Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.
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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Aos poucos, também vou lendo...

Quase não tenho escrito.
Quase não tenho lido.
O que não quer dizer que viva à margem do que vai acontecendo no mundo que gosto de dominar - o das artes, da escrita principalmente.
A minha pilha de "por ler" aumenta consideravelmente e ainda bem que as estantes estão quase prontas, porque estou com uma vontade imensa de os ver bem alinhados e organizados. À partida vou arrumá-los por autor. Acho chique!
Apesar de ainda não ter luz de mesa de cabeceira ou uma luz que me permita ler sem a luz do tecto a ofuscar-me os olhos, o meu novo quarto tem sido tão inspirador de uma bela leitura antes de dormir!!!! Em cima da mesa de cabeceira estão três livros. Dois que aguardam mais concentração e disponibilidade (pelo nº de páginas que ostentam) e este cuja capa aqui publico e que tem sido o meu companheiro. Desde que li o primeiro livro de Michael Cunningham, fiquei apaixonada pelas suas palavras e pontuações. Não me escapou mais nenhum dos seus livros e nenhum deles me desapontou. O homem escreve mesmo bem e lê-lo é um prazer sem medida.
Agora, por exemplo, está a dar-me uma vontade de louca de subir as escadas, deitar-me em cima da colcha fofinha, castanho escura, parecida com chocolate, recebida de presente no Natal e desatar a ler...impossível!
Tenho de ir buscar o Mateus às 15:30. Tenho demonstração às 17:00.
Fica para logo à noite.
Depois de ver o Irmãos&Irmãs na RTP 2.
Os meus guilty pleasures mantêm-se inalterados!!!!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Motivação, Desenvolvimento Pessoal


Terminei o livro do Daniel Sá Nogueira.
Trata-se de um livro cujo objectivo é por-nos a pensar na pessoa que existe e nos caminhos que essa pessoa segue e persegue e quais as motivações que a levam a continuar.
Confesso que o li mas não preenchi as páginas de exercícios. Visualizei mentalmente o que poderia estar ali a escrever mas não o fiz fisicamente. Não o fiz porque quero passar este livro aos meus filhos. Primeiro aos mais velhos. Acredito que muitos dos conselhos que ali são dados são altamente motivadores. A questão do ser positivo, da forma como interagimos com quem nos relacionamos, o tipo de energia que espalhamos nos ambientes em que estamos inseridos. Tudo isto são factores muito importantes da vida em sociedade, não só para o conviver mas principalmente para o conviver com nós próprios.
Ser uma ovelha, no meio de muitas, não me incomoda. Já o facto de ser uma ovelha igual a muitas outras me desagrada profundamente e prefiro ser a ovelha cor de laranja que olha espantada para todas as que a rodeiam.
[Neste momento, conduzo um carro altamente vulgar. Igual a tantos outros escolhidos por Famílias Numerosas ou a caminho de o serem. Enquanto não fiz dele um carro completamente diferente de todos os outros com que ele é gémeo, não descansei. A uniformização por moda não é para mim. Cada pessoa é uma e, apesar de viver em sociedade e por ela ser influenciada, não pode destituir-se das suas convicções, dos seus gostos, das suas opiniões, das suas crenças. Eu gosto de ser diferente e aposto nessa diferença.]
Quanto ao optimismo, ele é, seguramente, o melhor fertilizante para que tudo o que façamos dê bons frutos. É ele que me tem servido de base na minha nova actividade e é ele a fonte do meu sucesso. Queixar-me da crise, da falta de contactos, dos telefonemas que não dão em nada, das pessoas que desmarcam à última da hora não irá trazer nada de bom. Ao contrário, se eu pensar que a pessoa x desmarcou mas eu vou conseguir encontrar a pessoa y que me vai receber, de certeza que tudo correrá melhor. Cruzar os braços nunca foi comigo. Ficar sentada no sofá à espera que algo acontecesse enquanto na televisão vão passando os programas pirosos da manhã e da tarde, também não é para mim. Eu gosto de ir à luta. De sair e procurar as oportunidades. De conversar e de fazer valer a vontade que tenho de que as coisas deêm certo! Estou, cada dia que passa, mais positiva na minha forma de pensar e estar.
É bom, mas difícil de conciliar com atitudes quase sempre marcadas por frases iniciadas por não ou por cargas negativas.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ambição

Daqui
"Se escrevo, não é porque tenha algo
de novo a dizer.
A gente teve sempre o mesmo lote
As mesmas amarguras e as mesmas alegrias
Aquilo a que se chama igualdade de oportunidades.
Se escrevo, é porque me mato a procurar
A mais concisa representação gráfica das lágrimas."
S.S.Kharkianakis
in Itaca, cadernos de ideias, textos & imagens,
Outubro 2010

E com as mesmas mãos que tento dar forma às palavras que dançam na minha cabeça e se ensaiam no teclado, enfarinho massas e tendo formas que se transformam. Em pães, em bolachas e biscoitos. E as mãos sempre em acção, em movimento, em trabalho, tornam-se quase uma parte independente de mim. Quase não precisam que o cérebro as conduza, porque elas sabem como fazer tudo. E as mãos também sabem acariciar. E as mãos também sabem tocar. E as mãos falam. Como olhos. Como sorrisos. Como palavras. Como lágrimas.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Déjà Lu

Daqui
Déjà Lu é uma página de leilões de livros já lidos.

Poderíamos chamar-lhes livros em segunda mão, mas estaríamos a quebrar toda a mística que envolve um volume que em tempos fez companhia a alguém.
O valor das vendas resultante dos leilões reverterá, na sua totalidade e de forma directa, para a APPT21 e para o Centro de Desenvolvimento Infantil Diferenças.
Todas as semanas serão publicados lotes de livros, que podem ser licitados individualmente, a partir de um valor base.
As licitações devem ser feitas na caixa de comentários do blogue, sendo usado o registo da data e hora do comentário para identificar o vencedor do leilão.

Os potenciais compradores deverão indicar:
- item pretendido
- valor de licitação
- e.mail para contacto no final do leilão


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

maldição contra o amor sem corpo, para o alberto pimenta

Daqui
«teve a coragem de amar uma mulher com fino cabelo de cristal. à noite, na escuridão da cama, não lhe tocava por amor, e por amor a mulher cuidou do seu cabelo, cada vez mais frondoso e delicado, por isso, passeava o casal orgulhoso de tanta beleza pelas ruas. entravam em casa só mais tarde, quando ninguém sobrava para ver. era também quando se amavam sem se poderem suportar. cada um para seu lugar sem dizer mais nada, com a tensa proximidade da violência. sem filhos, desligavam as luzes e emudeciam. era quando alguns animais irrompiam pelos poros das paredes e lhes fungavam nos pescoços, o cabelo da mulher ondulava em cintilações no escuro, pela moléstia das pequenas cócegas e mordidas»


contabilidade
valter hugo mãe,
Editora Objectiva,
Outubro 2010


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sindicato da Bondade, Eduardo Sá

[...]
«Uma família serve para nos sentirmos acompanhados por dentro, adivinhados quando nos sentimos misteriosos e arrebatadores (sempre que estamos sonolentos). E ensina-nos que perdoar é esquecer sem dar por isso. Eu acho que, para tantas coisas, uma família, para ser família, tem de ser numerosa. E só se for assim será sagrada. Nas famílias de verdade cabe a educadora que nos contava histórias e a professora que nos ralhava, sempre que mordíamos a língua para pensar. E o senhor da padaria, que nos sorria, de manhã, como muitos dos nossos tios nunca o fizeram. E o Augusto dos jornais, que mal falava mas que, por nada que se esperasse, se comovia enquanto ria. E a D. Isaura, dos bordados, que fazia de conta que não percebia quando estávamos a mentir. E o Pai Natal e Deus, sempre que ficávamos, noite fora, à calhandrice com eles (mais vezes do que conversávamos com os nossos amigos). E os amigos, claro, para além de todos aqueles que sentimos serem nossos. Uma família é uma barafunda. E só se for assim é paz. E é amiga de verdade, sem a qual se é desfeliz. E puxa os sentimentos, de supetão, do fundo da alma para a superfície da pele. E desabotoa a fantasia. E é dedicada com o colo. E afeiçoa-se ao brincar. E à esperança, é claro. E a tudo o que mais que quem fala dos valores da família nunca nos diz. Na verdade, a ideia de família tem sido tão enxovalhada que já não sei se gosto dela. Do que gostava - mesmo! - é que a família fosse, simplesmente, um sindicato da bondade. Mas não sei se conseguirei explicar porquê, mas acho que, só se for assim, será família. E será feliz.»
Sindicato da Bondade,
Eduardo Sá,
salamandra,
Outubro 2010

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Torre de Pisa

Da Net
Quando, ontem, consegui finalmente sentar-me no meu sofá da sala os meus Filhos 1, 3 e 4 jogavam animadamente Mario na Wii. Se por um lado isso foi bom, porque não havendo televisão, também não havia desculpa para não pegar no Livro e terminá-lo, por outro lado, parecia que estava metida num verdadeiro salão de jogos público tal era o "cagaçal" que eles faziam.
Fui buscar o Livro. Eram poucas as páginas que me separavam do final e, tentando alhear-me do barulho da jogatana, lá consegui chegar ao último ponto final deste romance. Bom. Terminada a leitura de mais um livro da minha vida, fiz o que faço sempre que fecho um livro pela última vez. Acaricio-lhe a capa, certifico-me que nem as páginas nem as capa e contracapa ficaram dobradas, olho-o mais uma vez e guardo-o no móvel dos livros. No lado dos "já lidos". Estava precisamente a colocá-lo no sítio quando a prateleira, cedendo ao excesso de peso, tombou para o lado direito ficando apoiada no que está por baixo dela...mais livros, recortes de jornais e outros tesourinhos meus. O meu móvel antigo guardador de páginas está, neste momento, em formato Torre de Pisa.
Do lado esquerdo, o do monte dos "a ler", saíu Marina. Sempre quero ver durante quantos meses me acompanhará este livro...e quanto tempo demorará a voltar à sua posição normal a prateleira que agora se inclina para o lado direito!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Imortalidade


Li esta frase e senti-me alvo da pontaria certeira de um qualquer archeiro profissional. A frase trouxe à tona fragmentos de conversas à mesa do jantar de Dia de Natal. Não conversas mórbidas e agoirentas determinando o final próximo da vida de qualquer um dos membros da Família, mas conversas que nos transportam para os laços que unem todos os que se amam. A certeza de que nenhum de nós morrerá nunca se todos os que nos sobreviverem nos recordarem sempre. A presença física é tão apenas isso. O físico. Ao passo que a imortalidade é o que deixamos no que semeamos em cada dia. Os sorrisos ou as lágrimas, as palavras ou os silêncios, os gestos de ternura ou a ausência deles. A imortalidade é determinada por cada um de nós nas sementes que semeamos em cada um dos que nos rodeia.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Propósito de Inverno, [mas este é dos bons]

Os fins de semana são o ponto alto da actividade à qual me dedico há umas semanas. São a altura em que mulheres e maridos estão em casa, em que há mais tempo disponível.
No próximo sábado terei de me organizar para estar livre às 18:00. Já que não posso hibernar durante os meses de chuva e frio e sou obrigada, pela minha fraca condição humana a viver (e de preferência, feliz), então que encontre motivos de alegria.
Este é um motivo de alegria. O João Tordo vai estar aqui bem perto, na Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana. Para falar sobre O Bom Inverno que viu a luz dos escaparates em pleno Agosto, quente.
Eu sou absolutamente fã da escrita do João Tordo e, por esse motivo, rendo-me à beleza escondida do Inverno e lá estarei, com todo os títulos deste autor, prontos a receber um autógrafo.
Se alguém me quiser acompanhar...é só dizer!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Quando Não Sei o Que Escrever, Transcrevo # [5]

Jean Paul Sartre
[...]
«E a mim interessam-me como são. Com todas as suas torpezas e todos os seus vícios. Comovem-me as suas vozes e as suas mãos quentes que agarram e a sua pele, a mais nua de todas as peles, e o seu olhar inquieto e a luta desesperada que travam, cada um por sua vez, contra a morte e contra a angústia. Para mim tem importância um homem a mais ou a menos no mundo. Todas as vidas são preciosas. »
[...]
in as mãos sujas,
Jean Paul Sartre,
livros de bolso europa américa,
edição nº 525/1645
Fevereiro de 1972

domingo, 7 de novembro de 2010

Livro [Não Apenas Mais Um...]

Chegou no dia do meu aniversário e tem estado, pacientemente, à espera da sua vez para me fazer companhia. Durante a semana andou dentro da mochila, mas apenas para que eu me sentisse acompanhada porque o tempo não sobrou para que o pudesse ler.
A minha campainha interior. Acordou-me, dizendo que o sol brilhava lá fora e era tempo de dar início a um novo dia, mas eu estava cansada. Não tinha ainda vontade de me levantar. Deixei que o meu braço saísse debaixo do edredon e procurasse o Livro.
De uma assentada li 70 páginas cobertas de palavras muito bem escritas. Tão bem escritas que me fazem sentir cheiros, conhecer as pessoas ali descritas, ver claramente todos os locais descritos. Estou apaixonada por este Livro.

sábado, 23 de outubro de 2010

A Força das Coisas, Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir
« Faz-se muitas vezes da literatura uma ideia mais romântica. Mas ela impõe-me esta disciplina precisamente por ser algo diferente de um trabalho: uma paixão ou, digamos, uma mania. Ao acordar, uma ansiedade ou um apetite obriga-me a pegar imediatamente na caneta; só obedeço a uma ordem abstracta nos períodos sombrios em que duvido de tudo: aí a ordem pode mesmo ser quebrada. A não ser em viagem, ou quando se passam acontecimentos extraordinários, um dia em que não escreva tem um gosto a cinzas

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Bernardo Soares, Páginas do Livro do Desassossego

Bernardo Soares
«Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim, as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.»

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Eu, "Intelectual" & ET


Daqui

Este Verão fui acusada de só ler "jornais intelectuais"
Paciência. Lamento. Ou melhor, lamento por aqueles que não os leêm e preferem os jornais onde as mortes e as desgraças fazem vender muitos e muitos milhares de exemplares.
O Jornal de Letras faz-me feliz. É um jornal que leio de uma ponta a outra e que guardo religiosamente durante 15 dias, o tempo necessário para que outro número novinho em folha chegue às bancas.
Às bancas, mas não a todas. Encontrar o JL pode revestir-se de carácter de missão impossível. A forma como olham os donos de tabacarias/quiosques quando se pergunta por este jornal é como se estivessem perante um ET do mais estranho e ousado filme de ficção científica. Respostas do género "Deixámos de ter, ninguém o comprava", são frequentes.
O tempo que páro para ler este jornal é um tempo que considero uma dádiva. Gosto de ler as crónicas do José Luís Peixoto e do Gonçalo M. Tavares. São as primeiras páginas que procuro. Ler e pensar que parece tão fácil escrever tão bem! Gosto de ler as páginas dos lançamentos, descobrir quem publicou o quê e sobre quê. Gosto de ler as páginas centrais, especialmente quando o tema é a Educação. Vendo bem, gosto de o ler todo e por momentos de me sentir parte do todo que é este jornal "intelectual".
Que me desculpem os jornais generalistas. Não aguento mais crise, futebol, crimes e acidentes naturais. Preciso do oxigénio que me vem daqueles que tendo conhecimentos, fazem das suas vidas, a forma de dar mais cor e alegria às vidas de todos nós. A cultura é um bem precioso em qualquer sociedade, sendo que nos dias que correm, cinzentos e depressivos, é ela a minha salvação.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Memórias do Futuro, Daniel Sampaio

Daqui


«Então chorei. Desejei que te transformasses numa ausência, que o teu nome fosse uma recordação em breve esquecida. Ansiei que as minhas palavras te deixassem só para sempre. Senti-me despido, abandonado nas trevas de uma noite de Inverno.»

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Poesia [da Cozinha, com Paixão]]



«Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
...-Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.»

Herberto Helder

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A Lista dos Ausentes # [1]

Da Net



« Os que já foram permanecem, naquilo que de essencial teve efeito em nós, vivos e na nossa companhia, enquanto nós próprios vivermos. Por vezes conseguimos até conversar melhor com eles, consultá-los e escutar o seu conselho, do que poderíamos junto daqueles que ainda vivem.»

Hermann Hesse,
Elogio da Velhice

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Desencontro (2), Mia Couto

Timbila,
Instrumento Tradicional de Moçambique
No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidao
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entreabertos

E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar

No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculos e alvorada

Para me acostumar
à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas
a espera do silêncio

sábado, 9 de outubro de 2010

Calvino, Palomar [ou como um Livro me salvou da pasmaceira]

Estou sentada à espera que uma qualquer ideia me atravesse o pensamento e me espicace, me ponha a escrever. Já coloquei imagens e reitirei-as logo de seguida. Já escrevi palavras que apaguei. Nenhuma delas me estava a fazer grande sentido. Levanto-me direita aos livros. Quando tenho estes acessos de não saber o que escrever e me dirijo aos meus livros, sei que não sou eu que os escolho mas eles que me escolhem a mim. Estranha esta minha mania de dar vontade própria aos livros, mas sinceramente acredito que os meus livros são capazes de me chamar a atenção quando preciso deles. [Ontem vi na televisão uma mulher que tem uma atracção sexual por objectos, chegando ao ponto de se "casar" com a Torre Eifell.] Umas das frases que tinha alinhavado tinham por sujeito o mar. Desisto de tentar. Tenho a cabeça demasiado cansada para conseguir escrever alguma coisa de jeito. Tenho mesmo de me socorrer dos meus livros. Com o indicador da mão direita, sigo as lombadas. Tiro um José Luís Peixoto. Leio algumas páginas avulsas. Enfio-o no seu lugar. Opto por um Italo Calvino. Abro-o e leio que me foi oferecido pelo meu irmão, no dia do meu aniversário, há 10 anos. [Cá dentro encontro também uma folha com um desenho infantil de um bolo de aniversário. Não está assinado. Não sei quem foi o autor. Desconfio das mãos da Catarina.] Não me lembro de ter lido este livro. Dez anos enfiado dentro de uma estante...
«A crista da onda que avança levanta-se num ponto determinado, mais do que nos outros, e é ali que começa a franjar-se de branco. Se isso acontece a uma certa distância da costa, a espuma tem tempo de se enrolar sobre si própria e de desaparecer de novo, como que engolida, para no mesmo momento tornar a envolver tudo, mas desta vez despontando de baixo, como um tapete branco que trepa pela praia acima para acolher a onda que está para chegar. Mas, quando se espera que a onda role sobre o tapete, verifica-se que já não há onda, mas somente o tapete, e mesmo este desaparece rapidamente, tornando-se uma cintilação de areia molhada que se retira veloz, como se fosse empurrada pela areia enxuta e opaca que faz avançar o seu limite ondulado
É o mar que me escolhe, nas palavras do senhor Palomar.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Palavras, Fernando Pinto do Amaral


Da Net

Sentas-te ainda à mesa - escreves
palavras tão compactas, tão opacas
como a luz que te cega. Cada dia
promete o infinito em meia dúzia
de palavras - o amor,
a vida, o tempo, a morte, a esperança,
o coração. Repete-as,
repete-as muitas vezes em voz alta
e escuta a sua música
até não quererem dizer nada.
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