Grafia
A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.
terça-feira, 17 de abril de 2012
Olhando para trás,
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lembro-me que havia uma máquina de escrever. Não igual a esta!
Era preta, pesada, fita vermelha e letras encarrapitadas em cima de uns ferros que se chegavam à frente de cada vez que lhes tocavamos. Batiam no papel, deixavam a marca e vinham à frente, mostrar-se!
Na mesma escrivaninha havia um mata borrão, uma elipse com corpo que se balançava em cima do papel escrito a tinta permanente e que absorvia as letras, duplicava-as em negativo.
E havia um Avô. Que lia o velhinho Diário de Notícias enorme.
E dois sofás de napa vermelha. Um deles está cá. Na minha casa, no meu escritório, encostado às estantes dos meus livros.
O Avô que me ensinou a ler naquele jornal estendido no chão.
A máquina de escrever que não era um brinquedo, mas que os nossos dedos gostavam de utilizar, matraquear, fazer barulho e ouvir a campainha que tocava quando o rolo chegava ao final do papel, avisando que era obrigatório mudar de linha. A máquina não era um brinquedo, mas o Avô deixava que brincássemos.
A máquina de escrever mudou de mãos. Das do Avô para as de um dos seus Netos. Lá está ela, em destaque, para nos relembrar as tardes em que o Avô nos deixava ouvir aquela campainha.
Pormenores...
Daqui |
I. ...De Casa
Casa. Há bem pouco tempo, o meu Universo.
Agora, a minha casa. O porto onde regresso após cada viagem, o destino desejado, o ponto final de cada dia.
Casa. O lugar por onde viajo hoje.
A mesa da casa de jantar pejada de papéis e dossiers. Os telefones. A minha agenda. O dia de hoje vai ser dedicado aos contactos. Iniciar novos e consolidar mais antigos. A conversa, o sorriso, as palavras. Os resultados vão surgindo e a lapiseira, fina, vai transformando em manchas escuras os espaços brancos da minha agenda. Aqui sorrio eu. A agenda em branco angustia-me. Gosto de a ver carregada de nomes de quem não conheço mais do que a voz ao telefone. Cada voz uma surpresa. Cada saída de casa uma nova Família que visito, vou conhecendo aos poucos, vou adicionando ao meu registo de memórias. [mais material para "aquele" livro que um dia vai acontecer].
A rotina da casa alterou. A rotina da Família alterou. A casa sente a minha falta, sinto-o, vejo-o nos pequenos pormenores que só eu detecto.
II. ...Dos Filhos
Os filhos. Neles também muita coisa mudou.Estão mais crescidos e soltos. A alteração na minha vida tem feito com que se alterem também as rotinas deles. De repente parece que cresceram. De repente há namorado/namorada nos mais velhos. Há mais ausências na mesa de refeições, há mais presenças. Podemos ser só quatro, mas também podemos passar a oito. A flutuação. O movimento da Família. Cada um de nós é um Mundo, uma realidade, sonhos, pensamentos e palavras que se junta a outros Mundos e cria um Atlas de conversas, de dúvidas, de desejos e planos. Um Atlas onde os Países também têm cores diferentes, onde uns têm mais terra e outros mais água, onde uns sonham e outros estão bem presos à Terra.
Medo. Perda. Duas palavras que me ensombram volta não volta.
Orgulho. Palavra que define o meu Mundo de Mãe.
O meu Mundo, agora transformado em dois, divide-se por estas três palavras. Porque é enorme o sentimento de orgulho que tenho nos meus Filhos, mas enormérrimo o medo de os perder.
III. ...De mim
À cabeça vêm-me memórias de outros dias.De determinados dias.
Dias. Lá ao longe.
Sinto-lhes o cheiro, a textura, a macieza do clima morno, os sorrisos que por lá andavam.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Promessa a Uma Pessoa [Sozinha]
Daqui |
Nunca mais.
Estou sozinha.
Uma vez mais.
No silêncio da noite. No vazio da cadeira que me olha de lado. Que me provoca. Não a ira, a tristeza. Uma tristeza que arranha a garganta, põe os olhos sem brilho, os lábios sem sorriso.
Estar sozinha é estar assim.
Inventar conversas de mim para mim e conversá-las.
Está frio. Que raio de tempo este que não se entende...
Tal como eu não me entendo a mim.
Sozinha.
Que importa onde.
Importa a promessa feita
E essa não foi cumprida
Breve Crónica do Tempo que passa
Daqui |
Tudo mudou para mim.
O tempo deixou de ser contado entre lençóis engomados a preceito e peúgas estendidas aos pares para que a tarefa de as dobrar fosse facilitada.
O tempo passou a ter outra importância. A importância de um trabalho que gosto de fazer e que me traz num vaivém de kms, de conversas, de pessoas.
[Sobre estas tantas pessoas que tenho conhecido, quase poderia escrever uma centena de crónicas. São tantas as que tenho conhecido nestes últimos 17 meses.]
17 meses, tanto tempo e que parece tão pouco. Parece que foi ontem que me lancei nesta aventura, de braços abertos como se de asas se tratasse. De alma aberta para novos desafios.
17 meses, a altura em que as crianças ensaiam passos mais ousados, palavras mais completas. É como me sinto. Uma criança que está a arriscar as aventuras de andar e falar.
O ano encerrou as portas comigo em sucesso e Janeiro trouxe consigo a surpresa de novos desafios. A princípio fiquei quase em coma. As palavras ouvidas a ressoarem-me no cérebro. A minha vida a passar como um filme. 46 anos. Tudo o que fui fazendo. Tudo o que me fez o que sou.
Já estive suspensa. Depois vieram dias de formação. Ouvir, ouvir, ouvir. Escrever, aprender, digerir, dar a volta a todos os pensamentos e tentar que se arrumem e me ajudem a arrumar-me.
A nova etapa já começou. Plena de desafios. Plena de trabalho. Horas e horas fora de casa...
E eu? Eu só. A Vera. A que lê. A que pensa. A que espera sempre mais.
Continuo eu. A leitura em ponto lento. O pensamento sempre presente. Eu, os outros, o presente e o futuro, porque ainda não atingi a capacidade de um dia de cada vez.
Continuo a acreditar que no futuro algo de melhor vai acontecer. Continuo que os dias vindouros me irão surpreender. Coisas boas. Acredito sempre nelas.
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