É sempre ao fechar do dia que passo as portas deste bar. A princípio vinha em grupo, a confraternização de final de dia de trabalho antes do regresso a casa. Aos poucos foi-se desfazendo o grupo. Sobrei eu. Mantive o ritual. Entro e sento-me no meu banco. Suficientemente distante da porta para que não apanhe o frio, mas numa posição que me permite sempre controlar quem entra.
Irish Coffee. Quente e com uma camada generosa de natas polvilhada com grãos de café. O calor da caneca aquece-me as mãos, geladas do frio da rua. O cabelo pinga e sinto-me molhado até aos ossos. Golo a golo o corpo vai aquecendo e a mente adormecendo. Quebra-se o stress do final do dia, baixa a adrenalina e permito-me acalmar.
Música de fundo. Sinto-me embalado. Oiço-a tocar mas não me concentro o necessário para saber o que oiço. Oiço-a como se estivesse fora do Mundo a observar, a ouvir, tudo e todos. Sinto-me a pairar, dentro de uma bolha de ar que me suporta, que me transporta, que me protege.
Voz sussurrada. Palavras no meu ouvido. Que me prometem a dedicação e protecção eternas. Sei que estou a sonhar mas não me incomodo em acordar-me. Quero prolongar este calor, esta sensação de leveza e de ternura que me aconchegam.
A bebida a chegar ao fim. O meu corpo adormecido sobre o balcão. Os copos que se encostam e tilintam. O pano húmido que limpa. E eu sobre o balcão. Lutando para me levantar. Pedindo-me força para ir. E eu a ser levado. Cansado. arrasado. final de mais uma semana. cansado. arrasado...
3 comentários:
Aconteceu o mesmo comigo, na minha relação com os bares. Em Lisboa, agora estão vazios, mas ainda há pouco tempo, no Porto, pude constatar que as pessoas mantêm esse hábito saudável de passar pelo pub antes de regressar a casa, para confraternizarem um pouco. Tenho dois posts para escrever sobre este tema, mas ainda não tive tempo de os formatar.
Talvez na próxima semana o faça.
Acho que vou beber um Irish para ver se escrevo um post tão inspirado:)
Beijinhos
Muito bom cenário. Muito agradável.
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