Este ano, numa lógica de economia familiar, decidi que não iria comprar manuais, a menos que não os conseguisse via empréstimo. Para além de poupar (muito) dinheiro, estou também a contribuir para a sustentabilidade do planeta, não contribuindo para o desperdício de mais papel no final do ano lectivo.
Pus-me em campo e, contacto a contacto, lá fui conseguindo reunir os manuais de que iríamos precisar cá em casa para enfrentar mais um ano de escola. 7º e 10º anos. Consegui todos os manuais e cadernos de actividades. Que bom, pensei. A vida não está mesmo fácil e uma conta de água relativa a uma fuga no quintal arrasou com todo o nosso orçamento no regresso de férias.
"Mãe, o meu livro de Matemática é diferente do dos outros. O que vale é que o da Profª é igual ao meu.", discurso do Manel (10º ano);
"Mãe, o livro de Matemática que eu tenho não é igual ao dos meus colegas.", discurso do Martim (7º ano)
Ouço estas frases quase gémeas, ditas com uma diferença de 24 horas, quase com indiferença. Se existe alguém a quem se aplica a célebre frase "Um almoço nunca é de graça", esse alguém sou eu. Estava a considerar a hipótese de ser mesmo muito sortuda, por não ter de comprar livros. Aborrece-me esta política dos livros. Mantêm-se capas, mantêm-se autores e nome do manual, muda a ordem das páginas, razão suficiente para que os professores aconselhem a compra do livro deste ano. Já me aconteceu uma vez, também com matemática.
Não sendo nem tendo sido nunca beneficiária da Acção Social Escolar, debato-me, ano após ano, com a exorbitância de preços de manuais e material escolar que se acumula em listas completamente impossíveis de compreender (este ano, para o 4º ano, foram pedidas três resmas de papel e quatro cartolinas grandes...). Diz-se que o ensino obrigatório é gratuito. Se o compararmos com o particular, poderemos considerá-lo gratuito visto ñão sermos obrigados ao pagamento de mensalidades, mas se pegarmos na definição de gratuito e a aplicarmos ipsis verbis, teremos tudo menos um ensino sem custos. Não consigo compreender que num país em crise, todos os anos, se alterem interiores de manuais escolares para que os Pais/Encarregados de Educação tenham de comprar novos exemplares quando os poderiam reciclar de amigos, irmãos, primos.
Compreendo que as escolas públicas não tenham orçamentos que lhes permitam fornecer o material básico aos seus alunos, o papel. Já não compreendo porquê.
No meu caso, somos uma Família Numerosa, com um só vencimento, com despesas com habitação, alimentação, saúde, educação. O único vencimento é declarado na totalidade e, assim sendo, é decidido, por quem de direito, não haver lugar a acção social escolar. No entanto, casos há, em que havendo a hipótese de não se declarar a totalidade do que se aufere, há também lugar à concessão do dito apoio. Por mais vigilância e controle que existam por parte das Finanças, estas situações vão sempre acontecer, porque vão sempre existir formas de "fugir" e, assim sendo, o sistema nunca será justo. Por mais que se acabe com subsídios por um lado e se tente tornar mais justos os que subsistem, nunca existirá essa justiça.
É discurso unânime em todos os quadrantes políticos que as famílias vivem momentos de grandes dificuldades, resultantes da situação económica e financeira difícil que se vive nas sociedades mundiais actuais. Então, porque não se criam medidas que possam aliviar algumas dificuldades? Porque não se dão orientações para que os manuais sejam reutilizados? Porque não se dão orientações para que o material pedido no início de cada ano lectivo seja o minimamente indispensável e não o que presumivelmente se irá utilizar durante um ano lectivo inteiro?
No final do mês de Setembro, tratarei de comprar os livros cujas páginas mudaram de sítio.
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