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Eu e a minha Máquina,
Algarve, Agosto 2007
Há dias conversávamos, à mesa, ao jantar, sobre qual o sentido que dispensaríamos se o tivéssemos que fazer. Rapidamente, imaginando-nos sem um dos cinco sentidos, concluímos que a vida seria completamente diferente e que não é por mero acaso que todos eles existem e coabitam em nós.
Impensadamente afirmei que poderia ficar sem olfacto...
Dizem, cientistas, que as memórias olfactivas são as que mais perduram na memória humana e as que mais sensações nos transmitem.
Quando me detive a pensar sobre o que afirmara...como poderia viver sem a memória de tantos cheiros que me povoam?
A casa da minha Avó Materna surge-me na memória olfactiva pelo rasto do cheiro do azevinho que enchia jarras ao longo do corredor e das salas, do cheiro dos fritos na cozinha espaçosa, do cheiro da fruta vinda da "terra" no Verão e espalhada nos balcões de mármore, do cheiro do papel de jornal que eu lia com o meu avô no chão.
A casa de Ferreira do Zêzere é lembrada pelo cheiro próprio do frio, da humidade, de uma casa fechada onde chegávamos à sexta-feira à noite para mergulhar em lençóis que pareciam molhados de tão frios que estavam, debaixo de pesados cobertores de "papa".
Assim que o Sol se começa a mostrar constante nos dias que crescem, ao meu nariz chega o perfume da vegetação selvagem que inunda o ar do caminho que percorremos para alcançar o nosso areal algarvio. É um cheiro que não encontro em mais lado nenhum...ou talvez a minha memória, o meu subconsciente só o consiga identificar ali, naquele preciso local.
E o cheiro mais forte, mais intensamente relembrado - o cheiro de cada um dos meus filhos quando bébés. É um cheiro que frequentemente recordo, com saudade, pelo tempo que passou tão depressa e que não consegui aproveitar tão bem quanto o devia ter feiro. É um cheiro que me traz uma recordação tão aconchegante...
Não, sem cheiro não poderia viver!