Não raramente pressinto a finitude. Das minhas palavras. Da minha capacidade de escrever para além do banal, do que é esperado que escreva alguém sobre cuja vida já tantas palavras se inscreveram no espaço m branco de um écran.
Quando estas pausas vêm e, teimosamente, se instalam em mim, há muito pouco a fazer. A meditação, a observação, a leitura e consulta de palavras de outros podem ser o elixir que acaba por pôr um ponto final à incapacidade momentânea de escrever, mas nem sempre possíveis.
Abençoadas estantes e livros. Arrumados, empilhados, espartilhados uns contra os outros. Nem sempre sei a qual recorrer e deixo que o instinto me guie as mãos no momento de os fazer sair por breves minutos do espaço onde repousam.
Depois, é abrir completamente ao acaso.
"Finita", de Maria Gabriela Lansol, foi o livro que saíu hoje para me socorrer, para me inspirar, para me ensinar algo mais sobre a arte da escrita que não é menos digna quando assume a forma de um Diário.
«Sento-me num tronco nos limites da clareira, fechando os meus olhos fitos no seu centro, deixando que tudo corra, mesmo na sua imobilidade. E dou-me conta de que corre uma aragem pelas árvores da clareira, tal como um murmúrio, que me suscita a palavra murmuragem. A murmuragem das copas das árvores, como digo a murmuragem que sou. E dou assim por finda a cinestesia.»
E assim descubro quatro linhas, de escrita, maravilhosas.
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