Grafia

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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Crise A Austeridade As Caras Fechadas no sol(o) português

Daqui
De que vale esconder a cabeça, a cara entre as mãos?
A austeridade vai cair-nos em cima de qualquer modo.
Vivemos num país inundado de sol e coberto por uma população maioritariamente infeliz, carrancuda e desanimada. Abafados pela palavra crise que nos esmaga há tempo suficiente, fomos agora "premiados" com decisões que nos indicam caminhos de mais austeridade e dificuldades. Só não percebo onde poderemos "cortar" mais e poupar mais.

Talvez deixando de comer, uma vez que o IVA vai subir 2%.
Talvez deixando de comprar livros e jornais.
Talvez acreditando que cinema e teatro e espectáculos não passam de conceitos aos quais não corresponde nenhuma realidade física.
Talvez deixando de nos mexer, porque o movimento causa gastos de energia.

Vamos ser um país de gente parada, ainda mais parada. Queixamo-nos de que pouco ou nada evoluímos, de que pouco fazemos, mas como sobreviver a tanta dificuldade?
Preciso de acreditar que os tempos de sacrifícios que temos vivido irão terminar um dia. Um dia respiraremos fundo e poderemos dar pausa ao cálculo mental permanente em que vivemos.
Precisava de acreditar (mesmo sabendo inconscientemente que seria mentira) que os que ganham muito mais do que aquilo que qualquer um de nós consegue imaginar, também vão aderir a este plano de austeridade de forma real. Cortes reais em salários que se assemelham a pequenas heranças mensais talvez poupassem mais dinheiro ao Estado. Proibição, punida com penas reais, de gastos supérfluos como viagens, despesas de representação, carros e combustíveis. O pior é que neste campo, a crise não passa de um cenário onde se movem personagens pequeninos de quem ninguém conhece os nomes...nós, os que pagamos impostos, taxas, etc.

"No próximo ano lectivo todos os alunos vão ter direito a manuais escolares gratuitos graças a bolsas de livros usados nas escolas", ouvi esta manhã na rádio. Interessante. Algo que muitas escolas e grupos de Pais/Encarregados de Educação andam a tentar há muito tempo e não conseguem dinamizar. Como é que se vai conseguir pôr essa medida em funcionamento? Vamos deixar, finalmente, de ter livros a mudar de ano para ano só porque "sim", quando as mudanças reais são de quatro em quatro anos?

Escondo a cabeça e a cara entre as mãos. Respiro fundo porque preciso que o ar (que ainda não pago para respirar) me entre nos pulmões, me renove por dentro, me refresque o cérebro. Fecho os olhos, porque o Sol, apanágio do nosso belo país banhado pelo belo mar, me fere os olhos. A escuridão é o que nos rodeia.

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