"- Não sei para que são tantos mistérios - disse a rapariga. - O melhor é dizeres logo tudo de uma vez.
- Não se trata de mistérios. Trata-se de estar certo o que te disser.
- Porque é que não há-de estar certo? - perguntou a rapariga.
- Por tanta coisa - disse o rapaz. - Eu achei que te ficava bem o vestido e tu estranhaste que eu o dissesse.
- Já me tinhas visto o vestido muita vez. Foi só por isso.
- Nunca reparaste que há certas coisas que nós já vimos muitas vezes e que de vez em quando é como se fosse a primeira?
- Nunca reparei - disse a rapariga.
- Nunca ficaste a olhar o mar muito tempo?
- Sim, já fiquei.
- Ou o lume de um fogão? - disse o rapaz.
- E que queres dizer com isso?
- Ou uma flor. OU ouvir um pássaro cantar.
- Sim, sim.
- Não há nada mais igual do que o mar ou o lume ou uma flor. Ou um pássaro. E a gente não se cansa de os ver ou ouvir. Só é preciso que se esteja disposto para achar diferença nessa igualdade. Posso olhar o mar e não reparar nele, porque já o vi. Mas posso estar horas a olhar e não me cansar da sua monotonia.
O rapaz tinha o olhar absorto na extensão das águas e permaneceu calado algum tempo. As águas brilhavam com o reflexo do sol na agitação breve das ondas. A rapariga calava-se também, fitando o rapaz, porque percebia que ele não acabara de falar. Mas o rapaz calou-se como se não tivesse mais nada a dizer e ela perguntou:" [...]
continua
3 comentários:
Vergílio é fantástico...não por acaso foi a minha escolha para a dissertação do mestrado...
abraços
Tia Vera, então? Não gosto de ausências tão prolongadas
Hum... que estranho. Não tens aparecido por aqui. Espero que esteja tudo bem convosco. Beijinhos.
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