Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Peso da Idade [Adulta]

Daqui
Ser adulto é penoso.
É-se adulto. Quando há dois dígitos indicadores da idade que limitam esse estado da vida e enquanto não se chega lá, anseia-se por chegar. Ser adulto reveste-se de uma aura de maravilhosa liberdade e independência. Ilusão total de idade não adulta. O ser adulto confere o maior estado de prisão que cada ser humano conhece ao longo da sua vida. O facto de se ser adulto condiciona uma série de comportamentos, atitudes, opiniões.

Há dias em que me aguento melhor. Tenho a cabeça mais ocupada com outras questões e consigo superar as minhas próprias questões existenciais. Há outros dias, como o que vivo hoje, em que a cabeça está focada em tentativas frustradas de explicar comportamentos e atitudes de outros. Deveria ignorar pessoas e respectivos comportamentos que me causam repulsa, mas dou por mim incomodado. De que me tenho feito adulto? Como me tenho construído nesta condição de ser crescido e responsável. Quantos são os que considero meus companheiros, meus amigos. Triste e fraca condição esta de se ser adulto. Quando era criança, jovem, tudo era mais simples. Os amigos eram amigos para toda a vida, incondicionalmente presentes, quantos mais melhor. Não existia a individualidade do eu, apenas a individualidade do grupo que se apoia. Sempre. Ser adulto é perder a ingenuidade, é perder a magia, é perder o grupo. Hoje sento-me só a uma mesa em que existem muitos outros lugares preparados. Não faço questão em ter companhia. Tenho aprendido ao longo dos anos o sentido do provérbio que nos lembra que muitas vezes não há nada melhor do que a companhia que fazemos a nós próprios. Assim estou hoje. Demasiadas cicatrizes de companhias em que apostei e que se revelaram dispensáveis. Demasiado conhecimento sobre os factores que nos tornam apetecíveis e facilmente descartáveis. As amizades, as verdadeiras, continuam a ser as do grupo. As que se aninham lá atrás na memória da infância. Essas, mesmo que distantes, constituem uma almofada à qual me posso encostar sem ter medo de não encontrar apoio.
Ser adulto é penoso.
E imensamente solitário.

2 comentários:

Su. disse...

Este texto foste tu que escreveste? Gostei muito.

Vera disse...

Sim, fui eu que escrevi :-)

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