Grafia
A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.
domingo, 31 de outubro de 2010
ETERNITY (FOR MEN), Pedro Mexia
Ela deu-me eternidade
em papel de aniversário
embora não fossem os meus anos.
Fez-me mal, agora
que o cheiro dela e o meu
já se tinham misturado.
Prenda de namorados, o símbolo
era ilusório,
e o amor acabou antes ainda
do frasco.
Domingo com Recheio de Sabor a Sábado
Hopper, Edward Street Scenes Sunday Estranho olhar lá para fora e ver que a escuridão já se instalou. Afinal ainda são pouco mais de seis da tarde. O que vale é que amanhã é domingo outra vez! Hoje ainda não disfrutei muito da sensação de descanso que é suposto trazer o dia de domingo, mas o facto de na próxima semana ter dois dias de ausência de casa obriga-me a adiantar o trabalhinho doméstico (e chato!!!). Termina hoje o mês de Outubro. O mês, que por aqui, tem mais recheio de acontecimentos sociais termina com mais um. Uma das minhas "sobrinhas" completa hoje 16 anos e é com ela que iremos jantar e passar o serão que esperamos animado. Amanhã não vamos acordar ao som irritante do despertador às 06:45. Só vou ter de me levantar às 09:00 para poder ir para uma reunião da Associação de Pais, que é sempre um programa que me agrada! Na verdade não se pode dizer que o meu poder criativo esteja no seu melhor, mas o que se há-de fazer? Ler, abanar a cabeça, pensar..."esta está a bater mal"... |
sábado, 30 de outubro de 2010
É fim de semana grande.
Que bom. O sábado chega ao fim, mas ainda temos mais dois dias pela frente para sentir como é bom estar por casa, todos, sem horários a cumprir, sem tarefas rígidas, obrigatórias.
Amanhã muda a hora. Entramos cronologicamente no Inverno que já se tem feito notar nas últimas horas. Ontem. Hoje. Chuva e mais chuva. Não está frio, mas está escuro e húmido. Está-se bem em casa. Estou com uma tosse parva. A puxar pelo meu lado asmático. O forno continua avariado e isso é irritante. Passei uma semana inteira sem poder fazer um bolo ou umas bolachas. Sinto a falta do cheiro a bolos na cozinha. Ontem, no treino de corfebol, chegámos à conclusão de que há muitos candidatos ao lugar de meus/minhas filhos/filhas...eu gosto da sensação. Combinei um lanche cá em casa. Amanhã à tarde. Não sei bem o que vou servir ao lanche com o forno neste estado irritante...O Mac da Catarina já cá está. Uma "bomba". Em terceira mão, mas mesmo assim uma "bomba"! Estou tão contente por ela. Acho que ela merece ter um bom computador para começar a estudar com um suporte adequado as matérias de que gosta. Estou deserta por que ela chegue a casa para o experimentar. Como não posso fazer bolos ou bolachas, estou a fazer arroz doce. Para o jantar vou fazer um caril de frango. Com um belo arroz branco. Apetece-me. Adoro caril. As reminiscências africanas/moçambicanas a viver em mim. Acordei com uma sensação boa. A decisão que tomei veio mesmo dar uma volta na minha cabeça. Sei que me vou sair bem e que vai ser uma decisão de momentos de sucesso.
É fim de semana. Grande. Estou em casa. Feliz, porque a minha vida vai mudar porque Eu quero!
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
O Estudo do Meio, a Matemática, o Estudo e a Falta de Tempo para o resto...
Saíu da escola cabisbaixo, ao contrário do que acontece diariamente. Calado.
Aos poucos, a saca-rolhas, lá percebi que o desempenho a responder a perguntas de Estudo do Meio não tinha sido nada positivo. A juntar a este confissão a saca-rolhas juntam-se as vozes das meninas a dizer que ele não tinha direito a ganhar o esqueleto, porque não respondeu a nada... (as meninas são tramadas e o ensino está feito para elas, vantagem das vantagens!). A telha era tal que nem lhe apeteceu ir brincar ou andar de skate como faz todos os dias antes de virmos para casa.
Com tão mau humor, foi fácil metê-lo no carro e vir para casa. E aí é que foi. Longe dos olhares críticos e trocistas das meninas, as lágrimas vieram em queda livre pela cara abaixo e as palavras em tropeções pela boca fora. Na véspera a prioridade era estudar matemática e não estudo do meio, mesmo assim tinha-se enganado na resolução de, pelo menos, um problema. A Professora não podia querer que eles estudassem tudo para o mesmo dia. Ele assim não ia conseguir ter boa nota. Enfim, uma tragédia daquelas.
Fiz a minha parte de educadora.
Que o estudo se tinha de ir fazendo diariamente e não de empreitada na véspera dos testes. Mais lágrimas e reclamações. A minha voz calma e baixa para ele não desesperar ainda mais.
Cá dentro a vontade imensa de lhe dizer que tem razão. Que só tem nove anos. Que está na primária e que é na escola que passa a maior parte do dia (precisamente oito horas e meia). Que devia poder vir para casa e fazer o que lhe desse na telha - brincar, ver desenhos animados, pintar, ler -, mas não pode, porque tem TPC e estudo, porque tem de jantar a horas e a horas ir para a cama para dormir o número de horas necessário a um bom desenvolvimento. Mais uma vez me defronto com a exigência de um tempo em que queremos que tudo seja perfeito - os filhos, a alimentação, o estilo de vida, o sono -, mas em que o relógio nos escraviza e nos retira momentos de prazer e de lazer em prol de momentos de perfeição.
Às vezes apetecia-me "baldar" para as regras. Por eles. Por mim. Por nós.
Mas não consigo! A minha consciência é demasiadamente rígida e castigadora...
Sexta Feira [escura]
Daqui |
Está sentado à secretária. Uma secretária irrepreensivelmente arrumada, mas carregada de diversos montes de papéis identificados. Hoje não lhe apetece mergulhar em tanto papel. Na cabeça acumulam-se preocupações, assuntos por resolver, questões pendentes. Na cabeça não precisa de colar post-its para as identificar. Apetecia-lhe ter um corrector suficientemente potente que apagasse tudo o que na sua cabeça lhe interrompe o prazer de uma vida feliz. É sexta feira. Pelo menos isso já o alegra um pouco. Isso e o facto de se aproximar uma pausa de três dias. Mentalmente planeia-os. Não lhe apetece sair e o tempo está do seu lado. Sentado de costas para uma janela, gira a cadeira e olha para a rua. O céu está cinzento e carregado, escuro como se o dia estivesse a terminar e não apenas a começar. O trânsito de entrada na cidade já está infernal. Ninguém sabe conduzir com chuva ou há carros a mais quando a chuva se lembra de aparecer? Ainda não conseguiu decifrar este mistério dos engarrafamentos associados à água que cai do céu. Em casa também tem pilhas de papéis que urgem arrumação. Os papéis. Malditos. Parecem crescer como cogumelos. E o tempo que não ajuda. O tempo que lhe escorre entre os dedos, que lhe deixa mais curtos os dias, que o impede de disfrutar do que lhe é agradável. Cada vez escurece mais. Vira de novo as costas ao caos da cidade, à chuva desalmada, aos relâmpagos e trovões. Precisa de trabalhar. Nada do que tem pendente se resolverá sozinho e enquanto a cabeça estiver ocupada com o trabalho, adormecerá as preocupações que não páram de surgir. Deita mãos ao trabalho. Lê, assina, "despacha" papéis, os montes vão diminuindo, os post-its vão deixando de fazer sentido. A escuridão, aos poucos, vai-se atenuando. O barulho da chuva parece ter diminuído e os trovões há muito que não se fazem ouvir. É sexta feira, véspera de fim de semana de três dias. Depressa estará de regresso a casa. Onde o sofá e o comando da televisão o esperam ansiosamente.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Reflexo [bom]
Daqui |
A mulher chegou.
O parque de escritórios, moderno, com espaços verdes e água em lagos e fontes, agrada-lhe. Há qualquer coisa que naquele lugar transmite uma boa energia que lhe apetece captar.
Lembra-se que o estacionamento é pago e não sabe, para já, quanto tempo demorará nos escritórios. Contorna a rotunda. Sobe uma rua e pensa ter entrado num outro mundo. À parte daquele onde o verde, a água a correr e os edifícios altos e cheios de vidros reflectores da luz do sol e do brilho da água constituem um ambiente de filme. Nesta rua íngreme não há verde nem água a correr. Há prédios cinzentos, desbotados e esboroados, com vidros partidos e entradas danificadas. Não consegue perceber porque é que os bairros sociais são sempre tão feios, tão tristes, tão propensos à disseminação dessa tristeza. Estaciona o carro, pega na pasta, na agenda, no caderninho moleskine e lança-se a pé, a caminho do seu destino dessa manhã.
A porta é giratória. Põe o pé lá dentro e é levada, sem ter de empurrar, a um átrio espaçoso. O mármore preto do chão é um espelho onde os tacões das botas, também pretas, ecoam.
Não está nervosa. Está decidida e confiante numa decisão que adiava de dia para dia.
Quando a manhã chega ao fim e faz o caminho de regresso ao carro que a espera, não resiste em olhar a sua imagem reflectida nos vidros espelhados do edifício que agora abandona e onde, no futuro, voltará muitas vezes.
Acha-se bem. Apoia mentalmente a escolha de roupa e acessórios que fez para este dia importante. Sorri para si mesma no espelho.
Antes de Ir Dormir...
...ainda vou ler umas páginas. Tentei aqui no sofá, mas acabei por adormecer. Fui dormmindo e acordando enquanto espreitava um filme na televisão. Os grandes foram deitar-se cedo. Estavam cansados e amanhã a alvorada é cedo. Acabei por retemperar energias e agora estou mais desperta. Fui para a cozinha. Despejei uma máquina de loiça e pus outra a lavar. Já preparei o pão para o pequeno almoço de amanhã e pus pacotes de leite no frigorífico para que não falte o leite fresco. A minha falta de ar anda-me a dar trabalho. De manhã tenho dificuldade em acordar e ter vontade de saltar para fora da cama. Um spa seria um belo presentinho, tipo surpresa a propósito de nada. Vou.
Escolhas
Estou a sentir o meu blogue abandonado.
Não tenho tido tempo de qualidade para lhe dedicar. Uns posts feitos à pressa para que as datas não fiquem em branco, para que quem me procura não dê com o nariz em coisas já escritas há dias.
Durante o Verão tomei uma decisão. Fiz uma tentativa que não resultou, fui direccionando os esforços noutros sentidos, até que acabei por escolher uma opção para a qual, há uns tempos ,não me senti preparada.
Inicio amanhã (hoje, no sentido da data) uma nova etapa. Confiante e determinada a dar o melhor de mim, como aliás faço em tudo aquilo em que decido envolver-me. O tempo para o blogue, até agora fugidio, vai tornar-se mais escasso, mas vai ter de acontecer. O blogue faz parte da minha vida, é uma parte importante de mim, uma ligação ao mundo, um ponto de encontro com quem escolho encontrar-me.
Preciso que existam muitos dedos a torcer por mim e muitos outros a continuarem a digitar o meu endereço e/ou a clicarem no meu link.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Dúvidas Sobre amizades Perdidas
O que damos de nós, [atenção, carinho, amizade, partilha de sentimentos], a pessoas que entendemos como amigas num determinado momento das nossas vidas, fica irremediavelmente perdido quando essas pessoas decidem que já chega de ser amigo?
Há uma parte de nós que vai ficar para sempre incompleta, uma parte do nosso registo de Eu que se transfere para quem considerámos digno de receber a nossa partilha?
Essa parte do Eu transformou-se numa parte do Eu da outra pessoa?
São só umas dúvidas que se vieram instalar agora...
Educar em Rede
Foi a ouvir falar sobre este Projecto que passei toda a manhã, num dos locais municipais mais bonitos do Concelho - o Centro de Interpretação Ambiental da Ponta do Sal.
Este projecto, nascido a pensar em todas as dúvidas e preocupações que os Pais enfrentam, foi crescendo e já ganhou novas vertentes e o seu lugar, por mérito próprio, na rede da educação concelhia.
O que se pretende é juntar os Pais e oferecer-lhes um espaço e um tempo de partilha. As crianças/adolescentes partilham comportamentos, atitudes, gostos que os Pais nem sempre conseguem compreender e até aceitar. Estas sessões em que todos conversam sobre situações que até ali eram um problema para cada um revelam-se momentos em que, de repente, cada um dos Pais/Educadores não está só, a braços com todas as características que identificam um ou mais Filhos adolescentes. De repente os Pais conseguem transformar o que até ali lhes parecia um "bicho de sete cabeças" numa situação que os une a todos os seus pares.
O trabalho feito até se chegar ao Coisas de Todos Nós foi longo e continua a ser um caminho que todos queremos percorrer e melhorar, porque todos os que estamos envolvidos acreditamos que Educar em Rede é a opção mais correcta.
O trabalho feito até se chegar ao Coisas de Todos Nós foi longo e continua a ser um caminho que todos queremos percorrer e melhorar, porque todos os que estamos envolvidos acreditamos que Educar em Rede é a opção mais correcta.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Notícias da Rede (novo operador...vamos ver o que dá!)
Daqui |
Já está.
A rede já voltou a estar disponível por toda a casa.
Amanhã a minha manhã vai começar cedo e fora de casa.
O post matinal provavelmente só aparecerá à hora de almoço e espero que o local para onde vou me inspire palavras bonitas.
As folhas de Outono ficam de presente para todos os que aqui vêm, mesmo quando pouco ou nada escrevo, porque são bonitas, ainda que a preto e branco e porque eu gosto da nostalgia do Outono mesmo sabendo que ainda são muitos e longos os meses que me separam de um novo Verão.
Tudo Tem Uma Explicação...Até a Falta de Inspiração
Daqui |
A minha primeira escrita matinal surge sempre à mesa do pequeno almoço. Depois de ter distribuído o(s) que ainda vai(ão) de carro, volto para casa, sento-me à mesa, leio os mails, leio os blogues de que mais gosto e dou início ao meu exercício criativo. [Isto porque é assim que eu entendo um blogue, algo que se actualiza diariamente para que quem nos procura não bata sempre com os olhos nas mesmas palavras!].
No final da passada semana houve por aqui um problema eléctrico que de tanto se repetir acabou por avariar o router servidor de wireless. O fim de semana foi demasiadamente social e não houve tempo para reparar avarias, se bem que se trate de uma avaria que me condiciona imenso a vida em termos de cozinha...aguardamos por melhores (leia-se maiores) dias.
O facto de a ligação wireless não funcionar, condiciona a minha capacidade de escrever. O cabo da internet fixa está num ponto da casa onde inicialmente existia uma secretária que eu, numa das minhas fúrias "arrumacionais", fiz desaparecer e substituí por um móvel antigo que estava a perder protagonismo enfiado no hall de entrada e sempre carregado de toda a tralha que todos lhe largavam em cima. O dito móvel está por baixo de uma janela. Se eu ficar em pé a escrever, sinto-me como se estivesse numa montra. Virada para o jardim do meu vizinho do lado, para onde estão também viradas as janelas dele. Resultado, agora não tenho onde escrever (neste momento estou sentada com o computador no colo) e não posso levar o portátil para qualquer ponto da casa e despejar o que me vem à cabeça no momento...
Aguardo pacientemente a solução para este problema. Diz-se que a partir do final do dia de hoje tudo irá mudar em termos de telecomunicações cá em casa. Espero sinceramente que mude para melhor. Até lá, irei postando pouco.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Luz [à espera da...]
domingo, 24 de outubro de 2010
Passo a Passo...
Quando Não Sei o que Escrever, Transcrevo # [3]
[...]
«São coisas assim. Coisas que a limitam, aprisionam, desfiguram. Ele torna-a um conjunto de coisas sem nome. Ela sabe e sabe melhor quando vê as horas a serem comidas pelas telenovelas e o ouve roncar de álcool no sofá. A cozinha está arrumada, não lhe resta mais nada, a luz da televisão a engolir-lhe a tristeza e ela a perder a noção de si própria, pronta para ser uma princesa, alguém outro que ninguém conhece. Uma mulher, por fim.»[...]
in Leya Contos
sábado, 23 de outubro de 2010
A Força das Coisas, Simone de Beauvoir
Simone de Beauvoir |
« Faz-se muitas vezes da literatura uma ideia mais romântica. Mas ela impõe-me esta disciplina precisamente por ser algo diferente de um trabalho: uma paixão ou, digamos, uma mania. Ao acordar, uma ansiedade ou um apetite obriga-me a pegar imediatamente na caneta; só obedeço a uma ordem abstracta nos períodos sombrios em que duvido de tudo: aí a ordem pode mesmo ser quebrada. A não ser em viagem, ou quando se passam acontecimentos extraordinários, um dia em que não escreva tem um gosto a cinzas.»
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Bernardo Soares, Páginas do Livro do Desassossego
Bernardo Soares |
«Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim, as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.»
Vela por Mim
Daqui |
I.
Um dos meus sonhos é conseguir instalar uma mini-biblioteca numa das divisões da minha casa.
Gostava de ter a sorte de encher quatro paredes com estantes pesadas de madeira escura, iluminadas por dentro com uma luz ténue e não agressiva para os meus livros. Se pudessem ter vidros, tanto melhor. Ficariam protegidos do pó e dos pequeninos bichos que se instalam entre páginas e as vão comendo e destruindo.
Há poucos dias houve alguém que me perguntou com ar espantado se eu já tinha lido tudo o que lhe estava a mostrar dentro de estantes antigas, pesadas, de madeira escura, fechadas com vidros. Uma é declaradamente uma estante, outra é um louceiro transformado em guardador de livros, tesouros. Sim, já li todos estes. Tenho estes todos para ler. E se não tiver livros para ler estou triste.
II.
Está tristonho o dia de hoje. Ainda não passou de cinzento.
Pela manhã fui ao meu espaço cultural preferido (neste momento). O ar estava fresco, sentia-se o cheiro vindo do mar, havia o chilrear de vários pássaros no jardim da Casa. Tratei, com um carinho enorme, de dois presentes de aniversário e tudo naquela Casa Mágica me convida a ficar por ali. Vim.
III.
Esta casa tem um senão...não tem lareira.
Agora apetecia-me enrolar no sofá, com uma das mantinhas de Inverno, de sala, e ficar a molengar. Na verdade ainda hoje não fiz nada de muito útil...
IV.
Amanhã vai ser um dia longo e ocupado desde cedo.
A começar com uma Assembleia Geral, a passar por uma sessão de cabeleireiro, a terminar num casamento.
Quem fôr crente, dê um passeio até à Baixa. Entre na Loja das Velas e compre uma bem bonita. Acenda-a num local especial da casa e peça-lhe que vele por mim.
Ao Som do Rio que Corre para o Mar
Daqui |
Deixa-me ouvir o rio correr lá ao fundo, lá fora.
O movimento das águas lembra-me a vida e a minha está parada.
Abre as janelas e as portadas. Tudo aberto para trás. Ai, cala-te com essa conversa do frio e das pneumonias. Que me importa a mim que entre o frio que vem da rua, da água, da montanha que começa a gelar com as geadas matinais? Esqueces-te que frio é o que vive dentro de mim? Todo o que puder chegar da rua não me arrefecerá mais. É impossível. Pronto. Assim está bem. Consigo ver os ramos despidos do castanheiro onde existia o baloiço onde gostavas de te abanar enquanto lias as lições de piano. Marcavas os ritmos do estudo com o balançar do teu corpo. Eras engraçado quando eras rapazinho. Sempre desalinhado e afogueado, atento e concentrado quando do piano se tratava. Eu sorria interiormente. Gostava de acreditar que te tinha transmitido, pelo sangue do cordão umbilical, o meu fascínio pela música e tu não me deixavas ficar mal nesta minha crença. Trocavas qualquer plano pelo piano e eu, da cozinha, escutava os teus treinos. O solfejo que nunca te assustou, os exercícios de aquecimento das mãos, as horas de prática.
Não te importas? Vai ali ligar o rádio, mas não o ponhas naquele posto barulhento que os teus Filhos adoram. A minha cabeça já não aguenta. põe naquele outro que ouvíamos quando te ia buscar à Escola. Sei que ainda existe. Oh...não faças essa cara. Está tudo bem comigo. Tenho frio mas quero manter as janelas abertas. O castanheiro já não suporta nenhum baloiço mas continua a ser a árvore mais bonita do nosso jardim. Quando vier a Primavera levas-me para baixo e lês-me Os Desastres de Sofia à sombra do castanheiro, está bem? Tu adoravas quando nos sentávamos os dois em cima da manta de quadrados vermelhos e brancos e líamos a história a meias. Eu adorava ouvir-te ler, atrapalhado com a grafia antiga da minha versão do livro que já tinha pertencido à tua Avó. É verdade, foi boa a tua Infância. Eu sempre por perto sem te abafar de mimos e cuidados, tu sempre por perto com as tuas perguntas insistentes. Cresceste mas mantiveste-te fiel ao piano e à nossa cumplicidade. Por isso estás aqui. Hoje e agora. Quando as forças me abandonam e me impedem de sózinha ir ver o rio a correr, com pressa de chegar ao mar, de me sentar na sombra do castanheiro a ler.
Fecha as janelas. E as portadas. Não, não tenho frio, não sejas teimoso. Apenas preciso de descansar. Continuas o mesmo menino das perguntas intermináveis, do génio enérgico, cansas-me. Anda, vai para baixo. Senta-te na banqueta e faz uns exercícios de solfejo. Quem sabe, se eu acordar deste sono que me começa a fechar os olhos, vou ter contigo e te corrijo a posição das mãos no piano...
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Dificuldades Internáuticas
O forno do meu fogão está com um problema qualquer. Ligá-lo significa rebentar com os fusíveis. O jantar de ontem foi feito à custa de um filho de plantão ao pé do botão do quadro. O almoço de hoje, a mesma cena. Em resultado de tantas quebras de energia, a ligação wireless está completamente dessincronizada. Esta tarde liguei duas vezes para a assistência técnica da Zon. Não adiantou nada. Agora tenho o portátil ligado ao cabo de rede fixa e todos os outros computadores cá de casa estão sem wireless...
Eu, "Intelectual" & ET
Daqui |
Este Verão fui acusada de só ler "jornais intelectuais"
Paciência. Lamento. Ou melhor, lamento por aqueles que não os leêm e preferem os jornais onde as mortes e as desgraças fazem vender muitos e muitos milhares de exemplares.
O Jornal de Letras faz-me feliz. É um jornal que leio de uma ponta a outra e que guardo religiosamente durante 15 dias, o tempo necessário para que outro número novinho em folha chegue às bancas.
Às bancas, mas não a todas. Encontrar o JL pode revestir-se de carácter de missão impossível. A forma como olham os donos de tabacarias/quiosques quando se pergunta por este jornal é como se estivessem perante um ET do mais estranho e ousado filme de ficção científica. Respostas do género "Deixámos de ter, ninguém o comprava", são frequentes.
O tempo que páro para ler este jornal é um tempo que considero uma dádiva. Gosto de ler as crónicas do José Luís Peixoto e do Gonçalo M. Tavares. São as primeiras páginas que procuro. Ler e pensar que parece tão fácil escrever tão bem! Gosto de ler as páginas dos lançamentos, descobrir quem publicou o quê e sobre quê. Gosto de ler as páginas centrais, especialmente quando o tema é a Educação. Vendo bem, gosto de o ler todo e por momentos de me sentir parte do todo que é este jornal "intelectual".
Que me desculpem os jornais generalistas. Não aguento mais crise, futebol, crimes e acidentes naturais. Preciso do oxigénio que me vem daqueles que tendo conhecimentos, fazem das suas vidas, a forma de dar mais cor e alegria às vidas de todos nós. A cultura é um bem precioso em qualquer sociedade, sendo que nos dias que correm, cinzentos e depressivos, é ela a minha salvação.
O Peso da Idade [Adulta]
Daqui |
Ser adulto é penoso.
É-se adulto. Quando há dois dígitos indicadores da idade que limitam esse estado da vida e enquanto não se chega lá, anseia-se por chegar. Ser adulto reveste-se de uma aura de maravilhosa liberdade e independência. Ilusão total de idade não adulta. O ser adulto confere o maior estado de prisão que cada ser humano conhece ao longo da sua vida. O facto de se ser adulto condiciona uma série de comportamentos, atitudes, opiniões.
Há dias em que me aguento melhor. Tenho a cabeça mais ocupada com outras questões e consigo superar as minhas próprias questões existenciais. Há outros dias, como o que vivo hoje, em que a cabeça está focada em tentativas frustradas de explicar comportamentos e atitudes de outros. Deveria ignorar pessoas e respectivos comportamentos que me causam repulsa, mas dou por mim incomodado. De que me tenho feito adulto? Como me tenho construído nesta condição de ser crescido e responsável. Quantos são os que considero meus companheiros, meus amigos. Triste e fraca condição esta de se ser adulto. Quando era criança, jovem, tudo era mais simples. Os amigos eram amigos para toda a vida, incondicionalmente presentes, quantos mais melhor. Não existia a individualidade do eu, apenas a individualidade do grupo que se apoia. Sempre. Ser adulto é perder a ingenuidade, é perder a magia, é perder o grupo. Hoje sento-me só a uma mesa em que existem muitos outros lugares preparados. Não faço questão em ter companhia. Tenho aprendido ao longo dos anos o sentido do provérbio que nos lembra que muitas vezes não há nada melhor do que a companhia que fazemos a nós próprios. Assim estou hoje. Demasiadas cicatrizes de companhias em que apostei e que se revelaram dispensáveis. Demasiado conhecimento sobre os factores que nos tornam apetecíveis e facilmente descartáveis. As amizades, as verdadeiras, continuam a ser as do grupo. As que se aninham lá atrás na memória da infância. Essas, mesmo que distantes, constituem uma almofada à qual me posso encostar sem ter medo de não encontrar apoio.
Ser adulto é penoso.
E imensamente solitário.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Adict
Daqui |
Sou viciado em paixão. Não a do corpo, mas a da alma. Preciso da energia em que a euforia se traduz. Pouco me importa a natureza do objecto da paixão. Homem mulher objecto desafio de tarefa a cumprir. Tudo me faz sentir a adrenalina a crescer dentro do meu corpo. Ocasiões há em que me sinto tentado a ficar por ali, a sedimentar sentimentos, a alimentar a paixão transitória para que se torne permanente e me agarre para sempre. A paixão é fugidia, é breve e não se deixa agarrar. Esquiva, quando me sente fraquejar, parte. Deixa-me sofredor e perdido no escuro das minhas emoções que se sentem sempre traídas por cada nova paixão que me alimenta dias e me ensombra noites de solidão. E enquanto outra paixão não se instala, vagueio. Corpo que se arrasta. Alma que sofre. No centro do corpo, um coração que brilha sempre como um farol, orientando a chegada de uma nova paixão.
Eterno Masculino
Daqui |
O homem sai de cena. Sente que aquele não é o seu lugar. As cumplicidades falharam. Ou talvez nunca tenham existido. Apenas momentos soltos, coincidências, vontades pontuais os tinham ligado. O fio condutor estalara. O homem está perdido. A sua consciência masculina não o preparara para a possibilidade da palavra fim aparecer na sua própria história. O homem sai de cena e sente-se ferido, de morte. No lugar da garganta está um bloco que impede a passagem do ar, no peito há um peso que lhe prende a repiração e a voz. Como fazer seguir a vida, o que é a vida a partir dali? Tudo estava garantido e certo. Era assim que a vida decorria, linear, sem sobressaltos, com tudo e todos no devido lugar. Agora tudo está em causa, tudo se altera, tudo desaparece, os lugares já não são de nada nem de ninguém. O homem sai de cena e esconde-se. O lugar que habitualmente o acolhe para a pausa transforma-se no lugar que agora o acolhe para o silêncio, o fim. De garante passará a quê, agora que tudo terminou. Não consegue esquecer os cheiros, os ruídos, os silêncios que lhe caracterizaram a vida. O homem sai de cena. Da cena que lhe era cara. Vai ter de se reconstruir, de reinventar tudo. O homem sofre. Em silêncio e sem lágrimas. Afinal, é um homem. E os homens não choram.
Lost
Como se faz para reencontrar o caminho
Ao perder o ponto que guia os passos
Ao perder a razão de continuar a caminhar
Ao perder a vontade de continuar a lutar
O que fazer
Eterno Feminino
Daqui |
A mulher percorre com os olhos as páginas do livro, que lê em pequenas doses, como um remédio que se toma com precauções especiais. Passa as páginas centrais. As folhas vão sendo em maior número do lado esquerdo do que do lado direito. As palavras que lê podiam ser sobre ela. Sobre a sua vida. Sobre a sua relação com os outros. Vê-se com menos 20 anos, vê-se com mais 40 anos. O livro desperta-lhe a consciência para as diferenças da consciência humana nas diversas etapas da vida. Não pára de ler, porque não consegue parar. Apercebe-se de que tudo é efémero e tão repetitivo. Não são exclusivamente suas as dúvidas que ultimamente a deixam ansiosa. Não são características suas as questões que não consegue deixar de colocar. Sobre o futuro. Sobre o passado. Sobre cada dia que amanhece. A mulher tem idade. Madura. A mulher não sabe se quer chegar ao dobro da idade que tem, porque tem medo do futuro que vem. A mulher sabe que nunca desejaria saber o futuro. Prefere que o presente a abafe do que o futuro a derrote mesmo antes de chegar. A mulher atinge o final do livro. Fecha-o. Demorou tão pouco a lê-lo que nem sequer lhe marcou a capa ou as páginas lidas. Escreveu e sublinhou algumas com um lápis de carvão. Guarda o livro. A mulher já não se sente tão só. A mulher não consegue encontrar conforto ao descobrir que tudo o que a atormenta não é exclusivo seu.
Adormece.
Sem apagar a luz.
Sem tirar os óculos.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Memórias do Futuro, Daniel Sampaio
Daqui |
«Então chorei. Desejei que te transformasses numa ausência, que o teu nome fosse uma recordação em breve esquecida. Ansiei que as minhas palavras te deixassem só para sempre. Senti-me despido, abandonado nas trevas de uma noite de Inverno.»
I Love You
No espaço do sonho qualquer amor é possível
No espaço da vida nem todos os amores são possíveis
Prefiro o meu mundo do sonho
Lá não existe a culpa, o medo, as imposições sociais
Lá existo
Eu
Daqui |
No espaço da vida nem todos os amores são possíveis
Prefiro o meu mundo do sonho
Lá não existe a culpa, o medo, as imposições sociais
Lá existo
Eu
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
A Fuga [do Pensamento]
Daqui |
O corpo. sentia-o cansado mas nada que não conseguisse suportar. tentava esquecê-lo. apostava na cabeça. essa sim o seu bem mais precioso. precisava dela para falar, para ouvir, para ver, mas essencialmente para pensar. que seria de sim sem o seu pensamento. pensava nisso e pensava-se nada. sem se pensar não se pode viver. tinha a certeza disso. para onde ia o pensamento. que caminhos tomava e lhe mostrava. nem sempre os melhores. nem sempre os mais alegres. por vezes disparatados, obcecados. existiam para dar cor à vida que passava. em frente aos olhos. os olhos. tinha-os cansados. tão cansados que as órbitas lhe pareciam enormes. sentia-as grandes e vazias. ocas. se visse mais iria ouvir o eco do espaço das órbitas. o cansaço que lhe mede os dias. os dias que lhe tragam os pensamentos. os pensamentos que lhe dizem o cansaço. o cansaço que lhe pede o descanso e a fuga. a fuga impossível que retorna o pensamento. está a chegar ao limite. deita-se. no chão. fecha os olhos. o eco do pensamento continua a atordoar-lhe o cérebro. esquece. não é ninguém. matou o corpo. apenas o pensamento permanece. solta-o pelo ar. através da pálpebras cerradas vê-o subir. para longe de si. para outro corpo. para outro alguém que possa fazer dele a realidade e não a fuga.
«...Espero que te rodeiem os risos, te envolvam as emoções. [...] que consigas continuar a escrever pois a tua escrita é a tua essência.»
Da Net |
foram muitas as mensagens de parabéns. sms's e mensagens no facebook. as duas linhas que acima reproduzi, pertencem a uma das mensagens de parabéns que recebi. é um dos meus maiores desejos. conseguir continuar a escrever. com capacidade de pensamento. com ideias renovadas. palavras bem alinhadas.
domingo, 17 de outubro de 2010
Já com 45
Se o dia do meu aniversário é sempre um dia feliz para mim, quando consigo juntar à minha volta tantas pessoas de quem gosto (e que sei que gostam de mim) o dia torna-se muito mais Feliz. Foi com alguma pena que me despedi daqueles que foram os últimos a entrar (passava da meia noite eu já não fazia anos) e que foram também os últimos a sair. De repente o meu dia de anos acabara. Era como se eu fosse a Gata Borralheira que durante umas horas fora Cinderela. Em menos de um ai, a carruagem voltara a ser abóbora e os cavalos brancos pequeninos ratos.
Hoje acordei (cedo, para variar) com a bateria do mimo e da atenção completamente carregada e isso é bom. A pilha de livros que ganhei é mais um motivo para esta alegria, a que se junta o facto de estar sol lá fora, de estar quentinho e de a festa ter sido mesmo muito boa. Obrigada a todos os que vieram. Obrigada a todos os que não vieram mas que gostam também muito de mim.
«Mas o melhor da baía de Inhambane são as pessoas, a sua inesgotável hospitalidade e a sua infinita vontade de trocar tempo e alma.», Mia Couto, Pensageiro Frequente
em Inhambane fui fabricada. deve ter sido de lá que trouxe esta minha vontade. de estar sempre rodeada de pessoas. de saber que todos se sentem bem cá por casa. de ver que uns e outros se vão cruzando, conhecendo e gostando de se rever ano após ano. a Inhambane hei-de voltar um dia. para nela sentir a energia que me enche os dias. o amor que sinto por aqueles de quem gosto. um amor tão grande que às vezes sufoca e não me deixa respirar mais fundo. um amor que me faz sentir medo de perder qualquer um deles. de deixar de saber deles. de deixar de os ver. mas hoje, é de alegri que trata este post.
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sábado, 16 de outubro de 2010
45 [Mais Coisa, Menos Coisa...]
Devia ter agendado ontem o post para hoje.
Agora não consigo lembrar-me de muito mais palavras do que "toca a acordar, toca a cozinhar!!!!".
Fica o registo de que consegui não me esquecer do meu aniversário. Como se isso fosse possível...se há coisas em que tenho a idade mental de uma criança, o fazer anos é uma delas.
Sim, já estou na cozinha com máquinas a bater ovos e afins, a ouvir os meus pássaros a chilrear, de janela aberta de par em par.
Vai ser um dia Bom.
Comprido
Cheio de gente de quem gosto.
Parabéns a MIM
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Poesia [da Cozinha, com Paixão]]
«Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
...-Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.»
Herberto Helder
Alimentação [Palavra de Ordem, Hoje e Amanhã]
Da Net |
I.
A iniciativa na Escola correu muito bem.
A minha máquina fez um sucesso ao transformar frutas quase inteiras em sumos deliciosos. Os miúdos adoraram a ideia de ter sumos naturais, à borla, no intervalo grande da manhã.
Eu adorei, mas toda a gente já sabe que sou apaixonada por escolas e ambientes escolares. Confesso que tremo com a possibilidade de assistir a comportamentos pouco educados, mas no fundo adoro escolas e miúdos. Hoje, enquanto fazia sumos e via aqueles miúdos à minha volta, a descascarem cenouras e a cortar, a descascarem laranjas e a cortar maçãs em quartos, pensei, mais uma vez, que ao longo da vida são muitas as mudanças que a personalidade humana vai sofrendo. Nunca, em tempo útil de tomar essa opção, me passaria pela cabeça ser professora. Hoje, já penso muitas vezes, que poderia ter optado por esta profissão. Adoro miúdos (e sei que eles também gostam de mim)!
II.
A Belita foi destacada pela equipa de Blogs do Sapo, como sendo a autora de um dos melhores blogs sobre culinária. Ela está que nem acredita e eu estou TÃO feliz por ela. Ela é mesmo a maior nestas coisas de pegar nos alimentos e ter ideias para os transformar em pratos maravilhosos. Sei do que falo. Conheço a cozinha onde tudo se passa, a horta onde tudo é plantado, semeado e colhido, a pessoa sempre "alto-astral" que passa essa boa energia para tudo o que faz. Gosto tanto de ti :-)
III.
A minha cozinha vai agora transformar-se em Centro do meu Mundo.
Já fui às compras, já defini a ementa de amanhã e vou deitar mãos à obra antes que a equipa de Filhos comece a chegar e a destabilizar o meu sossego mental.
IV.
Quando nasci, o meu peso estava perto dos 5 Kg. O Dia Mudial da Alimentação no dia em que faço anos, parece-me bastante adequado. Ou não?
Dia Mundial da Alimentação [em antecipação]
Daqui |
E hoje assinala-se na ESFLG o Dia Mundial da Alimentação.
Filmes, Nutricionista da Geração C, Canal Geração C, distribuição de palitos de cenoura, agricultor biológico com os seus produtos, eu e os sumos naturais...
O S. Pedro não parece estar do nosso lado, mas nós estaremos lá.
A lembrar os nossos Meninos como se come saudavelmente, longe das comidas prontas de supermercado, dos rápidos fast-food, dos sumos de pacote.
Vai ser uma manhã animada!!!
E de ausência por estas bandas virtuais.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Arrumando...
Houve alguém, que me disse um dia:
"Nada melhor do que a preparação de uma festa para se pôr a casa nos trinques. Tudo o que deixamos que vá ficando fora do sítio, na vertigem do dia a dia, em véspera de festa, retorna ao seu devido lugar".
Subscrevo.
A Lista dos Ausentes # [1]
Da Net |
« Os que já foram permanecem, naquilo que de essencial teve efeito em nós, vivos e na nossa companhia, enquanto nós próprios vivermos. Por vezes conseguimos até conversar melhor com eles, consultá-los e escutar o seu conselho, do que poderíamos junto daqueles que ainda vivem.»
Hermann Hesse,
Elogio da Velhice
Prometo [-me] [-te]
Daqui |
Podes vir sem receio de me atrapalhar
Páro o que estiver a fazer
Prometo-me a ti
Hoje não deixo que grades nenhumas me tapem o caminho
Que me leva a ti que te traz a mim
Estou perdida e preciso que me encontres
Procura-me
Hoje o tempo vai ser meu
e Teu
se me quiseres encontrar
A Lista dos Ausentes
Daqui |
Li, algures, uma entrevista, de alguém, que dizia que a partir de uma determinada idade começamos a ter uma lista de ausentes das nossas vidas e que essa lista determina um pouco, também, o nosso tempo de vida.
Confronto-me diariamente com a minha lista, infelizmente já bem preenchida de nomes. Pessoas ao lado de quem cresci, pessoas que me eram queridas, das quais não consigo deixar de sentir falta.
De quem me lembro muito. Que partiu da minha vida mais cedo do que seria de esperar pela lógica da vida. E se há alturas em que sinto falta de uma fé em algo superior, esta é uma delas. Precisava tanto de acreditar que estes, [que me continuam a ser tão queridos], ausentes estão presentes num outro ponto, que continuam comigo, que não me perdem de vista. Porque quase me esqueço quem sou na loucura dos meus dias e quando me lembro, vejo uma menina a quem ainda faz imensa falta um colo, alguém que lhe empurre a bicicleta sem rodinhas para que aprenda a pedalar sózinha...
Passerelle
Daqui |
Hoje deixo de lado o medo da gente.
Dispo a minha pele, encaixando-me numa figura que me protege do mal.
Deixo que a cara se transforme, se cubra de pós, que o cabelo se rearranje, olho-me no espelho e dificilmente me reconheço. Há lá outra. Uma que não tem medo da gente que olha e comenta e fotografa e escreve.
Hoje o palco, a passerelle, as luzes e os aplausos esperam-me. Não a mim, assustada e tímida, mas a mim confiante e distante de tudo e de todos.
Saio dos bastidores onde me escondo para lá das cortinas onde me exponho.
E sou feliz.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Dreams into Plans
Daqui |
Aos poucos despede-se de mim a capícua da quarta década da minha vida. Aos poucos vai-se aproximando o dia e a hora em que alcançarei o meio da idade 40. Não tenho bem a certeza se ainda estarei na altura de seguir os conselhos do post it que ilustra estas linhas e como hei-de fazer esta transformação na minha vida. Os dias que vivemos são tão instáveis, tão inseguros, tão complicados. Não é que os meus sonhos sejam de tamanha grandeza que se tornem irrealizáveis, mas o meu realismo leva-me ao cepticismo na maior parte das vezes.
Se eu verbalizar os meus sonhos, torná-los-ei impossíveis de realizar? E se os verbalizar? Que opções terei de tomar para os transformar em planos?
Fico-me pela meia medida:
Moçambique, escrita mais consistente, estudar, ser feliz.
Será sonhar alto demais?
Companheiras de Quarta Feira [Comungar]
Daqui |
Nesta mesa de jardim encontram-se uma vez por semana. No meio da semana. A quarta feira em que dão folga a si próprias. Esquecem compromissos familiares e domésticos. Comportam-se como se voltassem à adolescência da liberdade, dos não compromissos, da escapadela ao Liceu, da omissão de como tinha sido o dia. Ela primeiro. Ela depois. Chegam por entradas distintas do jardim. Uma vem de perto, Lisboa é a sua casa. Outra vem de mais longe, dos arredores ensolarados onde o mar é vizinho, companheiro e confessor. A que chega primeiro. Irrepreensivelmente vestida, penteada, maquilhada. Pousa a mala na cadeira do seu lado direito. Abre-a. Tira os óculos e um livro. Geralmente um livro fininho. Poesia ou ensaio. Senta-se. Respira fundo, olha em redor, como se absorvesse cada pormenor de uma paisagem que já deve saber de cor, mas na qual descobre um novo elemento todos os dias. Põe os óculos. Inicia a leitura. Lê devagar. Absorve cada palavra lida, pensa-a, estuda-a, procura a origem. Volta não volta sublinha frases, toma notas de lado. A que chega depois. Estudadamente despenteada. Afogueada da corrida que caracteriza o seu passo. Devagar é palavra para a qual ainda não descobriu o significado. Passa a vida a correr e se não correr, não vive. Roupa prática, sapatos práticos, telemóvel na algibeira das calças, moleskine pequeno noutra algibeira, carteira enfiada num outro qualquer bolso do blusão. Sorri. A primeira admira-lhe o sorriso. Quase o inveja por ser tão espontâneo, tão característico. Passa a semana inteira presa à energia que este sorriso semanal lhe devolve. A segunda senta-se. De imediato inicia um qualquer tema de conversa. Tem sempre assunto, tem sempre vontade de contar seja o que fôr, mesmo que à partida pareça pouco interessante. Nada, nas suas palavras é pouco interessante. O empregado vem recolher o pedido. Não precisava de o fazer. Desde que as duas fixaram a quarta feira como o dia da fuga, o jardim é sempre o mesmo, o pedido é sempre o mesmo. Um chá preto. Duas chávenas. Por vezes dois queques, por vezes nada mais além do chá. A conversa flui. A segunda fala dos alunos que tem este ano. Admira-os. Empenhados, trabalhadores e conscientes de que têm de dar tudo por tudo. Conta peripécias de sala de aula, fofoquices de sala de professores. Imita este e aquele. Falas e trejeitos. A primeira ri. Observa-a com carinho, desejosa de absorver tanta energia positiva, tanta vontade de seguir em frente, sempre. A primeira fala do seu projecto de escrita que avança mais devagar do que gostaria. Está presa num detalhe da história, não o consegue ultrapassar, não sabe que rumo há-de dar a uma das personagens. E depois o marido e os filhos que não lhe dão tréguas. Há sempre tanto para organizar, para assegurar, para manter. Sente-se pronta a desistir. Ataca-a a segunda. Que nem pense nessa hipótese. O projecto de escrita é o teu projecto. E a primeira sente-se confortada, sabe que ali, às quartas feiras, há alguém sempre pronto a ouvi-la, a estimular-lhe os sentidos que tantas vezes andam adormecidos. Estica o braço por cima da mesa. Toca na mão da segunda, devagar, a medo que ela não gosta de toques. O contacto físico nem sempre lhe é agradável. Obrigada por teres inventado ser minha amiga, mesmo que só às quartas-feiras. Foge a mão da segunda, mas não lhe fogem os olhos. O castanho que, de um lado da mesa, se fixa no verde do outro lado da mesa. O despenteado, louco, falador, intempestivo, que se reflecte no aprumado, sensato, calmo, silencioso. Duas faces que se miram como se se mirassem num espelho que lhes devolve a imagem do que gostariam de ser. A primeira, a segunda; a segunda, a primeira. Comungam gostos, dias. Tudo o resto as distingue, as afasta, as empurra para caminhos opostos. Fazem da quarta-feira, do chá, da mesa de jardim e da vista do miradouro o ponto que as une e no qual se sentem confortáveis. Por horas. Comungam. E gostam de estar ali.
Desencontro (2), Mia Couto
Timbila, Instrumento Tradicional de Moçambique |
na contrária face
da minha solidao
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entreabertos
E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar
No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculos e alvorada
Para me acostumar
à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas
a espera do silêncio
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Vitaminas. Precisam-se!!!
Da Net |
A esta hora do dia abate-se sobre mim o cansaço. Um cansaço tão pesado que, tenho a certeza, se me deitasse ou sentasse adormeceria e só voltaria a acordar amanhã de manhã. É uma hora crítica! E o pior é que é a esta hora que tudo acontece e tem de continuar a acontecer. Não tenho como parar tudo um bocadinho. E nada pára...
Conciliar? Que Quer Isso Dizer?
eu concilio. sim, vou fazendo os possíveis... para dizer a verdade, não sei muito bem o que é isso, conciliar. só se for andar sempre a correr de um lado para o outro, nem sei bem para quê. o dinheiro não chega para nada, demoro duas horas a chegar ao emprego, primeiro ainda tenho de deixar a miúda na ama. entro às nove. almoço da uma às duas e meia. almoço é como quem diz... trinco uma sandes, engulo um prato de sopa, aproveito para fazer umas compras, o tempo passa num instante. há tardes em que faço tudo o que há para fazer e por volta das quatro fico a olhar para as paredes. um dia, atrevi-me a perguntar ao patrão se não podia sair um pouco mais cedo. estava sol, apetecia-me ir buscar a miúda, coitada!, sai sempre da ama tão tarde, mal dá para nos vermos... achei que podíamos ir ao jardim, comprava-lhe um gelado, sempre era diferente do que metermo-nos num autocarro apinhado, em hora de ponta, e chegar a casa quase de noite... mas olharam para mim como se eu fosse atrasada mental, ou como se estivesse a abusar da sorte de ter um emprego, e nunca mais pedi nada. saio pelas seis, chego à ama por volta das sete, às vezes mais tarde, depende do trânsito. às oito, tenho de estar a fazer o jantar, ao mesmo tempo que dou banho à miúda, que jeito me davam mais dois pares de mãos... depois é metê-la na cama, nem tenho cabeça para histórias, pôr a roupa na máquina, estendê-la, arrumar a cozinha. com sorte, ainda espreito a novela, mas é rara a noite em que não me dá para adormecer no sofá...
tu concilias. és fantástica, tu! nem sei como é que consegues... com três crianças e um lugar na administração da empresa... não dás em maluca? é claro que teres uma carrinha que os leva e traz da escola ajuda muitíssimo. e a tua empregada é uma querida com eles! ainda no outro dia a encontrei na piscina com o Martim... ou terá sido no ballet, com a Carlota? olha, já não me lembro... mas é uma querida. ajuda-te imenso, não é? imagina que tinhas de andar com os três para trás e para a frente e logo agora, que estás separada, isso e mais a empresa... era uma estafa! e a baby-sitter também é amorosa, não é? depois hás-de dar-me o contacto... noutro dia, liguei para tua casa e ela atendeu e disse-me que tinhas ido a um jantar e pareceu-me mesmo simpática... e o teu ex-marido, o que é feito dele? pelo menos vai buscar as crianças ao fim de semana? é que se nem ao fim de semana descansas, vais mesmo acabar por dar em maluca!!
ele concilia. ele?! deixa-me rir... ele chega sempre a casa tardíssimo! e sempre quando os miúdos já estão a dormir, é raro o dia em que os vê... raramente me ajuda, diz que tem mais que fazer! eu levo-os à escola, eu vou às compras, eu ponho a roupa a lavar, eu arrumo e, além disso, trabalho! ele, quando muito, muda uma lâmpada, é capaz de fazer um churrasco quando os meus pais vêm cá almoçar e está bem que há um dia ou outro em que até deixa os miúdos na escola e que aos fins-de-semana joga à bola com eles, mas vê lá se alguma vez desmarcou alguma coisa lá no trabalho ou se meteu um dia de baixa quando ficaram doentes? ou quando nasceram? ok, ok... tens razão, quando nasceram, ficou aqueles três dias em casa e até é verdade que às vezes quer fazer mais e sou eu que não deixo... mas se faço melhor e mais rápido, para quê enervar-me? de cada vez que se oferece para arrumar a cozinha, aquilo fica transformado num lago! e sempre que tira a roupa da corda enrola tudo num bolo que atira para o cesto... é a isso que chamas conciliar?!
nós conciliamos. nem podia ser de outra maneira. trabalhamos as três na mesma empresa, é certo que cada uma com as suas funções, mas sabemos fazer as coisas umas das outras e assim sobra mais tempo. quando a Vera tem de ir buscar os miúdos mais cedo, eu e a Teresa saímos mais tarde. quando a filha da Teresa faz anos, e se não houver muito trabalho, ajudamos na festa. e até quando sou eu, que não tenho filhos, apenas um gato, e fico com uma daquelas dores de cabeça na cama, as duas dizem-me sempre 'descansa e recompõe-te que nós seguramos as pontas, Sofia'. é verdade que o facto de a empresa ser nossa estimula e ajuda. mas, na empresa, há outras pessoas que também têm tolerância de horário, desde que cumpram as suas responsabilidades, é óbvio. e temos mais empregados do que é costume, pois muitos só trabalham meio dia. ganham menos, mas acho que preferem assim. e não é simplesmente por terem mais tempo, mas porque assim se reconciliam mais facilmente com as suas vidas...
vós - governantes, patrões, sindicatos e afins -, que tantas vezes não conciliais coisa nenhuma para além de leis, truques, falácias, poderes e papéis e contratos a prazo, fazei por favor com que tudo flua mais facilmente... será que custa assim tanto?
eles conciliam. de manhã, é ele que leva as crianças à escola. à tarde, é ela que as vai buscar, a não ser que haja um imprevisto de última hora e, nessa altura, telefona-lhe e ele, normalmente, consegue acudir-lhe. dividem as compras, as contas, os planos. dividem os banhos, o colo e o riso. ela prefere que seja ele a fazer o jantar, no fim é ela quem põe a loiça na máquina e que arruma a cozinha. quando ele vai viajar em trabalho, ela prepara-lhe a mala, quando é ela quem vai, ele ajuda-a a fechá-la. costumam ir juntos ao pediatra, às festas da escola, à praia, ao jardim. de vez em quando, deixam os filhos em casa da avó e vão os dois sozinhos jantar. ele costuma deitar as crianças. ela vai aconchegar os lençóis e contar uma história. nem percebem por que razão conciliar ainda é um verbo difícil...
Fonte: Inês de Barros Baptista
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