Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

É o Tempo a Outonar

A minha Máquina
nas mãos da Catarina
Montargil
Setembro 2010


O amanhecer é feito de uma luz ténue. Com os olhos ainda semicerrados pelo sono que pesa não se descortina, pelas frestas de uma persiana não completamente corrida numa janela sem cortina, se o céu está azul claro e brilhante ou nublado. Faz-se de conta que ainda não é Setembro e continua-se a ceder ao peso do sono, tentando retomar o último sonho que, consciente de que o tempo de lazer terminou, desaparece. Roda-se o corpo, enrola-se o lençol. As pernas são as primeiras a sair do espaço confortável, os pés procuram sozinhos as havaianas por ali largadas na noite anterior. Abrem-se os olhos. Franzem-se de seguida. Há sol a espalhar o seu brilho pela folhagem do jardim. Suspiro. Sentimentos opostos. Que o Verão não termine. Vontade de um dia menos brilhante e quente. A indecisão. A incoerência. Olha-se em redor. Não há nada que seja um incentivo ao movimento. Tudo o que está para ser feito é tudo o que não apetece fazer. E o dia vai crescendo. Pede que se abram janelas e se corram estores para que o fresco se mantenha por casa. Lá fora calor. Dolência. Vontade de sempre dormir. Vontade de nada fazer. Cumprem-se tarefas obrigatórias. Com o sol a escaldar na pele ainda escurecida dos dias de mar. A roupa ainda denuncia calor. Há braços, pernas e pés ao léu. A tarde invade o dia. Lembra que se inicia agora o movimento contrário dos dias. Já não crescem até à noite. Correm para ela, na ânsia de que chegue, de que apague o sol que ainda queima a pele. O céu começa a escurecer. Não é ainda a noite mas são nuvens que de repente vestiram o céu de cinzento e esconderam o sol brilhante, orgulhoso do seu calor. De outras vozes chega notícia de que o céu vestido de cinzento se entristeceu e deitou lágrimas grossas de chuva por cima da terra e dos seres. A indecisão. A incoerência do ser. Cansaço de dias de Verão, de praia e de mar. Desejo de que não terminem de repente. Em braços, pernas e pés tapados. Por roupas fechadas. Os dias começam a outonar e eu outono com eles.

1 comentário:

Marta disse...

gostei Vera, desta reflexão sobre o fim do Verão. e tb gostei da máquina nas mãos da Catarina. LINDO, tudo. :)
bjo

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