"[...] Vergo-me à torneira, entorto a boca para beber. Molho primeiro só os lábios, mesmo a face. E uma frescura de repouso alastra-me aí, desce um pouco em reflexo por todo o corpo. Abro a boca, um gole de água e um fundo bem-estar desce-me ao interior. Há uma avidez em mim para me inundar de frescura, os sítios da sede abrem-se à inundação, à necessidade urgente de um repouso que alastre em mim - bebo devagar. Mesmo não se bebe em torrente, os mecanismos de beber seccionam as porções e é um gole de cada vez - bebo. Uma paz natural desce-me com a água e tudo em mim alastra de abandono feliz. Estendo mesmo as mãos, rodo-as à água corrente e sinto que há sede a morrer na minha pele, na frescura viva da pele. E é assim como se já satisfeita a sede eu tivesse ainda vontade de a ter para o prazer de a não ter. A vida está tão cheia de milagre. Estás no fim, aproveita-a em cada átomo de ser, não lhe desperdices a mínima oportunidade.[...]"
Para Sempre, Vergílio Ferreira
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