Apesar do cansaço e das horas tardias de recolher, acordei cedo. Um telefone esquecido pela casa decidiu desatar a tocar às 9 e pouco da manhã. Os meus ouvidos são "de tísica" e apesar da distância a que o dito cujo tocava os meus olhos abriram-se e decidiram que não queriam voltar a fechar-se.
[No passado fim de semana fiz um rearranjo da minha mesa de cabeceira. Tirei todas as conchas e guizos de pulseiras de verões anteriores e criei espaço vazio para os livros que costumam ter por poiso o chão, do meu lado da cama.]
Aproveitei. Família a dormir. Silêncio. O meu corpo suficientemente cansado para que não se impulsionasse para fora da cama. Deitei a mão ao Murakami e, tal como um corredor de fundo, atirei-me a ele. Este livro tem considerações interessantíssimas. Sobre o ofício de escrever e a concentração e disciplina que esse ofício exige. Sobre a necessidade do exercício físico e de como deve ser preparado o corpo para o fazer sem se tornar doloroso.
Das muitas linhas que li, houve umas que retive. Na memória e riscadas com a ponta do lápis para se transporem para este post, pois vinham mesmo a propósito...
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"Não se pode dizer que seja uma realidade particularmente agradável, mas é o que acontece quando caminhamos para velhos. Tal como eu tenho o meu papel a desempenhar, também o tempo tem o seu. E, é bom que se diga, o tempo cumpre o seu papel muito mais fielmente e como muito mais precisão do que eu alguma vez poderia fazê-lo. Desde que o tempo é tempo, lembrem-se (a propósito, quando foi isso, pergunto eu?), moveu-se sempre para a frente, sem um momento de descanso. E um dos privilégios concedidos àqueles que lograram escapar a uma morte precoce é precisamente o direito à velhice. Espera-os a honra da decadência física em toda a sua glória, e é bom que comecem a habituar-se à realidade."
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