Daqui Livraria Ferin, Rua Nova do Almada |
Espreito-os cá de fora.
Causam-me desejo. Um desejo tão forte que mal controlo a emoção sentida ao pensá-los tão perto de mim. São centenas, milhares deles. À minha disposição. Alinhados, pacíficos, anseando por atenção e ternura.
O vidro embacia com o vapor causado pela minha respiração. O frio é cortante e sinto-o a atravessar-me a roupa, a gelar-me os ossos, a paralisar-me os movimentos. Tenho as mãos enfiadas nas algibeiras do casaco que não consegue parar o meu tiritar. Tenho o nariz colado ao vidro. Vejo-me no reflexo e, simultaneamente, deixo de me ver quando a névoa da respiração cobre tudo e encobre o que lá dentro repousa. No quentinho de um ar condicionado, na temperatura ideal.
Hesito entre empurrar a porta e passar a fazer parte do que observo e continuar cá fora, espectador atento da calma e da serenidade que só prateleiras inteiras cheias de livros me conseguem transmitir. Se eu entrar, a serenidade será violada. O meu desejo far-se-à notar e todo este mundo que observo, embaciado, se transformará. Eu, pessoa, sou capaz de alterar o ambiente em que entro. O meu desejo por todas as letras é demasiado intenso. Acelera-me a respiração...
...o pensamento vagueia, adivinha cada uma das histórias que as prateleiras abrigam. Não são histórias de amores felizes, essas não me agradam em nada. São histórias densas e complexas, com palavras estranhas que me obrigam a um outro livro por perto para decifar aquele que escolhi para ler. São histórias onde os amores são real e cruelmente infelizes, atribulados, recheados de segredos que não se dizem.
Já não me lembro do frio e por isso decido não passar da porta para dentro. Estou adormecido ali na soleira da porta. É Natal e não quero sair dali. O que me espera não me faz correr, prende-me ao chão, à calçada, maravilhosa e fria. No vidro embaciado que me hipnotiza o olhar e me ata pés e mãos, surge outro rosto que pelas costas se aproxima de mim. Encosta o corpo ao meu. Pousa a cabeça no meu ombro sussurando-me ao ouvido o meu nome, P e d r o. As cinco letras ditas assim, baixas e roucas, quentes no frio da noite, com os corpos chegados um ao outro, soam-me, ressoam-me no cérebro. O meu nome naquela voz, que conheço, que me faz tremer as pernas. Viro-me. Os meus braços cruzam-lhe o corpo que se me oferece tão simplesmente. E o desejo que ainda há pouco me estremecia o corpo ao olhar os livros, volta. Quente, forte, sufocante. Passo-lhe as mãos no cabelo, aliso-lhe. Desenho-lhe com os dedos a curva das sobrancelhas, o recorte dos lábios. Os olhos fechados, o corpo abandonado ao meu. Beijo-a. Abraço-a como se a quisesse proteger. Abrigo-a do frio em mim. Sinto-a.
Afinal é Natal...
Hesito entre empurrar a porta e passar a fazer parte do que observo e continuar cá fora, espectador atento da calma e da serenidade que só prateleiras inteiras cheias de livros me conseguem transmitir. Se eu entrar, a serenidade será violada. O meu desejo far-se-à notar e todo este mundo que observo, embaciado, se transformará. Eu, pessoa, sou capaz de alterar o ambiente em que entro. O meu desejo por todas as letras é demasiado intenso. Acelera-me a respiração...
...o pensamento vagueia, adivinha cada uma das histórias que as prateleiras abrigam. Não são histórias de amores felizes, essas não me agradam em nada. São histórias densas e complexas, com palavras estranhas que me obrigam a um outro livro por perto para decifar aquele que escolhi para ler. São histórias onde os amores são real e cruelmente infelizes, atribulados, recheados de segredos que não se dizem.
Já não me lembro do frio e por isso decido não passar da porta para dentro. Estou adormecido ali na soleira da porta. É Natal e não quero sair dali. O que me espera não me faz correr, prende-me ao chão, à calçada, maravilhosa e fria. No vidro embaciado que me hipnotiza o olhar e me ata pés e mãos, surge outro rosto que pelas costas se aproxima de mim. Encosta o corpo ao meu. Pousa a cabeça no meu ombro sussurando-me ao ouvido o meu nome, P e d r o. As cinco letras ditas assim, baixas e roucas, quentes no frio da noite, com os corpos chegados um ao outro, soam-me, ressoam-me no cérebro. O meu nome naquela voz, que conheço, que me faz tremer as pernas. Viro-me. Os meus braços cruzam-lhe o corpo que se me oferece tão simplesmente. E o desejo que ainda há pouco me estremecia o corpo ao olhar os livros, volta. Quente, forte, sufocante. Passo-lhe as mãos no cabelo, aliso-lhe. Desenho-lhe com os dedos a curva das sobrancelhas, o recorte dos lábios. Os olhos fechados, o corpo abandonado ao meu. Beijo-a. Abraço-a como se a quisesse proteger. Abrigo-a do frio em mim. Sinto-a.
Afinal é Natal...
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