Já tenho tudo guardado. Só me faltam os livros. Deixo-os para o fim de propósito. Não gosto de os saber encaixotados, a empurrarem-se uns aos outros, as palavras a comprimirem-se, as frases a compactarem-se, sem conseguirem falar…
As paredes estão vazias e os móveis também. Não foi fácil, mas foi preciso. Por ti, por mim, por nós.
Pedi-te desculpa. Mil vezes. Sei que não compreendes e que por mais que tentes não consegues ver porque sofro, porque preciso de sair. Nem eu percebo muito bem o que foi acontecendo, o que me foi calando aos bocadinhos. Tal como os meus Livros, também eu me fui compactando, encolhendo, calando e ficando.
No Verão tudo parece melhor. Esta casa, aparentemente normal, sem graça até, no Verão ganha outra vida. A humidade desaparece, o Sol ilumina-a e aquece-a sem no entanto conseguir apagar o cheiro que a lareira vai deixando durante todo o Inverno.
Amo esta casa. Hoje amo-a particularmente. Enfeito-a de flores e cor para receber pessoas especiais. Família e Amigos que vêm ao meu aniversário.
Sento-me no chão. Encosto-me à parede. Fumo um cigarro, virada para o Mar. É o meu último cigarro aqui e também isso me custa. Saber que à noite, antes de me deitar, não vou estar aqui, neste bocadinho de chão, apenas a saborear aquele cigarro e aquele mar…
- Porque te sentas no chão? Que mania! Tens espaço aqui!
- Eu gosto do chão, de me sentir e sentar no chão…já sabes.
Nunca percebeste esta minha “mania”. Vem da infância, de serões sentada aos pés da minha Avó, encostada ao sofá onde ela se sentava a ver televisão. Aquele quentinho das pernas e da manta que as tapava, e eu ali…
Está frio. O Mar agita-se na força que lhe é própria nesta altura do ano. Gosto do mar assim, agitado, zangado, vestido de espuma branca como se fosse p’ra festa…
Olho de relance para o relógio da cozinha e para as check lists que organizei para mim própria. Tenho as mesas prontas, os tabuleiros no forno, as entradas no frigorífico…parece que não falta nada a não ser começar a festa.
Depois de esfriar esta decisão de partida, e não de fuga como um dia disseste, pensei no que gostaria de levar comigo desta Casa. A Casa. Não levo muito. Deixo-te o ponto de partida para outra viagem. Menos tumultuosa que esta nossa…
Está alguém a chegar. Estou a ouvir o cão a ladrar e um carro a parar. Ainda bem que consegui acabar de me vestir e enfeitar ainda sózinha. Detesto estar à pressa, não acerto com os acessórios, fico mesmo à toa. Vai correr tudo bem.
Recordo a tua chegada com tanto prazer e ternura. Simples, sempre. Tu e só tu. Nas mãos um embrulho que denunciava o conteúdo. Um livro, o primeiro de muitos que recebi nessa noite, ou não fosse sempre extensa a minha lista de desejados. Talvez não quisesse ter cá mais ninguém naquela noite. A tua presença, a tua companhia bastar-me-iam. Seria um Dia inesquecível se fosse único o teu presente, única a tua presença.
Ainda bem que chegaste antes de todos! Podemos pôr as nossas conversas em dia antes que chegue toda a gente!
E eram mesmo bons aqueles momentos em que partilhávamos as nossas parvoíces, o que sentíamos, o que nos apetecia. Aqueles momentos aproximaram-nos e aos poucos foram sendo o nosso motivo de afastamento. Perdemos a magia da conversa, da partilha, da gargalhada e, às vezes, das lágrimas.
Vem muita gente ou os do costume?
As paredes estão vazias e os móveis também. Não foi fácil, mas foi preciso. Por ti, por mim, por nós.
Pedi-te desculpa. Mil vezes. Sei que não compreendes e que por mais que tentes não consegues ver porque sofro, porque preciso de sair. Nem eu percebo muito bem o que foi acontecendo, o que me foi calando aos bocadinhos. Tal como os meus Livros, também eu me fui compactando, encolhendo, calando e ficando.
No Verão tudo parece melhor. Esta casa, aparentemente normal, sem graça até, no Verão ganha outra vida. A humidade desaparece, o Sol ilumina-a e aquece-a sem no entanto conseguir apagar o cheiro que a lareira vai deixando durante todo o Inverno.
Amo esta casa. Hoje amo-a particularmente. Enfeito-a de flores e cor para receber pessoas especiais. Família e Amigos que vêm ao meu aniversário.
Sento-me no chão. Encosto-me à parede. Fumo um cigarro, virada para o Mar. É o meu último cigarro aqui e também isso me custa. Saber que à noite, antes de me deitar, não vou estar aqui, neste bocadinho de chão, apenas a saborear aquele cigarro e aquele mar…
- Porque te sentas no chão? Que mania! Tens espaço aqui!
- Eu gosto do chão, de me sentir e sentar no chão…já sabes.
Nunca percebeste esta minha “mania”. Vem da infância, de serões sentada aos pés da minha Avó, encostada ao sofá onde ela se sentava a ver televisão. Aquele quentinho das pernas e da manta que as tapava, e eu ali…
Está frio. O Mar agita-se na força que lhe é própria nesta altura do ano. Gosto do mar assim, agitado, zangado, vestido de espuma branca como se fosse p’ra festa…
Olho de relance para o relógio da cozinha e para as check lists que organizei para mim própria. Tenho as mesas prontas, os tabuleiros no forno, as entradas no frigorífico…parece que não falta nada a não ser começar a festa.
Depois de esfriar esta decisão de partida, e não de fuga como um dia disseste, pensei no que gostaria de levar comigo desta Casa. A Casa. Não levo muito. Deixo-te o ponto de partida para outra viagem. Menos tumultuosa que esta nossa…
Está alguém a chegar. Estou a ouvir o cão a ladrar e um carro a parar. Ainda bem que consegui acabar de me vestir e enfeitar ainda sózinha. Detesto estar à pressa, não acerto com os acessórios, fico mesmo à toa. Vai correr tudo bem.
Recordo a tua chegada com tanto prazer e ternura. Simples, sempre. Tu e só tu. Nas mãos um embrulho que denunciava o conteúdo. Um livro, o primeiro de muitos que recebi nessa noite, ou não fosse sempre extensa a minha lista de desejados. Talvez não quisesse ter cá mais ninguém naquela noite. A tua presença, a tua companhia bastar-me-iam. Seria um Dia inesquecível se fosse único o teu presente, única a tua presença.
Ainda bem que chegaste antes de todos! Podemos pôr as nossas conversas em dia antes que chegue toda a gente!
E eram mesmo bons aqueles momentos em que partilhávamos as nossas parvoíces, o que sentíamos, o que nos apetecia. Aqueles momentos aproximaram-nos e aos poucos foram sendo o nosso motivo de afastamento. Perdemos a magia da conversa, da partilha, da gargalhada e, às vezes, das lágrimas.
Vem muita gente ou os do costume?
Como é estranha a Casa vazia. Decidiste que não querias ficar com nada, que poucas coisas eram realmente tuas, que o que era teu já não te pertencia realmente. Que triste que é desfazer uma casa.
- Está tudo delicioso. Parabéns! A menina continua uma excelente cozinheira e anfitriã!
- Ah, obrigada! Vou até à varanda refrescar…estou morta de calor!
Se não fosse o Mar, até a varanda teria perdido o encanto. O vazio está a tomar conta de mim. Por um lado estou contente, aliviada por ter conseguido tomar uma decisão que era urgente há muito, mas por outro lado…estou sozinha. E eu detesto estar sozinha. Quero que a amizade entre nós continue. Sei que não pode ser já, de imediato, mas quero que continue. As nossas saídas, as nossas conversas sem pés nem cabeça, a nossa cumplicidade. Não há ninguém que me saiba fazer melhor companhia nessas coisas. Só tu!
- Ah, estás aqui! Estou mortinha de calor…
- Que tal? Estás contente? Tens cá todos os que querias ter! Conseguiste todos os livros que querias ou tiveste direito aquelas pirosadas que vais oferecer na primeira festa de Natal que aparecer?
Risos…os nossos risos…aproximam-nos. Os nossos olhos, uns nos outros, sem desvios, sem fugas. Não precisamos de falar porque os nossos olhos falam uns com os outros e dizem-se o que agora não podemos dizer, fazem o que não podemos fazer. Vais ficar cá hoje, comigo? Pergunto-te em pensamento, respondes-me em palavras,
- Estava aqui a pensar se poderia passar cá a noite.Já tinha saudades de sentir este cheiro a maresia e de me deixar adormecer com o som das ondas...posso ficar?
Ficaste naquela noite e nas que se seguiram, foste ficando e ficando.
Sou eu que vou sair, perdida, desfeita por dentro, mas tenho que sair.
Pronto! Os livros estão encaixotados.
- Podem levar estas caixas, por favor.
Olho à volta. Pego no cinzeiro, na mochila e no blusão.
No vidro da janela, virada para o Mar que sempre nos acompanhou, escrevo AMO-TE.
Bato a porta.
Rio-me. Sim, existe alguma coisa entre nós, alguma coisa que nos liga sem percebermos porquê, que nos quer juntar por qualquer razão. Molhas o dedo no copo e escreves no vidro da janela, virada para o Mar, AMO-TE. É o melhor presente de aniversário!
Este Post é o resultado de um "desafio de escrita". Segundo o "desafiante", deveria ter continuação...eu não sei...fico à espera das reacções de quem me lê!
3 comentários:
E depois....? Detesto quando páras! Quem decide quanto à página em que quer ficar é o leitor, não o Autor! Volta ao trabalho sff!! Bjs
Concordo plenamente com a Catarina.
Estava eu no auge do entusiasmo, a ler e a imaginar a cena em cada palavra tua e... páras???
Amei o q li, e peço-te q continues... estava fazer-me mt bem...
Bj
:$ (smile corado, envergonhado)
Sim, preciso de continuar, mas não sei o que vai acontecer a seguir. Este meu modo de escrever é um pouco estranho...sai tudo de rajada e depois "encrava" um bocado...tenho que definir melhor quem são estas duas pessoas...ele&ela?Não sei, não os criei, deixei-os sair só...agora tenho que os deixar ganhar vida...
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