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Há entre mim e as fotografias do Artur um caso sério de amor. Não nos conhecemos e pouco mais sabemos um do outro do que as letras que compõem os nossos nomes próprios. Ele, cinco letras. Eu, apenas quatro. O que é certo é que sempre que a vontade de escrever se sobrepõe à loucura dos meus dias, sei que nas imagens do Artur há, de certeza, algo que me espera e que me inspira.
Hoje, mais uma vez, o dia terminou tarde e em trânsito. O regresso a casa, o jantar, a mesa cheia. Os da casa, mais dois extra. Barulho, conversas, risos, jogos. Intimidades, olhares, partilhas. A família construída. Os esboços de outras famílias que virão a existir...
Capítulo I
O Tempo
...num tempo onde não sei se estarei para viver.
Assalta-me frequentemente a melancolia do tempo que passa. Assalta-me frequentemente a tristeza do tempo que já deixei passar. E depois há cá dentro do peito uma sensação boa de tempo que passa. De olhar para os meus quatro projectos de vida e ver que cada um tem um caminho traçado e que o percorre com a naturalidade da segurança, do conforto, da certeza de saber que algures existe uma espécie de almofada onde poderão sempre voltar a deitar a cabeça quando o cansaço ou as lágrimas insistirem em os derrubar. São tão felizes estes quatro! E eu, sou feliz por eles. Por saber que lhes tenho dado tudo de mim. Por saber que o cansaço que à noite me derruba e me atira para o sofá sem força sequer para ler umas páginas é provocado pelo melhor trabalho do mundo, aquele que eu nunca diria que não voltaria a fazer se o tempo pudesse voltar atrás. Ser Mãe. Este é o trabalho que eu sei fazer melhor e é nele que me realizo. É inevitável o sentimento que me assola. O de que o tempo que passa faz com que as asas dos meus filhos os vão levando, todos os dias, um bocadinho para mais longe de mim. É inevitável a saudade que sinto de os ter ao colo, a caberem-me num braço apenas. É inevitável o desejo de nunca me separar deles...mas é também muito reconfortante sentir que posso contar com eles e que eles continuam a contar comigo.
Capítulo II
A Saudade
...é uma palavra portuguesa e que define um sentimento que eu acho que só nós portugueses sentimos com tanta força.
Hoje tenho sentido saudades fortes, das que tiram o ar. Não sei como as resolver.
Hoje estive em Lisboa à noite e fui incapaz de pôr de lado memórias. As noites de Verão em Lisboa são uma parte forte de mim. Hoje conduzi à noite (como é hábito ultimamente) pela marginal. Faço-o quase em "piloto automático". Gosto de sentir que o mar me vem acompanhando sempre, pelo meu lado esquerdo. A companhia musical, Rodrigo Leão, album Mãe. A música tão forte, tão sentida. Lágrimas.
Capítulo IV
Os dias que correm
...tão iguais.
Intimamente desejo que algo suceda.
Algo que transforme os dias que correm iguais em dias diferentes.
Por vezes basta apenas um abraço. Sentido. Apertado. Um beijo. Uma festa. Um olhar. Um ramo de flores. Um bilhete deixado esquecido em cima do nosso sofá preferido. Um convite para qualquer coisa. Por vezes basta sentir que alguém sente a nossa falta.
...para que os dias que correm iguais se transformem em dias tão maravilhosamente diferentes.