Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dedos Manchados de Tinta


Fui obrigada a pensar para trás, para publicar no Livros de Graça o meu testemunho sobre o 25 de Abril. A escassez de memórias de infância é trágica. Não sei se existirá um significado psicanalítico para isto, mas o que é verdade é que só com muito esforço consigo andar para trás no tempo e chegar à infância. Depois, quando lá chego, encontro imagens desligadas entre si. Lembro-me de alturas muito díspares da minha vida não conseguindo encontrar o fio que as deveria unir umas às outras.
Mas se há memória presente em mim, a caneta de tinta permanente é uma delas. Tive uma Parker azul escura e com ela escrevia na sala de aula, principalmente em dias de prova. A prova que se fazia em papel de 25 linhas, azuis, com uma dobra na margem esquerda, onde a professora poria a classificação, a sua assinatura e as observações que considerasse dever fazer. A minha maneira de pegar na caneta nunca me causou calos em qualquer dos dedos da mão direita, mas ofereceu-me sempre uma mancha de tinta permanente no dedo do meio (o dedo da asneira, como diz o Mateus).
A evolução dos materiais acabou por impôr a esferográfica à tinta permanente. As manchas no dedo desapareceram. Mais tarde, já crescidinha, tive imensas canetas de tinta permanente, daquelas baratuchas, de várias cores, que eu carregava com cartuchos de tinta também de cores variadas.
Tenho saudades da minha Parker azul escura e do dedo manchado de tinta. Tenho saudades das provas da primária em papel de 25 linhas azuis. Tenho saudades da minha Professora, a D. Rosa. Tenho saudades dos dias dos quais não tenho memórias!

1 comentário:

vera nc disse...

eu também tinha uma parker tinta permanente (era obrigatório) e tinha sempre os dedos manchados ...

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