América naquele dia. Impensável, há 45 anos atrás, para um negro, entrar num restaurante do centro da cidade de Washington DC. Imensa a emoção de ver um negro chegar à Presidência dos EUA, a maior potência mundial.
Depois, emocionante ver a quantidade de pessoas que se juntaram para presenciar O momento histórico. Emocionante ver a festa que foi feita, lá longe, na cidade natal do Pai do Presidente eleito. Emocionante a actuação de Aretha Franklin (já débil mas emocionada). Emocionante o juramento (o ar confiante mas os nervos a traírem o turbilhão de emoções que lá por dentro deviam estar a acontecer). Emocionante o olhar orgulhoso e terno de Michelle Obama. Emocionante o barulho, a cadência dos aplausos.
Gravei tudo. Não sou Americana, mas sinto-me uma parte deste momento que quero preservar para mim e para os meus Filhos (quando, mais tarde, conseguirem compreender a dimensão do que aconteceu ontem). Não sou Americana, mas sinto que há qualquer coisa de especial naquele novo Presidente. Não sou Americana, mas entendo e acredito que nunca, nunca em qualquer situação, um negro seria eleito Presidente de um qualquer país Europeu. Não sou Americana nem pró-América, mas acredito que a mudança vai ser uma realidade!
E este é o meu Day After...
Eu gosto de mudança. Mudar faz-me entusiasmar, pensar no que vou encontrar de novo quando atingir o objectivo.
Eu gosto de visitar casas que estão à venda. Apesar de não conseguir ter uma noção muito boa de espaços e de projectar o depois, visitar casas é engraçado. Ver acabamentos, ver cozinhas, ver janelas e varandas.
No fundo, sou um bocadinho como o caracol. Gosto de andar de casa às costas!
Durante 20 anos de casamento, já habitei seis casas (se contar com esta onde vivo agora). Comecei por uma pequenina casa, último andar de uma moradia, tectos esconços, a casa onde passava férias de Verão com os meus Pais e Irmãos. A Família foi crescendo e as necessidades de espaço também.
Entre casa própria e casa alugada enquanto decorriam obras na casa seguinte, encaixotámos e mudámos as tralhas umas sete vezes. Nunca contratámos empresas de transportes ou de mudanças. Recolhemos caixotes nas lojas das redondezas, comprámos fita adesiva nas lojas chinesas, embalámos louça, livros, bibelots. De uma mudança para outra há sempre caixas de bibelots que vão permanecendo fechadas na garagem.
Na Passagem de Ano, há três anos atrás, tínhamos a sala onde agora escrevo completamente atafulhada de caixotes e móveis, até ao tecto, mas foi já nesta casa que iniciámos um novo Ano.
Esta casa, pelas características muito especiais que tem, há-de ser A Casa da nossa vida. Uma Casa com espaço suficiente para os Filhos, os Cães, os Amigos dos Filhos e os Filhos dos Cães. Uma Casa que queremos que venha a ser a Casa dos Netos, dos Amigos dos Netos.
Acabou aqui a minha aventura de mudança de casa...mas nos meus sonhos de futuro existe uma casa branca, térrea, de risca azul forte, no Alentejo Litoral que talvez ainda me faça encaixotar e mudar mais umas coisitas dum lado para o outro...