Deambulações...em mais uma Manhã Cinzenta

Nasci numa sexta feira.

Não sei se estava calor ou frio. Sol ou chuva.
Não sei porque nunca perguntei e também nunca me ninguém me contou.

Sei que gosto de sextas feiras e percebo agora porquê.

Sei que sou de fabrico africano e por isso gosto do calor.

Sei que gosto de areia nos pés. No corpo.

O Sol teima em não aparecer. Não o posso culpar. Está de férias. Merece-as como todos nós. É Inverno e no Inverno é suposto ser o tempo de trabalho da chuva, do vento e do frio. Porque hei-de querer Sol? Mas eu preciso de respirar ar livre. Ar puro. Não me importo com o cinzento do céu.

Mãos no volante e pés nos pedais. Porque gosto de conduzir. Aprendi a gostar e sei que o faço bem. Sigo a linha do Mar. Primeiro sem um objectivo fixo. À medida que vou avançando vou percebendo para onde me vou levando, inconscientemente, atentamente.

O destino está à vista e aproveito-o. Caminho. Ar frio misturado com salpicos salgados batem-me no rosto. A areia, desassossegada pelo vento que não quer dormir mais, agita-se de um lado para o outro, pica na pele como se de pequenos alfinetes estivesse mascarada. Mas eu não tenho frio. Sinto-me aquecida pela beleza infinita do mar e do espaço a perder de vista. Areal despido de pessoas, povoado por gaivotas que procuram na terra a calma perdida da água.

E quando o passeio chega ao fim, levanto as pernas, uma a uma, apoiadas no companheiro de viagem, e sacudo a areia que fica presa à lona dos ténis, pedindo que a leve comigo...

Imagem digitalizada do livro "Com os olhos no mundo, A Mercedes-benz vista pela objectiva da Foto-Community flickr.com"