Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Ilha dos Amantes


Manuel Paulo & Nancy Vieira
vem só, sem nada
sem nada a mais do que deus deu
se deu e não se arrependeu
ele lá sabe o que fazia
vem só, sem nada
vem arrastar a tua asa
fazer das minhas tua casa
saber porque é que deus sorria

vem só, sem nada
ninguém vai lançar mau olhado
porque não há mal nem pecado
em cegar de tanto querer
vem só, sem nada
deixa o teu olhar descobrir
o meu, que eu tenho de partir
mas volto um dia pra te ver

ai, deixa ver
onde o teu peito desagua
onde é que nasce a luz da lua
eu vou sem nada pra te ver


Ando apaixonada por esta música!!!!

As palavras

 


Escuto só as tuas palavras.
Tenho o presente a partir
da minha fraqueza.
Chega até mim
quem me explica
a luz surda destes dias.
Rui Miguel Ribeiro,
in RESUMO
a poesia em 2009
edição Assírio & Alvim

Para Ontem...


A vida pode ser um conjunto de acontecimentos muito prosaicos.
O dia 6 de Maio, para a nossa Família, é um desses acontecimentos.
Um dia em que tudo se desmoronou num dia em que um nascimento deveria ser celebrado.
Fica esta música. Para quem foi. Por quem ficou.

Véspera de Festa

Foi-se o Sol. O fim de semana aproxima-se, a festa de aniversário do Mateus também e, cheira-me, que a chuva nos vai fazer companhia. Hoje o dia será inteiramente dedicado à confecção dos "comes" para a festa de amanhã. O Pai foi para o Porto e não vai estar cá. O que vale é que a equipa é grande e entre todos havemos de conseguir dar conta do recado. Cozinhar, limpar o exterior, arrumar o interior e estarmos resplandecentes para receber os amiguinhos amanhã. O que era mesmo fixe era que a chuva não viesse amanhã à tarde. Crianças a brincar na rua é muito mais divertido do que crianças a brincar em casa... a ver vamos!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Num Quadrado de Chão



Vivo. Algures longe daqui. Num rectângulo de chão, numa praça da cidade que dizem ter a mais bela luz, perto do rio.  Acumulo, no meu rectângulo de cartões prensados, pedaços da vida de outros. Pedaços deixados ao acaso nos passeios da cidade, ensacados em bermas de estradas. Há desespero neste meu coleccionismo anárquico. Há obsessão na vontade de acumular os pedaços que outros dispensam. Esgravato. Tal como os animais em busca de comida. Esgravato o que outros desprezam, na ânsia constante de encontrar um fio que me faça retomar a meada da vida que desfiei e à qual não consigo voltar a dar o formato de um novelo. Idêntico aos que a minha Avó transportava consigo e que transformava em camisolas, cachecóis, casaquinhos e botinhas para netos e bisnetos. Onde estás Avó? Perdida algures na minha memória perdida de dias perdidos. Onde estás tens a minha Mãe por perto? Estranha memória a minha que me esvazia de tantas imagens mas nunca me retira a da minha Mãe. Sinto-lhe a falta, pressinto-lhe o cheiro e a doçura das palavras se me pudesse ver agora. Destruído, por dentro e por fora. Arruinado por uma vida incerta, por hábitos que em ruínas me transformaram. Não passo de um monte de tijolos que ainda se mantêm presos uns aos outros por uma força ténue, cada vez mais ténue. O que inicialmente me dava força e personalidade arrasta-me agora a uma velocidade bruta para o estado de decrepitude total. Os pedaços dos outros estão à minha volta. Por todos os lados. Esgravato-os, mas também me escondo neles. Dissipo a minha ruína por entre pedaços que outros não quiseram manter. O meu rectângulo de cartões prensados é fixo. Durante o dia deambulo pelas ruas. A troco de moedas visto a pele de ajudante de condutores menos treinados na tarefa de estacionar carros. Por vezes já nem moeda recebo. Muitas vezes recebo um olhar ameaçador. Afasto-me. Acho que nesses momentos quase consigo recuperar a memória de dias em que não havia nevoeiro a guiar os meus passos. Não sei como conseguem as minhas pernas aguentar tantos passos que dou, tantas calçadas que piso, tantas escadas que escalo. Hoje dei por mim frente a esta casa. também ela uma sombra do que foi. Aparentemente sólida, não passa de uma ruína. Paredes partidas e grafitadas. O cheiro nauseabundo dos locais que abrigam os que não têm para onde regressar ao final do dia quando o sol se esconde e o frio escuro da noite se abate sobre a terra que dorme. Toco nas paredes destruídas. Acaricio-as como de um corpo de mulher se tratasse. O olhar fixo em cada deformação, em cada traço de tinta, vou tentando reconstruir a dignidade do espaço. Na minha cabeça tudo surge diferente. Sou capaz de imaginar a luminosidade, a frescura e a sobriedade das cores claras reflectindo a luz do sol filtrada pelo azul do mar.Interrogo-me sobre as razões que levam à morte dos edifícios. Será que não basta a morte dos homens no mundo? Será que o desencanto dos homens se transfere para paredes e as faz ruir em sinal público de desespero e protesto? Não entendo, não sei explicar. Miro-me num caco de espelho abandonado no chão e não me reconheço também. A cara encovada e os olhos vermelhos. O cabelo crespo, enovelado pela sujidade. Corpo magro. Roupas andrajosas. Sim, eu faço parte deste local. Também eu estou em ruínas e não posso esperar que alguém me venha salvar da derrocada final. Estendo-me no chão. Os pés virados para o local onde já terá existido uma janela. Consigo ouvir o ruído dos carros que passam. Consigo sentir o tremor que provocam no alcatrão. Fecho os olhos e às narinas chega-me o aroma da brisa marítima. Maré vaza e o sol a abandonar o horizonte. Aqui, neste quadrado de chão que é hoje, neste momento, o meu lar, fecho os olhos e espero. Pela derrocada final.

[Exercício] Fazes-me Falta

[...]"Os teus dedos - poderão estar enroscados no vento, os teus dedos que já não existem? Quando tu existias, o vento era apenas o vento.. Cada coisa tinha uma forma exacta e uma história de duração. Perdi a dureza que me fazia durar quando te perdi - ou melhor, quando desapareceste e eu me perdi em ti. Troçava do Deus apesar de tudo exacto, gordo, barbudo, em que tu te aninhavas, e agora acredito que a carícia dos teus dedos está no vento, a cintilação dos teus olhos negros na água do olhar de uma amiga tresmalhada, nas estrelas ou nos reflexos do sol sobre o rio. Amizade. Desenho o teu riso sobre essa palavra e vejo-te inteira no lugar dela."[...]
in Fazes-me Falta,
Inês Pedrosa,
Publicações D. Quixote, 2002,
pg. 106



Porque ultimamente é a saudade que me mata.
Porque ultimamente é o fado português que me atravessa as palavras.
Recolho as minhas palavras, impeço-as de se mostrarem porque não quero que se digam tristes.
Busco nas palavras de outros o sentimento da procura que me sufoca.
Não sei o que procuro, não sei o que desejo, não sei sequer o que sonho.
Sei que necessito da fuga, da libertação, do espaço aberto que já me assusta, do espaço fechado que me oprime.
Porque ultimamente é também o medo que me assombra.
O medo da perda. O medo do fim. O medo de não ser capaz de viver.
O medo da indiferença dos outros, do abandono, da loucura, da solidão.
As palavras dos outros animam-se perante os meus olhos e animam-me a vontade de não parar.
Escrever.
Pensar.
Sonhar.
Sorrir.
Viver.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Passeio


Foi ela que lhe telefonou. Convida-me para sair, disse-lhe. Tanto me faz se saímos durante o dia ou à noite, apenas quero que me convides para sair. Deixo a porta semi-aberta. Não quero ouvir soar o toque da campainha, quero que entres como se pertencesses aqui, como se esta porta semi-aberta apenas existisse para ti. Quero sair contigo pelas ruas. Deixar que me guies os passos. Deixar-me ir no som da tua voz, no calor do teu olhar, na força do teu abraço.
Consegues ver a porta semi-aberta? Vem-me buscar.

De Cabeça para Baixo...Em Busca do Sonho

Esta fotografia que hoje uso, ilustra a forma como me sinto a viver.


Andava por aqui. De pano de pó na mão. Devolvendo aos móveis um ar de limpeza, retirando-lhes de cima o peso das poeiras que sobre eles vão pousando, tornando-os baços, comendo-lhes o brilho.
Na cabeça vão ressoando palavras ouvidas num telefonema quase de confessionário. "Como levar a vida para a frente sem um sonho por que lutar?" Não respondi a esta pergunta. Não tive resposta para uma pergunta que nunca tendo pensado assimilei imediatamente como minha.
Vivemos tempos difíceis. Crise é palavra que não sai do nosso léxico. Entrou e instalou-se. Inunda noticiários televisivos e radiofónicos. Enche artigos de jornais e análises políticas de todos os quadrantes. E nós, comuns mortais, cá andamos. Esticando salários e fazendo figas para que consigamos pagar supermercado e as despesas fixas de uma casa. Roupa nova? Passeios? Jantares fora? Livros? Ah, a Feira do Livro já começou...pois, mas este mês não vai dar! É preciso ser-se positivo e não desanimar. Pois, isso é bonito de se dizer, mas quando a luz que devíamos ver ao fundo do túnel teima em não aparecer e quando as poucas coisas que nos poderiam dar um sentimento de viver e não sobreviver também só se conseguem à custa de dinheiro, começamos a não acreditar em dias melhores.
Andava por aqui. De pano de pó na mão. Esta crise até as minhas palavras tem afectado. Não aparece nada para ser escrito! Sinto falta de ter vontade de organizar os lanches de amigas que costumava organizar. Sinto-me a viver como se apenas flutuasse. Como se andasse por aqui, de pano de pó na mão a afastar dificuldades aqui e ali, para tentar dar claridade aos dias.
Decidi pôr os óculos e tentar que saísse alguma coisa. No mail do Vekiki, dois comentários. Do autor de algumas das fotografias mais bonitas que tenho utilizado para ilustrar as minhas palavras. E também isto me faz falta. Receber as palavras que outros escrevem sobre o que escrevo. E as palavras do Diário de Lisboa puseram-me a sorrir e a pensar que vale a pena estar por aqui. Numa comunidade virtual que se vai visitando e comentando, que se vai deixando conhecer aos poucos, ou não, mas que se deixa unir pelos laços das palavras de uns e das imagens de outros, tornando mais suportáveis horas que não são, de forma alguma, horas fáceis.

EQ, se podemos viver sem um sonho? Não me parece!
Nem que tenhamos de o inventar, é bom que ele exista na nossa cabeça.

Primavera versus Alergias


Há alergia instalada nos narizes cá de casa. Comichão, espirros e tosses.
A Primavera tem destas coisas. Flores, pólens e pós pelo ar. Como se tudo isto não bastasse, esta zona é ventosa até dizer chega. A polinização quase se vê a olho nú!
O Mateus acabou o dia de aniversário agarrado ao aerossol. A alergia passou a tosse, a tosse passou a falta de ar, a falta de ar provocou irritação, enfim...uma espiral de mau estar!
Hoje, graças às provas de aferição do 4º ano, está em casa. Agarrado ao aerossol.
Que raio de maneira de festejar os 9 anos...

terça-feira, 4 de maio de 2010

9 Anos!!!

Eu e a minha Máquina,
Agosto 2009
Algarve

O nosso bébé faz hoje 9 anos.
Já não é bébé, apesar de ainda ter uma maneira de falar que não deixa dúvidas para o facto de ser o último de quatro.
Já está a terminar o 3º ano e rapidamente deixará para trás a "primária".
Recentemente ganhou a alcunha de chicken the little, que lhe assenta como uma luva.
Hoje é o dia dele.
Vai ter bolo de anos na escola e em casa.
Vai ter óculos novos e presentes.
E muitos beijinhos. E abracinhos.
E Parabéns a Você!!!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Amnésia

Não me lembro como é que fazia dantes.
Tinha o jantar pronto à hora certa.
Tinha os meninos prontos à mesa à hora certa.
Tinha os meninos na cama sossegadinhos à hora certa.
O meu jantar era depois. Mais tarde, às vezes muito mais tarde.
À hora certa, agora, nada está pronto.
Nem o jantar, nem os meninos.
E eu não me lembro como fazia isto dantes.
É amnésia, pela certa!

L A Z Y


Dormir
Bocejar
Não fazer nada
Esticar-me em cima do sofá da sala e dormir

Estas foram as únicas ideias que hoje me passaram pela cabeça.
Há quem diga que a Primavera provoca crises de astenia. Deve ser disso que estou a sofrer.
Fiz meia dúzia de coisas essenciais em casa e na rua.Não me apetece fazer jantar...mas se não fizer jantar sujeito-me a uma revolta maciça...
Comecei um texto. Cheguei às 250 e tal palavras e "emperrei". Guardei-o nos rascunhos. Pode ser que amanhã o retome.
Bem, as ideias e as palavras estão em crise, mas o jantar tem de ser feito.
Até já.

Dia das Mães

Eu e a minha Máquina,
A Família Toda

Ontem foi dia de reunir todas as Mães da Família. Do meu lado.
Em casa da minha Irmã. A festejar o aniversário da minha sobrinha.
Almoço e brincadeira. Seis primos em alegre xinfrineira!

domingo, 2 de maio de 2010

Coração de Mãe


Hoje faço batota.
Nada do que aqui publico neste post é da minha autoria!
A imagem, retirei-a do livro que me ofereceu a Catarina.
O texto, copiei-o do email que me foi enviado pela Associação Portuguesa de Famílias Numerosas.
Da minha cabeça, apenas o desejar, a todas as Mães e minhas Amigas que me leêm, um excelente Dia da Mãe!

"Dia da Mãe
D - Dom, o Dom que é a chegada de um filho, esse ser minúsculo, único e irrepetível que nos é confiado desde o seu primeiro momento de vida...
I - Intuição, a Intuição de um incrível Milagre da Vida, adivinhado, sim, mas jamais captado em toda a sua grandeza...
A - Acolhimento, que é, para muitas Mães, em cada dia, um Amor agradecido, puro, desinteressado e provado, ao longo de incontáveis trabalhos, penas e dores...
da
M - Mãe, Meiguice, Mimo, mão terna que segura, conduz, corrige e protege...até ao dia em que terá de deixar partir...
à – Alegria e ansiedade, misto de felicidade e medo de perder o filho amado...
E – Emoção,Empatia, Educação...ser Mãe é tudo isso que não cabe em mais palavras...
É compreender, sem bem saber como, que a sua principal razão de existir consiste em ser e estar - para - ajudar - a - crescer:

dar colo, carinho e segurança;
estimular a Inteligência;

formar a Consciência;
educar a Vontade;

cultivar os Sentimentos;
ensinar a Liberdade,
para que os filhos ganhem asas
e um dia possam voar por si, em busca desse indizível e eterno apelo de Felicidade que Alguém inscreveu no seu coração de criança!"

sábado, 1 de maio de 2010

A Propósito do (des) Prazer de Ler

"Tudo bem, mas a que parte do atarefado dia podemos ir buscar essa hora de leitura diária? Aos amigos? À televisão? Às viagens? Aos serões familiares? Às minhas obrigações?
Onde desencantar tempo para ler?
É um problema grave.
E não é o único.
O tempo disponível para ler e o desejo de ler, nem sempre coincidem. Porque, se virmos bem, ninguém tem tempo para ler. Nem os pequenos, nem os médios, nem os grandes. A vida é um perpétuo entrave à leitura.
- Ler? Eu bem gostava, mas sabe...o trabalho, as crianças, a casa, não tenho tempo...
- Nem sabe como o invejo, por ter tempo para ler!
Mas como se explica que aquela, que trabalha, vai às compras, educa os filhos, guia o carro, ama três homens, vai ao dentista, vai mudar de casa para a semana que vem, arranje tempo para ler, e este casto celibatário que vive de rendimentos, não o consiga?
O tempo para ler é sempre um tempo roubado. (Como aliás o tempo para escrever, ou para amar.)
Roubado a quê?
Digamos que ao dever de viver.
É sem dúvida por essa razão que o metropolitano - símbolo tranquilo do referido dever - é a maior biblioteca do mundo.
Tanto o tempo para ler como o tempo para amar dilatam o tempo de viver.
Se encarássemos o amor pela perspectiva do emprego do tempo, o que sucederia? Quem tem tempo para estar apaixonado? No entanto, alguma vez se viu um apaixonado não ter tempo para amar?
Nunca tive tempo para ler, mas nada, nunca, me impediu de acabar um romance que gostava.
A leitura não resulta da organização do tempo social, ela é como o amor, uma maneira de ser.
A questão que se coloca não é saber se tenho ou não tempo para ler (tempo esse que, aliás, ninguém me dará), mas sim se tenho ou não prazer em ser leitor." [...]

Como um Romance,
Daniel Pennac,
Edições ASA,
Junho 2002
Blog Widget by LinkWithin