Domingo. Oito e meia da noite. A cozinha cheia de sacos e compras para arrumar. Os miúdos para jantar e enfiar na cama que amanhã é segunda feira e têm que se levantar cedo. Tocam à campainha. Quem será a estas horas? A um domingo? Deve ser um amigo do Pai, já cá veio há bocado quando vocês foram ao supermercado. Vai lá tu. Era mesmo ele. Vim beber café convosco. Oh...ainda nem jantámos. Não faz mal. Faço-vos companhia, olho, eu já jantei. Continuação da lufa-lufa na cozinha. Arrumação das compras, terminada. Sacos pendurados atrás da porta da cozinha. Bimbys a trabalhar, sopa numa, bechamel noutra. Forno. E a conversa a acontecer. Tudo e nada. Ah, estou sozinho outra vez. O teu marido já te disse? Que sim, já me tinha contado. Então? Eh pá, não sei...não consigo atinar, não consigo ser feliz...faz-me pena a miúda. Sinto a falta. Também sinto a falta dela. Tenho mesmo pena, mas foi ela que se foi embora.
A conversa transferiu-se da cozinha para a mesa da casa de jantar. O jantar a decorrer.
Vá meninos, lavar dentes e ir para a cama, hoje já é bastante tarde. Bolas...isto aqui em casa funciona mesmo, parece militar! Tem de ser. São muitos, há que haver disciplina.
Continuámos noite fora, até às três da matina. Revisitando memórias comuns que nos lembram há quantos anos nos conhecemos, 23. Ouvindo desabafos, fazendo pouco mais do que ouvir, porque é para isso que servem os Amigos quando os procuramos em momentos de crise. Para nos ouvirem e "darem colo". Eu a ouvi-lo e a não conseguir ser racional. A sentir pena daquele homem, mais velho que eu uns aninhos, Pai de jovens adultos e de uma criança pequena, a pedir atenção e conforto. A pedir companhia de quem conhece há tantos anos porque se sente só, ao fim do dia quando chega a casa e encontra vazia uma casa que já foi tão cheia. Eu a ouvi-lo e a pensar nas palavras que oiço da boca dele "O difícil, nesta vida, é ser simples", e a pensar porque razão é os seres humanos são tão complexos nas suas relações. Tão exigentes consigo próprios e, ao mesmo tempo, tão inseguros, tão independentes e tão necessitados de atenção.
Porque razão não podemos ser simplesmente F e l i z e s ?
5 comentários:
Concordo absolutamente contigo. O mais difícil é ser simples, mas de verdade sem artifícios ou só quando convém. Desculpa lá o tom agreste mas hoje "está mesmo mar", por contad e pseudo-simples, pseudo-interessados, pseudo tanta coisa.
É engraçado, como bem mais vazia de gente agora a minha casa parece a tua.
bjos
Tita
De facto! As relações tranformam-se em ralações e quando se dá conta os verdadeiros amigos são o suporte de alguma felicidade.
Bjs
Uma boa pergunta, a final...
Já estive nos dois papeis, e arrisco a dizer que ainda passarei por situações idênticas, parece que viver tem dessas coisas...
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exactly!
Sabes o engraçado é que hoje escrevi um texto enorme sobre isto, mas n sei pq, resolvi n publicar, e comecei a ler blogs e dei de caras com outra coisa, e sei la---- e agora leio este teu texto.... e olha, toma lá um beijo!
:)
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