Grafia

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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Afectos no Interior da Fragilidade


Somos Três. Já nenhum de nós tem as mãos assim pequeninas, apetitosas de bébé. Já todos nós fechámos dentro das nossas outras mãos pequeninas, apetitosas de bébé, dos nossos Filhos. Para os nossos Pais continuamos a ser os bébés a quem eles seguraram as mãos, encheram de beijos nas bochechas, de mimo. Os papéis invertem-se agora. A vida quis mostrar-nos que nós Três, diferentes, tão diferentes, continuamos a ser os mesmos que há muitos anos atrás formavam um trio inseparável e que, apesar de termos crescido e seguido rumos diferentes, temos características e gostos que nos continuam a unir. Juntámo-nos hoje na visita ao Pai. Chegaram primeiro as raparigas. Viajaram juntas Marginal e A5 fora. A mais nova conduziu. A mais velha deixou-se conduzir. Dispensaram o elevador e subiram cinco andares a pé, unidas pelo pavor a elevadores. Chegou por último o caçula. De canadiana vestida e mochila às costas. Rapidamente as pernas do Pai se transformaram em suporte para o trabalho fotográfico do rapaz. Comentaram-se imagens, elogiaram-se umas e outras nem tanto. Pedincharam-se algumas (eu, claro!), com sucesso. Saíu de seguida a máquina fotográfica. E o caçula fotografou soros, bacias de inox, pés articulados de cama de hospital, tubos, o que lhe apeteceu. Falámos de tudo e de nada. Despedimo-nos. As manas tinham que regressar aos seus bébés já crescidos. O mano ia dar o seu lugar de visita à mãe do seu bébé que esperava a vez de entrar. Descemos a pé cinco andares. No estacionamento conversámos, rimos da "marretice" dos nossos Pais, preocupámo-nos em conjunto pela incerteza do que ainda está para nos chegar, mimámos a benjamim da Família. Vieram de novo as manas, A5 e Marginal fora. Agora debaixo de céu mais do que plúmbeo, de chuva forte, de mar ainda e sempre revolto.
Neste bocado de tarde de domingo não houve filhos para tomar conta, maridos a exigir atenção, casas a quererem lembrar-nos da nossa condição de adultos. Neste bocado de tarde de domingo houve Filhos em redor de uma cama de Hospital, enchendo de afectos o ar impregnado pela fragilidade da doença.

1 comentário:

inesn disse...

este texto emocionou-me de uma forma que a vera não imagina...

força e um beijinho.

inês

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