Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Citroen Dyane

Daqui

Dantes o meu carro não era "fashion". Não tinha sete lugares nem air bags. Os bancos eram de napa e de vez em quando aconteciam coisas estranhas como uma porta que caía em plena Avenida da Igreja, frente ao Carcassone, ou a manete das mudanças (de bengala) que saía do sítio e eu ficava espantada a olhar para ela na minha mão. Nesta época, os saudosos anos 80, eu ainda nem conduzia regularmente. Tinha medo. Não tinha confiança em mim e achava que se deixasse o carro ir abaixo e desatassem a apitar-me eu não ia ser capaz de conduzir nunca mais. O carro que nos transportava era uma Dyane. A porta do lado do pendura estava já tão velha que caía ao chão se não tínhamos cuidado. Lembro-me de uma vez, numa bicha interminável para o barco de Tróia, termos tirado as portas e termos andado a passear com elas ao colo fingindo abrir as janelas para arejar o calor que se fazia sentir. Doutra vez, a descer a Alameda demos um toque no carro da frente. Que não sofreu nem uma beliscadura. O dono fez um escarcéu. A nossa Dyane estava amolgada. Com uma pancadinha por dentro, a chapa voltou ao sítio e deixámos lá o outro senhor a gritar. Mas tínhamos um tecto de lona que se abria! Saíamos de S. Pedro do Estoril de tecto aberto, cheios de calor, e quando chegavamos ao Guincho tínhamos de o fechar senão ele voava!
Há momentos que nunca voltam e que raramente lembramos. Até que, de repente, vem um fotógrafo e tira uma fotografia destas. A memória desata a rebobinar informação e as palavras acontecem!

2 comentários:

paulofski disse...

De facto, é na prateleira das memórias que por vezes se descobre o que não se imaginava encontrar e se aprende a não resistir a uma lembrança emotiva.

Artur Lourenço disse...

Eu também tive uma Diane,verde escura,foi o meu primeiro carro.Esteve que tempos empanada no parque Eduardo VII.Era do meu cunhado e a minha mãe comprou-lha para me oferecer.
Já era velha.Como me é familiar a história da manete das mudanças.Também acontecia travar a fundo , á sapatada e quanto mais travava mais o motor acelerava pois não estava bem preso e deslocava-se quando travava puxando o cabo do acelerador.De vez em quando o pedal do acelerador também caia e ficava sem poder andar.Uma vez dei boleia , na costa, a um casal.A meio da viagem, por causa do vento o capot abriu-se sozinho e bateu no para-brisas deixando eu de ter visibilidade (espreitei por uns buraquinhos que tinha para poder a controlar) e ficando todo torto perante o susto dos meus passageiros de ocasião.Nada que não se resolvesse com umas pancadas por dentro e tudo voltou aparentemente á normalidade, exepto para os convidados que ficaram bem assustados.Era um carro formidável que quando chovia ficava sem limpa vidros ou que aquecia por dentro no verão.Valia-me a capota.Se passava dos 80 tremia todo.
Tantas seriam as histórias.Foi o melhor e mais divertido carro que tive. Vendi-o por dez contos para o ferro-velho.Completamente podre.Ainda hoje tenho pena.

É engraçado que o texto aida me fez recordar mais coisas que a própria fotografia.
Obrigado (também) por isso.
BJS

Blog Widget by LinkWithin