Respiram fundo os lápis de cor e as canetas. Os cadernos esticam as folhas, cansados de meses de utilização, folha para trás, folha para a frente, a serem carregados de letras e algarismos, de desenhos e sublinhados, de apontamentos e exercícios. Os livros, esses, adivinham o seu destino e não estão muito certos de o preferirem à exaustão do dia a dia. Sabem, porque os livros são o objecto mais inteligente e culto do mundo dos acessórios escolares, que serão enfiados numa caixa de cartão onde, do lado de fora, será escrito em letras gordas de caneta de feltro também gorda, o ano que ajudaram a cumprir. Dentro da caixa de cartão ficarão para sempre fechados, claustrofobicamente, até que um qualquer outro estudante precise deles e os leve de regresso a mochilas e mesas de escola. Ou talvez nunca mais venham a ser precisos e isso não é muito boa ideia.
Nos quartos são arrumadas as secretárias e os vestígios de escola desaparecem até Setembro. Saltam das gavetas os fatos de banho e as T-shirts coloridas, condizentes com os tons de Verão que chegam hoje pela mão do Solstício. Guardam-se ténis e peúgas e enfiam-se os dedos nas havaianas que são a melhor invenção do mundo do calçado.
A lista das compras semanais de supermercado também sofre alterações e começa a privilegiar ingredientes próprios para recheios saborosos de sanduíches que serão comidas ao sol, misturadas com o sal que vai escorrendo depois de um belo banho de mar.
A vida altera-se. Os horários mudam. Os relógios passam de indispensáveis a aborrecidos acessórios de moda que insistem em lembrar-nos que o tempo está sempre a passar [logo hoje, que escrevo estas palavras, estou a usar dois relógios].
O fim de cada dia estival, o entardecer alaranjado, chegará com os corpos deliciosamente aquecidos e cansados e as almas desejando que até tudo recomeçar os dias passem a ter mais do que as 24 horas.
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