Daqui |
O homem sai de cena. Sente que aquele não é o seu lugar. As cumplicidades falharam. Ou talvez nunca tenham existido. Apenas momentos soltos, coincidências, vontades pontuais os tinham ligado. O fio condutor estalara. O homem está perdido. A sua consciência masculina não o preparara para a possibilidade da palavra fim aparecer na sua própria história. O homem sai de cena e sente-se ferido, de morte. No lugar da garganta está um bloco que impede a passagem do ar, no peito há um peso que lhe prende a repiração e a voz. Como fazer seguir a vida, o que é a vida a partir dali? Tudo estava garantido e certo. Era assim que a vida decorria, linear, sem sobressaltos, com tudo e todos no devido lugar. Agora tudo está em causa, tudo se altera, tudo desaparece, os lugares já não são de nada nem de ninguém. O homem sai de cena e esconde-se. O lugar que habitualmente o acolhe para a pausa transforma-se no lugar que agora o acolhe para o silêncio, o fim. De garante passará a quê, agora que tudo terminou. Não consegue esquecer os cheiros, os ruídos, os silêncios que lhe caracterizaram a vida. O homem sai de cena. Da cena que lhe era cara. Vai ter de se reconstruir, de reinventar tudo. O homem sofre. Em silêncio e sem lágrimas. Afinal, é um homem. E os homens não choram.
1 comentário:
Lindo, como sempre... Martinha
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