- És feliz?
Disparou assim a pergunta, aos primeiros raios de sol da manhã, ainda abraçados, na cama, depois de uma noite em que talvez tivessem sido felizes.
Ela soltou-se do abraço que a enlaçava. Lá de fora, vinda não sabia bem de onde, a voz de Elvis Costello entoava o "She" que ela intimamente considerava a sua canção, a canção que alguém, um dia lhe dedicaria. Olhou-o nos olhos enquanto a mão direita lhe afastava da testa o cabelo despenteado. Enquanto o fazia sentiu que a vida dos dois, em comum, lhe passava à frente dos olhos em movimento acelerado. Nas imagens que corriam ela procurava desesperadamente encontrar a que lhe fizesse responder afirmativamente à pergunta dele. O coração parecia ter abrandado o seu movimento de bomba impulsionadora de sangue e batia agora devagarinho, quase parado. E os olhos dele não saíam dos dela. E os olhos dela perdiam brilho e entristeciam. Para dentrto de si, envoltas em raiva, uma raiva incontrolável, gritava «apareçam!!!! eu sei que em alguma parte de mim vocês existem!!!!».
- Sim, sou feliz...
Lá fora, a música terminara.
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