Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Daqui te Vejo # [1], Lorca, para ti


Eu e a minha Máquina,

FILArte, Novembro 2008

Sim, por vezes sou distraída. Não é uma questão de distracção genética, daquela de fazer disparates por mera falta de atenção, é uma distracção própria da pressa em que vivo, em que me faço viver. É bom saber que existem pessoas na minha vida que me alertam para pequenos sinais que deixo escapar...


PRANTO POR INÁCIO SANCHEZ MEJÍAS, 1935, Federico Garcia Lorca

1 . A CAPTURA E A MORTE

Eram cinco horas da tarde.

Eram cinco da tarde em ponto.

Um menino trouxe o lençol branco

às cinco horas da tarde.

Um cesto de cal já prevenida

às cinco horas da tarde.

O mais era morte e somente morte,

às cinco horas da tarde.

O vento arrebatou os algodões,

às cinco horas da tarde.

E o óxido semeou cristal e níquel

às cinco horas da tarde.

Já pelejam a pomba e o leopardo,

às cinco horas da tarde.

E uma coxa por um chifre destruída

às cinco horas da tarde.

Os sons já começaram do bordão

às cinco horas da tarde.

As campanas de arsênico e a fumaça

às cinco horas da tarde.

Pelas esquinas grupos de silêncio

às cinco horas da tarde.

E touro todo coração ao alto

às cinco horas da tarde.

Quando o suor de neve foi chegando

às cinco horas da tarde,

quando a praça se cobriu de iodo

às cinco horas da tarde,

a morte botou ovos na ferida

às cinco horas da tarde.

Às cinco horas da tarde.

Às cinco em ponto da tarde.

Um ataúde com rodas é a cama

às cinco horas da tarde.

Ossos e flautas soam em seus ouvidos

às cinco horas da tarde.

O touro já mugia por sua frente

às cinco horas da tarde.

O quarto se irisava de agonia

às cinco horas da tarde.

A gangrena de longe já se acerca

às cinco horas da tarde.

Trompa de lis pelas virilhas verdes

às cinco horas da tarde.

As feridas queimavam como sóis

às cinco horas da tarde,

e as pessoas quebravam as janelas

às cinco horas da tarde.

Às cinco horas da tarde.

AI QUE TERRÍVEIS CINCO HORAS DA TARDE!

ERAM AS CINCO EM TODOS OS RELÓGIOS!

ERAM AS CINCO HORAS DA TARDE EM SOMBRA!

8 comentários:

Kat disse...

é não é? ;)
Ainda bem que não deixaste escapar este sinal, porque, por sinal, o poema é lindíssimo.
Kat

Kat disse...

Ainda bem que viste esse sinal, porque, por sinal, o poema é lindíssimo. O mesmo já não digo das "zarzuelas", sorry.
Kat

maria inês disse...

quero esse fato, para o meu carnaval!

A ler..., Amigos, Família, Palavras de outros

Silêncio Pesado disse...

Lindo! Pagou caro, este poeta...
Beijos.

Anónimo disse...

É lindo, não é?
Obrigado
Um beijo

Vera disse...

Daqui te vejo, já estava a ficar triste com o teu silêncio...está tudo bem contigo?

Vera disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vera disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
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