Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

No Escuro da Noite [Lisboeta]

Daqui
O que faz dela tão especial?
As ruas inclinadas?
O cheiro do rio?
A maresia que se espalha e deixa as pedras da calçada escorregadias aos passos?
A cidade não me deixa indiferente de cada vez que a visito, mesmo que seja uma visita de corrida.
Sábado. Lisboa envolta no branco cinzento da chuva miúda e da humidade. O GPS a guiar-me os passos. O destino era-me familiar. O destino revelou-se-me estranho. As ruas tornaram-se avenidas. Os prédios cresceram dum lado e doutro, ao fundo o cemitério que dantes era tão longe. As lágrimas a saltarem-me aos olhos ao avistá-lo ali tão perto, morada de quem já não está comigo.
Hoje. Lisboa mergulhada na escuridão da noite. Em alguns pontos iluminações especiais que lembram a quadra da amizade e dos presentes. Mergulho num ponto desconhecido da cidade. Descubro mercearias de bairro, prédios cobertos de azulejos maravilhosos, varandas antigas de prédios restaurados, ostentando anúncios de aluguer e de venda. Penso que era capaz de ser feliz num deles, numa daquelas casas, por detrás daquelas vidraças. E perco-me. Apesar do GPS. Perco-me porque me quero perder, de propósito. Estou sozinha, dentro do meu carro completamente emporcalhado, cheio de areia de praia, skates e rip sticks, já fiz o que tinha a fazer em Lisboa. Tenho um GPS, estou em Lisboa, num dos seus bairros mais "in" e apetece-me baralhar o sistema de navegação que me devia pôr no caminho certo para casa. Subo e desço, enfiada no trânsito lento de final de dia. De dentro do meu carro, de vidros sujos e embaciados, vejo as montras das lojas, lindas, de Lisboa antiga. E sinto-me como se estivesse a fazer a melhor terapia do mundo, num final de segunda feira. Estou em Lisboa caótica, iluminada, festiva, envelhecida, mas linda. Sempre linda, a minha cidade.

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