"[...]De resto, a desmemória não só o isolou da realidade objectiva como o destituiu, pode dizer-se, de sentimentos. Perdeu os estímulos de aproximação porque, sem a consciência da identidade que nos posiciona e nos define num framework de experiências e de valores, ninguém pode ser sensível à valia humana do semelhante. As suas virtudes ou os seus males só podem ser reconhecidos como significantes sentimentais em contraponto com a consciência da nossa identidade, isto é, com a tradição da comunicação que praticamos com a sociedade e com a nossa memória cultural. A ele tal coisa estava-lhe vedada, memória onde tu já ias. Daí a total indiferença em que navegava à tona das comoções e dos afectos, uma indiferença extrema que, sucedesse o que sucedesse, não levava a perturbar nem ao de leve a disciplina ambiente. Na verdade, não sabia de todo onde se encontrava, a razão era essa.[...]".
Terminei ontem a leitura deste pequeno/grandioso livro. São 70 páginas. Não se leêm, mastigam-se. E pela densidade que têm e que nos transmitem, fizeram-me voltar aos meus tempos de estudante de Filosofia. Ler um texto e descobrir nele o que nos quer dizer mas não diz expressamente. Obriga-nos a pensá-lo, a descobri-lo e entendê-lo como um Ser.
É um livro muito bonito e hei-de postar aqui mais excertos dele.
3 comentários:
Li-o quando saiu e comoveu-me profundamente.
De vez em quando vou reler umas passagens.
Beijinhos e bom fim-de-semana
Sabe li esse livro ha muito anos, redescobri-o anos mais tarde já o Zé tinha partido... na altura impressionou-me muito pela voragem de palavras e de acontecimentos que nele são retratados... é um livro de dia e de noite, daqueles em que se parte da folha um sem se saber as horas e se aterra na última sem se saber que se partiu...dscobri aqui o seu blog e tenho tanto para comentar do que foi escrevendo aqui com o passar dos seus dias á escrita: será que devo??? interrogo-me e quero a sua resposta.
Salvador; pai militante base e actual Presidente do Partido Pai...:)
Velvet, eu achei este livro mesmo brutal. No sentido da perda de identidade, da observação do Outro de nós. É lindo, mesmo. Obrigada :-)
Salvador, claro que deve comentar! Eu gosto de escrever, de saber que há quem leia o que escrevo e de saber o que pensam do que escrevo. Só se for recebendo fedd back é que consigo melhorar a escrita. É esse o meu objectivo!!!
Venha sempre e deixe as suas palavras.
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