OS FILHOS
Por favor, não tragam ruído
à tranquilidade deste poema
escrito com a mão
do que fecha a porta ao apagar
a luz.
Os meus três filhos acabam de adormecer.
Necessito de silêncio para pensar
neles.
Cores indeléveis num lápis
de traçado infantil,
voltam a desenhar
- mas desta vez a sério –
uma árvore, uma casa, a memória
de uma luz acesa
com sabor a Dezembro,
os cristais do medo
e a ilusão do futuro
debaixo do sol dos dias…..
Um filho é o segundo país onde nas-
cemos.
Com a sua falta de idade faz-nos
repetir aniversários
e devolve-nos ao mundo do relógio,
às chamadas telefónicas
que são uma raiz na margem do tempo.
Um filho ensina-nos a perguntar com voz de água
a verdade decisiva da terra.
Sermos como juncos, e em amor flexíveis,
não assegura respostas
nem confirma o repouso.
Elisa, Irene, Mauro,
cada qual com o seu porto e com a sua
chuva, luzes cintilantes de um mesmo rio.
Ninguém revele, por favor,que acabo de escrever-lhes um poema.
Os filhos crescem com espinhos.
Nunca sei imaginar o que podem dizer do que digo,
o que podem pensar do que
penso,
o que podem fazer com o que faço
Luís Garcia Montero(Tradução José Fanha)
3 comentários:
Não que seja muito difícil, mas deixaste-me de olhos rasos de água.
Bem, vou para os filhos dos que não quiseram ou não puderam ser pais.
Bjos
Tita
:)
:)
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