Daqui |
Os acessórios fazem parte de mim.
Eu sem acessórios estou despida.
Preciso de todos os furos das orelhas preenchidos por brincos que nunca são iguais à esquerda e à direita. Cinco de um lado, seis do outro.
Preciso de anéis no dedo anelar da mão esquerda. A fazerem companhia à aliança que o modela há 23 anos.
Preciso de colares. Um, se fôr grande e vistoso. Mais do que um se os tamanhos não chocarem com o fio de prata de duas voltas que nunca sai do meu pescoço e onde estão três medalhas, sempre, penduradas. Um Stº António que, acredito, me protege nesta minha vida de descrente. Uma estrela de cinco pontas para que algo do mar (e também do céu) se passeie comigo e um quadrado em que cada face ostenta o nome de cada um dos meus filhos. Quatro.
Se é importante acertar na cor da roupa que visto em cada dia, não é, de todo, de menor importância a escolha dos acessórios que conjugo em cada dia.
Depois há dias estranhos. Como o que hoje atravesso. Ainda não me consegui sentir na roupa certa, nos acessórios correctos. As calças já foram trocadas. A escolha foi para uma echarpe. Demasiado formal. Este cabelo que depois da chuvada de ontem ficou com um aspecto de juba intratável. Uma vontade louca de ir dormir a sesta.
Na cozinha, à espera, o livro aberto na página da receita que será hoje o jantar. Eu sem vontade de ir para a cozinha. Cozinha. A divisão da casa, minha e de outros, onde tenho passado mais horas nos últimos meses. Onde irei passar o final de dia e início da noite de hoje. Espera-me uma demonstração em Lisboa. Espero que me espere um sucesso porque tem sido duro este mês de Maio. Mês do Coração, mês em que o meu coração tem batido mais depressa quando inicio uma nova demo, mês em que o meu coração vem quase parado quando o resultado não foi o que eu queria atingir!
E eu e os meus acessórios.
A tilintar.
Sempre com a esperança de um bater forte de coração no regresso a casa.