«Pensa bem: o mesmo se aplica a escrever livros, ou não? Não será o escritor, verdadeiramente, o único interessado naquilo que escreve? Quero dizer, porquê andar a inventar histórias a torto e a direito, a menos que essas histórias sejam a solução, temporária ou absoluta, para um enigma qualquer?»
« Todos temos enigmas por decifrar», repliquei. «No entanto, nem todos lemos ficção. E somos ainda menos os que escrevemos.»
«Justamente», respondeu Nina. « Porque pessoas diferentes encontram as respostas em lugares diferentes. Algumas pessoas encontram-nas na própria vida; talvez eu faça parte desse grupo. Para outras, as respostas só surgem quando se difarçam de outra coisa qualquer, de uma pessoa que não são. Quando se metem no lugar de uma personagem e depois a fazem passar por agruras, que é aquilo que acontece nos romances.»
«Ao mesmo tempo, é uma forma de cobardia», respondi. «Deixar que os outros vivam as coisas por nós. mesmo que os outros sejam invenção nossa.»
«Pois é», respondeu Nina, sorrindo. «Os escritores, no fundo, são todos uns grandes cobardes e mentirosos. Às vezes, raramente, são muito corajosos. Mas, geralmente, são só cobardes e mentirosos.»
Págª 35
Sem comentários:
Enviar um comentário