Vi-o da janela do carro. De relance, porque não parei para o observar, vi-o. Parado numa esquina. Semblante fechado, os lábios que se mexiam, na conversa que desenvolvia com uma mulher. De costas para mim, de frente para ele.
Alto e esguio. A idade a bater nos 50. O cabelo grisalho, comprido, penteado para trás. Óculos, armação de massa preta. Camisa fluida, cinzenta escura, talvez preta, não fixei bem. Calças de ganga confortavelmente largas, confortavelmente antigas, aposto numa etiqueta Levi's no bolso de trás.
O que me fez ficar a pensar nele, nem sei bem. O que me fez "fotografá-lo" com a memória? Também não explico.
Aposto nele como um artista. Um pensador. Um leitor. Um desenhador.
Naquela esquina. À conversa com alguém. Numa conversa que não lhe estava a ser agradável.
Por cima deles, nenhum candeeiro os iluminava.
Por cima dele, uma luz fez-me olhá-lo.
1 comentário:
Fantástica essa emoção que inexplicavelmente sentes e relatas. Gosto.
:)
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