Livraria ''Le Bal des Ardents''
Da infância recordo dias de nariz enfiado nos livros de capa azul da Condessa de Ségur.
Da juventude recordo dias de leitura, de corpo enfiado em grande sofá de cabedal, de orelhas, devorando frases e frases de todos os autores disponíveis pelas estantes de casa.
Da idade adulta, e do período em que todos os dias eram dias de transportes públicos entre S. Pedro do Estoril e Picoas ou Marquês de Pombal, não recordo cenas de comboio ou de metro. Não me perdia na observação dos meus companheiros de viagem, porque havia sempre um livro na mão. Muitas páginas acompanhavam duas ou três viagens. Poucas páginas apenas duravam um trajecto. Há poucos dias uma Amiga queixou-se de não conseguir ler no comboio da linha de Cascais. Segundo ela, e em comparação com os comboios da linha de Sintra, o "nosso" comboio abana imenso. Não a pude contradizer, pela simples razão de que não conheço o outro termo de comparação. A mim, nunca me custou ler na linha de Cascais, em movimento.
Agora, que os dias são passados em casa, os momentos de leitura diminuíram. Drasticamente. Para conseguir ler algumas páginas, obrigo-me a sair de casa, ao final do dia, um pouco antes do toque de saída da última criança. São 15/20 minutos de leitura diária. Notoriamente, pouco. Principalmente para quem tem sempre pilhas de livros para ler e não consegue fugir à compulsão da compra de mais um sempre que algum lançamento lhe aguça o apetite.
A leitura é um prazer, mas é também um esconderijo. Do mundo. Pegar num livro, abri-lo, cheirá-lo e deixar-me levar por ele. Durante o tempo em que o livro me acompanha, as suas personagens, o seu mundo, é o meu. Escondo-me do meu mundo real? Não, apenas me refugio e viajo. E aprendo. E cresço. Como leitora. Como escrevinhadora. Como pessoa.
2 comentários:
Sinto essa mesma sensação de segurança. Aliás os livros têm o dom de me fazer abstrair da realidade, e como eu gosto disso! bjs
delicioso :)
Enviar um comentário