Eu e a minha Máquina,
Jardins da Parede
Maio 2007
O espanto não foi genuíno quando me falaste no azul como sendo a tua cor preferida. Digamos que eu poderia ter chegado lá sem grande esforço. O azul tem implícita em si a ideia de limpeza, de pureza, quase frieza, tal como o branco. Pareceu-me quase evidente que seriam estas as características que gostarias de te associar. Não porque fossem estas as que melhor te definiriam, mas sim porque seriam estas as que te defenderiam. Já te disse. Sou bom leitor de pessoas, de emoções, de sentimentos. Nada em ti é azul. Tudo em ti tem o vermelho da paixão, o escuro negro da tristeza adormecida. Há, no meio das tuas palavras sempre prontas e animadas, um mistério do sentido não transmitido que por vezes me incomoda, me desassossega. Porque me abro eu para ti, deixando-me exposto em todas as minhas fraquezas e dúvidas, se nunca deslindo o que a tua capa azul de pureza e transparência oculta? Serás verdadeiramente minha? Poderás algum dia pertencer-me por inteiro? Sei-o bem. Há entre nós o pacto silencioso do sentimento confortável. Jamais poderei chegar ao teu vermelho. O negro foi-me aberto numa réstia. E eu continuo. A acreditar que um dia me abraçarás com a mesma vontade com que eu desejo o teu abraço.
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