Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Eu e a minha Máquina,
Agosto 2008
Alentejo

Inventa um segredo qualquer e conta-mo. Devagar para que eu possa reter na minha memória todas as palavras que só a mim irei contar. Em voz baixa, porque é em voz baixa que se devem contar os segredos. Sim, pode ser aqui, perto deste curso de água que depressa se diluirá no mar imenso. O mar será nosso cúmplice, engolirá as palavras levando-as bem para o fundo, para perto de estrelas, algas e rochas, onde ninguém as encontrará. Conta-me um segredo. Enroscamo-nos como algas que se enleiam umas nas outras quando o mar revolto as empurra para a praia. Sussuraremos aos ouvidos mutuamente. A tua pele na minha e os cheiros a misturarem-se. Perderemos a identidade individual e construiremos a identidade comum. Não me abandones. Não te assustes com este meu desejo de fusão. Deixar-te-ei partir sempre que o teu ar se estiver a evaporar, mas volta sempre. Inventa outro segredo e volta. Em cada partida, em cada regresso, haverá sempre mais um pouco de Nós. Seremos uma construção nunca acabada. Precisaremos sempre da energia que geramos quando nos tocamos ao de leve, quando nos olhamos bem no fundo de cada olhar. Nunca nos cansaremos e dos nossos segredos faremos muitas palavras, muitas linhas, uma história. Com pessoas e com o Mar.

2 comentários:

paulofski disse...

Belas palavras que chegaram numa suave brisa trazida na maresia.

Filoxera disse...

Uau!
Voltou a inspiração.
beijos.

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