Dizem que quem tem um livro para ler está sempre acompanhado e que quem tem o dom da escrita tem também o privilégio de viver em dois mundos distintos. O mundo real e o mundo que tem dentro de si, que o leva a escrever, a encontrar outros mundos, a refugiar-se do mundo real. Mas, e se os mundos perderem os seus limites? Se o real continuar a decorrer cá fora e o escritor se fechar dentro da sua realidade interior e até superior? Quais os custos do isolamento? Quais os benefícios da saída de si para si? Há no mundo interior uma maior complexidade de estados de alma, de pensamentos, de relações a explorar. Há no mundo exterior toda a sucessão de regras e de penalizações para o não socialmente aceite. O escritor foge. Precisa de ultrapassar o que é imposto, precisa de infringir, precisa de arriscar. Sem ser penalizado. Sem ser culpabilizado. O escritor nunca está só na sua dualidade de mundos, mas está irremediavelmente só no mundo onde vive.
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