Beira-Tejo |
Veio alguém.
Avaria ou não. Não sabia e também não quis investigar.
Como se o tempo, de repente, voltasse atrás uns bons séculos.
Calou-se o rádio que durante o dia toca as mesmas músicas vezes intermináveis e insuportáveis, como se a variedade musical se restringisse a composições muito próximas entre elas, no tempo e no ritmo.
Silenciou-se o ruído quase imperceptível do frigorífico.
A casa silenciou-se.
A mulher sentiu-se em paz. Há tanto tempo que não conseguia sentir o silêncio. Dentro e fora de si.
Pegou num livro. Sentou-se à mesa da casa de jantar coberta de papéis e leu. Resumiu o que leu. Tirou notas e sentiu que estava a apre(e)nder.
No decorrer de umas escassas horas que lhe serviram de bálsamo para o resto do seu dia sempre corrido, a mulher teve paz.
Veio alguém.
Avaria ou não.
A electricidade trouxe o século XXI de volta ao silêncio, transformando-o em ruído.
A mulher levantou-se e voltou ao seu dia.
Corrido.
Sem comentários:
Enviar um comentário