Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

No Divã, Comigo



Volta não volta bate esta nostalgia que me deixa mais virada para o cinzento do que para o branco dos dias. Cá a vou levando no vai e vem dos meus dias, tentando não lhe dar uma importância por aí além, para que ela não me leve a melhor. Não sou jogadora, mas também não gosto de perder o que considero meu por direito. Então, quando a nostalgia vem, tento que ela perceba que não é mais forte que eu e que a minha força não desaparece só porque sim. Tenho-me psicanalisado a mim mesma, na tentativa de me libertar desta massa de nuvens cinzentas que por inércia minha se foram instalando no sotão do meu cérebro que não costuma ser desfeiado por teias de aranha. Não que eu tenha alguma coisa contra as aranhas ou as suas teias, mas prefiro que umas e outras se instalem em territórios diferentes do meu. A minha psicanálise não tem resultado muito bem, ou pelo menos não tem conseguido romper com a dita nostalgia. Nos dias que correm, pertenço ao grupo dos que deveria sorrir de orelha a orelha com o melhor sorriso Pepsodent do mundo. Tenho casa onde viver, carro para me transportar a mim e aos meus Filhos, refeições certas na mesa e uma Família sem problemas de saúde. Feito o primeiro diagnóstico com o pragmatismo que se exige, chega-se a outro nível. Então, talvez seja no interior de mim que se deva pesquisar a causa de tal estado de nostalgia permanente. De que sinto saudades? O que é que já tive que não tenho neste momento? E se perdi algo, porque o perdi? Fui eu que o deixei ir ou a sua perda foi involuntária? Pois...aqui é que a porca torce o rabo. Não me é fácil inventariar. Logo eu que sou fanática por listas...Arrisco uma hipótese. As barreiras dos 20, dos 30 e dos 40 foram facilmente transponíveis. Sem crises de identidade ou grandes questões metafísicas. De repente, como se de uma sessão de hipnotismo se tratasse, o ser que sou desatou a questionar o outro ser que dentro dele existe. Questiona-o sobre o sentido da vida que se leva hoje em dia, em que os dias nascem e morrem numa questão de segundos sem que consigamos usufruir da companhia dos que mais gostamos, dos bens materiais que temos e que nos dão prazer (os livros, a música, os filmes, a escrita), do mundo que nos rodeia. Questiona-o sobre se fará algum sentido manter a opção de vida que foi feita há anos atrás. Questiona-o sobre a natureza humana, sobre a relação das pessoas, sobre a amizade e o amor. Pára, pára, por favor. Os dois seres, os dois Eu's que me habitam confrontam-se. Enquanto não puserem fim a este confronto de ideias, a pessoa que eu sou não conseguirá voltar ao trilho que percorria sem sobressaltos.

2 comentários:

Filoxera disse...

Falamos por outra via.
Assim que eu tiver a possibilidade, nesta vida
"em que os dias nascem e morrem numa questão de segundos sem que consigamos usufruir da companhia dos que mais gostamos".
Semana hiper-activa e fim semana demasiado prolongado, mas alguma hipótese arranjarei.
Porque me parece que te compreendo bem.
Beijos.

Miudaaa disse...

Olá Vera
Ao ler este texto poderia dizer que fui eu que o escrevi hoje, dia 11.01.2010.
Questiono, será que os Quarentas trazem estas questões todas a correrem umas atrás das outras?
Gostava muito que assim não fosse. Acredite que gostava, mas não as consigo parar, elas correm muito mais do que eu.
Bemmm, mas a vida continua e o que me levou a escrever-lhe, foi apenas e só dizer-lhe que não está só, nestes pensamentos lançados por vezes para os sofás, divãs :)
Não que isto sirva de conforto, mas é uma partilha, que aqui deixo, be, como deixo também, o texto de Miguel Torga que colei a 1 de Janeiro no espelho da casa de banho e armário da cozinha (sitios que olho diáriamente :) )

"Recomeça...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…"

Aceite um beijo da maria (miudaaa)

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