Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sonho de Noite de Outono

A manhã ia já a meio. Os olhos presos ao écran. Os dedos a correrem teclas. Os textos para a edição dessa semana a comporem-se. Lentamente. Estava desconcentrada. Não conseguia afastar aqueles olhos, aquele sorriso, aquele ar desmazelado chique da cabeça. Liga-lhe. Combina um almoço. Marca o local e a hora. Ele hesitante do outro lado. A escorrer vontade. As palavras a dizerem o contrário do que sente. Ela sente-o.

Larga o computador. Passa na casa de banho. Solta o cabelo. Passa um gloss nos lábios. Vê-se no espelho. Atraente ainda, mas durante quanto mais tempo? Isso assusta-a. Não está preparada para a indiferença dos olhares, para a inexistência de paixão na sua vida. Pensa em tudo isto enquanto se dirige para o local do almoço. Um sítio recatado mas aconchegante e simpático. Uma casa de chá com uma sala/varanda par um court de ténis. Ele ainda não chegou. Ainda bem. Precisa de tempo para respirar fundo. O coração vai bater demasiado quando ele chegar. Não quer que ele o sinta...

Ouve a voz dele. Juvenil, algo incerta, nervosa. Ela sabe-o nervoso. Aí está ele. Maravilhoso. Cumprimenta-a. Um só beijo, na face, demorado. Ela afaga-lhe o cabelo e sorri. Ele senta-se, escolhem o que almoçar, o que beber e mergulham um no outro. Olhos dentro de outros olhos, presos nos lábios que falam, que significam o que quereriam dizer um ao outro. Falam de banalidades. Do dia a dia. Os trabalhos que ambos têm entre mãos e as cabeças que andam "no ar". Falam de tudo menos deles, dois. As palavras que têm para dizer sobre eles, dois individuais, são pertença de um mundo de sonhos, que não querem dizer para que ninguém lance um mau olhado. Eles dois só existem, cada um dentro dos sonhos do outro. Ela provoca-o, fá-lo rir. Ele não tira os olhos dela. Diz-lhe que ela é "tonta", mas ri. O pouco que se conhecem é o que mais os atrai, o que mais os faz quererem estar juntos, rir juntos. E riem como duas crianças que fazem travessuras. Ele faz-se sério e anuncia,

- Vou para LA uma semana. Aquela cidade é a tua cara!
- Leva-me contigo...
- Quem sabe...um dia...vás comigo...

1 comentário:

Anónimo disse...

Adorei o texto... às vezes tenho saudades destas sensações... o nervosismo dum encontro... de alguem que ainda não conhemos bem, de alguem que conhecemos mas que deixamos de encontrar... as palavras que saiem da boca, as que saiem dos olhos, as que não saiem, mas que se sentem... adorei.

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