Há uns anos, talvez uns quinze, em conversa com outra Mãe, concluíamos que a maternidade nos tinha tornado muito mais sensíveis aos problemas dos outros, em especial aos problemas e ao sofrimento das crianças.
Passados quinze anos, continuo com a mesma hipersensibilidade quando me defronto com crianças a chorar, doentes, maltratadas e, por vezes, até alegres. Os meus olhos não contêm as lágrimas, a garganta não engole o nó que a tapa. Esta minha sensibilidade torna-me incrédula perante capas de revista onde o sofrimento aliado a crianças acaba por se traduzir em vendas astronómicas.
Ontem, numa corrida ao supermercado, não consegui deixar de me sentir completamente incrédula perante a capa de uma revista que noticiava a morte de uma criança, "depois de não ter conseguido vencer a Leucemia, após um transplante de medula óssea". Fiquei quase estática perante aquela capa. Um miúdo Tão giro, o mesmo miúdo numa cama de hospital, tubos e máscara na cara, cabeça completamente calva, uns olhos suplicantes virados para uma Mãe cuja cara era o rosto da tristeza mais profunda que se deve poder sentir - a doença e morte de um Filho. As minhas lágrimas fizeram questão de me lembrar que existiam. Abandonei o lugar frente à revista, voltei costas e vim-me embora, mas a capa ficou gravada na minha memória e as questões relacionadas com a popularização de um sentimento Tão íntimo surgem na minha cabeça.
Quão lucrativo pode ser o sofrimento de outrém?
Até que ponto será ética a publicação destas imagens?
Que espécie de pessoas somos?
1 comentário:
Também não compreendo, Vera, como é que esses casos vão parar às revistas e, pior ainda, às respectivas capas. Quem passa a informação? Quem autoriza a publicação?
De resto, só me ocorre dizer o que todos dizem, que os filhos nunca deveriam morrer antes dos pais. É porque isso acontece que penso que o nosso Criador não é um Ser perfeito: Ele concebeu bem as coisas da vida e do universo, mas executou-as muito mal.
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