Fotografia gentilmente
emprestada por
"Life is not about waiting for the storms to pass...it's about learning how to dance in the rain."
Pego no telefone. Quase me cabe na palma da mão. Penso se devo fazê-lo. Marcar o teu número. Ouvir o toque, deixar que atendas, ouvir a tua voz, sentir-te ouvir-me respirar do lado de cá da linha. Em silêncio. Só te quero ouvir. Resisto. Tremem-me as mãos, a garganta seca ao mero pensamento de ter de expelir som para falar contigo. O meu corpo deseja-te. Como te deseja.O sangue que corre dentro de veias e artérias queima-me por dentro. Uma tempestade humana que de mim se apodera, que me sufoca. De pouco me vale a clareza do cérebro que se mantém intacta e que envia mensagens de perigo ininterruptamente. De pouco ou nada me vale passar os olhos pela mesa, tentar concentrar-me em folhas e letras que exigem ser lidas e que os meus olhos desfocam e transformam num só vocábulo. O do teu nome. Rodo a cadeira. A chuva começou a cair em gotas grossas e encorpadas, fustigando os vidros antigos, com bolhas de ar, os originais deste andar onde todos os dias me encerro para trabalhar, ou talvez apenas para fugir da vontade que todos os dias me levaria a ti. Tranformando dois mundos numa aventura maravilhosamente perigosa. Lá em baixo o Tejo. Cinzento, reflectindo o peso das nuvens negras que lhe servem de tecto, corre macio para o mar. Pego no casaco pendurado no bengaleiro de ferro, visto-o, troco os saltos por umas botas baixas, confortáveis, de caminhada e desço os quatro andares de madeira encerada que me separam da tempestade de final de tarde em Lisboa. Não carrego chapéu de chuva. Saio a porta pesada de madeira lacada de verde. Os pés nos degraus de pedra. A chuva a cair. O barulho da chuva na calçada, nos telhados, nos vidros. Os carros que rolam indiferentes a quem nos passeios se encolhe para não ser atingido pela água que fazem saltar quando passam. Velozes no macadame escuro da cidade. Escuro como o dia de chuva. Alheada de tudo lanço-me passeio a baixo. Ando sem rumo. Sem pensamentos. Apenas o teu nome a ribombar-me na cabeça, uma, duas, três vezes, por cada passo que dou. Penso estar a enlouquecer. Viro o rosto para cima, para o céu, e deixo que a água me cubra. O cabelo, os olhos, a boca. Preciso da sensação de frescura, de libertação. O teu nome continua cá, mas agora dentro do peito. Guardado. Resguardado da insanidade de um cérebro que não o quer deixar ser esquecido. Murmuro-o. Quero senti-lo nos meus lábios. Como se da chuva fria tivesses aparecido propositadamente para me beijar. A sensação é de quase conforto. Estás em mim. Só eu sei disso. Sorrio. O toque de sms de dentro da algibeira do casaco. O teu nome...a garganta seca, as mãos tremem, o corpo (re)deseja-te e a tempestade volta. Acompanhando a chuva que continua a cair do céu cinzento e carregado de Lisboa.
6 comentários:
Lindas palavras. Fact or Fiction?
Gosto da maneira visual e sensorial como escreve :)
Dá ao leitor os dois lugares. Primeira e terceira pessoa.
Belo texto ... e que tempestade
fulminante.
TA
uuuaauuuuuuu... que é isto?
:)))
Simplesmente maravilhoso! Uma escrita cativante, repleta de imagens e sensações. Agora percebo quando ficas irritada porque encalhadas na leitura!? Com certeza que a fluidez da escrita advém de muita leitura e exercício, não? Boa continuação.
Interessante ... este texto. Gostei particularmente do detalhe das descrições e do estilo sempre próprio. Tempestade foi uma palavra bem escolhida para este mês, por todas as razões, a começar pelo actual estado do tempo.
belíssimo texto,belíssimo e intenso.Gostei muito e a fotografia foi muito bem emprestada.Só agora vi o comentário e gostava também de encontrar a da ponte.
Sempre que quiseres terei todo o prazer em emprestar as fotografias. Sobretudo para acompanhar textos tão bonitos como este.
Muitos parabéns pelo blogue,voltarei muitas mais vezes.
Muito obrigado por me teres trazido até aqui e pela vida que deste á fotografia.
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