[...]"Os teus dedos - poderão estar enroscados no vento, os teus dedos que já não existem? Quando tu existias, o vento era apenas o vento.. Cada coisa tinha uma forma exacta e uma história de duração. Perdi a dureza que me fazia durar quando te perdi - ou melhor, quando desapareceste e eu me perdi em ti. Troçava do Deus apesar de tudo exacto, gordo, barbudo, em que tu te aninhavas, e agora acredito que a carícia dos teus dedos está no vento, a cintilação dos teus olhos negros na água do olhar de uma amiga tresmalhada, nas estrelas ou nos reflexos do sol sobre o rio. Amizade. Desenho o teu riso sobre essa palavra e vejo-te inteira no lugar dela."[...]
in Fazes-me Falta,
Inês Pedrosa,
Publicações D. Quixote, 2002,
pg. 106
Porque ultimamente é a saudade que me mata.
Porque ultimamente é o fado português que me atravessa as palavras.
Recolho as minhas palavras, impeço-as de se mostrarem porque não quero que se digam tristes.
Busco nas palavras de outros o sentimento da procura que me sufoca.
Não sei o que procuro, não sei o que desejo, não sei sequer o que sonho.
Sei que necessito da fuga, da libertação, do espaço aberto que já me assusta, do espaço fechado que me oprime.
Porque ultimamente é também o medo que me assombra.
O medo da perda. O medo do fim. O medo de não ser capaz de viver.
O medo da indiferença dos outros, do abandono, da loucura, da solidão.
As palavras dos outros animam-se perante os meus olhos e animam-me a vontade de não parar.
Escrever.
Pensar.
Sonhar.
Sorrir.
Viver.
1 comentário:
Lembra-te só de uma coisa: o medo paralisa... e não podemos sucumbir a ele...
Beijinhos :)
Vasco
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