Grafia

A Autora deste Blogue optou por manter na sua escrita a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

sábado, 31 de julho de 2010

Sábado, Quase de Férias, Stress de Última Hora


Este ano as matrículas foram caracterizadas por uma nova modalidade: a existência de uma Central de Matrículas. Para evitar cunhas, para que fossem assegurados os critérios de ingresso dos alunos nas escolas a que realmente pertencem, foram as razões dadas para esta inovação de última hora. Fiz, calma e serenamente as matrículas e nem me passou pela cabeça a ideia de que teria de confirmar que os dois rapazes mais velhos iriam ficar nas escolas onde os matriculei. Estava, portanto, completamente, "na boa".
Ontem, quase às nove da noite, recebo um sms de uma outra Mãe perguntando se eu sabia que as listas de alunos aceites na Escola de Stº António da Parede já estavam publicadas e que o nome do Martim não estava lá. Fiquei logo em pulgas. Às nove da noite, do último dia útil do mês de Julho, véspera de saída para férias de maior parte dos Pais e Mães de alunos adolescentes deste país? Eu não queria acreditar no que me estavam a dizer. E se não está naquela Escola, a que Escola foi parar? E que raio de sistema é este que retira um aluno (neste caso, mais do que um, da mesma turma de 6º ano) de uma turma, de uma Escola e não envia uma comunicação ao Encarregado de Educação? Claro está que peguei em mim e nos meus contactos e toca de desatar a teclar. Mails para um lado, sms's para outro, esquema montado para na segunda feira de manhã me "plantar" na secretaria da Escola e pedir explicações.
Se a dita Central de Matrículas pretendia evitar o factor "cunha", pressinto que não vai conseguir mais do que o que se fazia no meu tempo de "ciclo preparatório" - a Escola escolhida pelos Encarregados de Educação não era a da zona de residência, então descobria-se um amigo ou familiar que vivesse na dita zona e dava-se aquela morada como sendo a do Aluno. Vamos voltar a este sistema? Não tem sido dito que os Encarregados de Educação devem ser livres de escolher a Escola que querem para os seus Filhos? Não me parece que isso esteja a acontecer. Pior. Não acontece e quem está à frente da Escola também não age da melhor forma.
Mais um stress para anteceder as férias. Mais uma "merdice" para nos atrasar a saída, porque não sei realmente quanto tempo vou demorar a resolver este assunto. Mais uma experiência negativa relativamente ao nosso sistema de ensino, às directrizes do Ministério da Educação.
Triste.
Publicamente: triste a forma como se resolvem as coisas em Portugal. Como se mexe com a vida das pessoas sem se ter qualquer tipo de consideração/respeito. Quando é que eu iria saber desta alteração? Em Setembro, quando voltasse? E os livros? Por mero acaso não os comprei, porque a primeira tentativa foi arranjar os livros emprestados. Já cá tenho alguns. Quando é que a Escola me notificaria? Durante o mês de Agosto quando eu não estivesse cá para abrir a caixa do correio? Telemóveis? Custam dinheiro. Mails? Não os sabem escrever? São grátis e imediatos!
Estou pior que estragada com tudo isto.
Segunda feira lá estarei. Uma certeza tenho desde já. Uma escola que age assim, não me serve. Como tal, o próximo filho não irá para lá. Irei arranjar uma morada emprestada para que ele possa fingir pertencer a uma outra escola.
Que tal?

Sábado, Final de Tarde, Véspera de Festa, Véspera de Férias


Como é possível dizerem que os dias de Verão são maiores que os de Inverno? São seis e meia da tarde e ainda tenho tanto para fazer.
A minha cama está coberta de montes personalizados de roupa. É fácil imaginar. T-shirts a multiplicar por seis, calções idem, fatos de banho, cuecas, boxers, meias, agasalhos para noites mais frias, calças de ganga; saco de toalhas, panos e protectores; saco de sapatos,chinelos, ténis e afins; saco de livros; máquina fotográfica....
Preparar férias é de dar em loucos. A lista está feita e vou picando o que vou pondo em cima da cama, mas lembro-me sempre de mais qualquer coisa que vou acrescentando e quando finalmente está tudo pronto, a quantidade de tralha à porta de casa é coisa para precisarmos de um atrelado de carga, um porta bagagens de tejadilho e qualquer dia de dois carros!
Entretanto, hoje é também o dia de chegada dos mais velhos. A Catarina, depois de uma semana na Noruega com o Avô. O Manel, depois de três dias de surfadas intensas em Peniche. A casa vai voltar ao reboliço do costume e isso é bom!
Amanhã é dia de festa de aniversário. O 19º! Caramba, o tempo passa mesmo a correr e nós nem nos apercebemos disso. Sou Mãe há 19 anos. Tento lembrar-me de como era antes de ser Mãe e não me lembro...
Estou contente. Finalmente vou sair daqui.
Mas...

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Laboratório de Vida


I.
Se entendermos e analisarmos o pequeno mundo de cada um de nós como um laboratório onde milhares de experiências são vividas dia após dia com resultados sempre tão diferentes, podemos entender como é possível que no Mundo aconteçam biliões de coisas diferentes em apenas 24 horas. Pessoas que nascem. Pessoas que morrem. Pessoas que choram. Pessoas que riem. Felicidade e Infelicidade são apenas conceitos de uma vida que nunca está parada, nunca está de portas fechadas para tudo o que se passa e que faz dela viva.
O dia de hoje começou com lágrimas e nós na garganta, apertos no estômago e no coração. A dor da perda de quem não nos sendo próximo, o era realmente. Pela proximidade da visibilidade pública, da simpatia e da simplicidade, do acreditar no dia de amanhã. Estas dores fortalecem-nos ou envelhecem-nos um pouco mais? A partir de hoje, quem existia na nossa vida sem a ela pertencer, passou a ser mais uma recordação, mais uma memória que vamos tentar perpetuar. Vendo as Conversas, vendo o Filme, falando dele como profissional de mão cheia que nos deixou a lição de vida do último ano e meio (difícil) da sua própria vida.
Depois não nos podemos ater a estes acontecimentos e continuamos. A nossa vida está aqui e pede para ser vivida. Egoísta e rápida não se compadece do que sentimos e empurra-nos, acorda-nos para a urgência de viver. E nós vamos. Empurrados pela corrente, a princípio. Já meio adormecidos da dor, no fim. E os acontecimentos vão acontecendo...
II.
A cabeça atordoada esqueceu a missão que deveria ter sido a primeira do dia. As notas da 2ª fase dos exames nacionais do secundário. Oh não. Como me fui esquecer? Não fazendo listas, claro! Catarina longe. Amigas dela perto. Tia, depressa, temos de ir ver as notas. Tia, a Tia vai morrer quando vir as notas da Catarina. Tia, não consegui resistir e já lhe telefonei. Tia, eu sei que a Tia queria ver mas deixe-me dizer-lhe. [Aqui está a roda da vida a não parar, a empurrar-me, a querer que eu participe nela e a faça ter sentido. Ainda agora comentávamos com lágrimas o acontecimento que nos ensombrou a manhã e já estamos a deixar que a garganta se feche em nó de comoção de alegria. Estranho cérebro o nosso que nos dá lágrimas para dois sentires tão distintos.]. Tia, 19 a GD e 17 a Desenho. E pronto. E chorámos as duas de imensa alegria. Pelas notas da Catarina. Pelas notas desta Amiga. Porque com estes resultados é dífícil não entrarem nos cursos que no ano lectivo passado lhes fugiram entre décimas não atingidas.
A vida é um laboratório, de emoções, de sentimentos. Que temos de saber gerir muito bem e dosear de maneira a que nada nos expluda nas mãos, nas gargantas, nos corações.
Hoje, os meus tubos de ensaio experimentaram todos os pontos altos do sentir humano.

Sexta Feira, Quase de Férias


I.
Hoje é o último dia.
Amanhã faço malas.
Depois de amanhã faço a festa de 19 anos à menina cá de casa.
Segunda feira mudo-me para Sul.
II.
Não consigo parar as lágrimas "aproveitem a vida até ao último momento e não deixem nada por dizer". Palavras do António Feio, na rádio.
Parece que por enquanto não vai sair nada de jeito.

Até já!

R. I. P.

Um sms iniciado pela palavra morreu. Logo aí o meu coração saltou e parou de seguida. E ficou parado por momentos ao ler as duas palavras que se seguiam.
Não sei se só acontece comigo, mas há determinadas pessoas que não conheço pessoalmente mas que fazem parte de mim.
O António Feio era uma delas. Sem nunca o ter visto ao vivo, via-o sempre que aparecia na televisão. Gostava muito dele, do trabalho que fazia, da postura, da atitude com que se apresentava sempre, mesmo depois de ter ficado doente.
uma música do Sérgio Godinho que se transformou numa espécie de "prenúncio de morte" para mim. Adoro-a, canto-a imensas vezes, mas há sempre um peso no coração quando a trauteio, como se tivesse medo das consequências. Esta manhã, antes de saber da morte do António Feio, cantei-a...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Agrados

Diz-se que se faz um agrado a alguém quando se oferece algo que se sabe que quem recebe vai gostar.
Foi o que me aconteceu hoje. Ao abrir a caixa de correio tinha um envelope de correio verde com o meu nome por fora. PRD no remetente. Abri-o ainda antes de meter a chave na ignição do carro, a caminho da praia. Lá dentro estava FUMO.
Já na praia iniciei a leitura e gostei do que li.
Às páginas tantas diz o PRD que um amigo dele o questiona sobre o porquê de escrever coisas banais sobre pessoas banais. Também eu gosto de escrever sobre coisas que acontecem (ou podem acontecer) a qualquer pessoa, em qualquer parte do Mundo. Hoje ao lê-lo, palavras simples mas cheias de ideias nem sempre tão simples, apeteceu-me escrever. Amanhã, prometo, que não vou esquecer o caderno em casa.
O FUMO do PRD vai fazer-me companhia nos próximos dias!
Obrigada Pedro.

Quinta Feira, Quase de Férias

I.
Estou Mãe de filho único. O último.
Estranho. Como diz um desenho animado, primeiro estranha-se, depois entranha-se.
Tem sido bom não os ter todos à pega uns com os outros, cada um a stressar com a sua coisa, cada um a pedir a sua atenção.
Faço tudo mais devagar e com mais calma.
Já devia estar na praia e ainda não estou. Mas vou.
Ele já devia estar arranjado e ainda está a ver desenhos animados.
Who cares?
Estamos quase de férias (ele está de férias!) e está demasiado calor para stressar.
II.
Quando conduzo de manhã pela Marginal até Cascais gosto de sentir o cheiro do mar e de o ver tão perto. Também gosto de apostar comigo própria que vou cruzar-me com alguém conhecido ou ir atrás ou à frente de alguém conhecido. Ontem ganhei a aposta. Hoje também.
III.
Sei que a maré está vazia e que vamos ter muito espaço quando chegarmos à praia, mas não tanto como tínhamos ontem no Guincho. Sózinha com o mais pequeno não me apetece ir para "tão" longe. Vamos para a praia perto de casa.
IV.
Tal como tenho crises de escrita, também as tenho de leitura.
Há uma pilha de livros para ler. Nenhum me atrai especialmente. Há uma lista de livros a comprar antes de rumar a sul. Espero conseguir! Fui à estante do sótão e tirei O Idiota. Enquanto não me decido, ando pela Rússia.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Olhos Verdes, Brilhantes como Estrelas, Disseram-me "Até Domingo!" # [1]


Este foi o título de um post escrito no Verão passado, a 24 de Julho.
Resultado de uma "batalha" saíu o sim que carimbava a autorização para uma nova experiência na vida do nosso rapaz mais velho.
Fizesse eu a contabilidade das batalhas que como Mãe tenho de travar para que os Filhos alcancem determinadas autorizações e já teria algumas linhas escritas. Não faço essa contabilidade. Entendo que como pessoas somos muito diferentes e que em papéis de paternidade e maternidade tem de haver diferença de opiniões. Só assim poderá haver troca de saberes e aprendizagem.
A experiência do Verão passado foi boa. Tudo correu bem e sem sobressaltos.
Õntem veio o pedido de autorização para a repetição da experiência. "Falas tu com o Pai", disse-me ele, "Não, falas tu, disse-lhe eu. Nenhum de nós falou.
Hoje, na praia, foi a vez do treinador falar na viagem, no acampamento de três dias, de como era importante que o Manel fosse.
Falei eu com o Pai.
Não houve dúvidas em dizer que sim.
E o rapaz vai partir.
Amanhã.

Efeito Borboleta

A Clara foi professora de Educação Física da turma da Catarina. No 12º ano.
Ao terminar o ano lectivo decidiu que tinha de sair para o Mundo. Ajudar quem precisa de ajuda, viver fora da civilização durante o tempo que fosse necessário para que o seu projecto de auxílio se concretizasse e os resultados fossem visíveis.
Saíu da vida confortável e pacífica e mergulhou de cabeça num projecto que a punha a pedalar muitos kms por dia para ir trabalhar, suportando temperaturas que chegaram a atingir os 50º. Durante o tempo que esteve em Moçambique, foi registando o seu dia a dia e também dando notícias de si e das pessoas com quem se cruzava num blogue - Efeito Borboleta. Mais do que uma vez, ao ler as palavras da Clara, ao ver as fotografias, dava por mim em lágrimas, a pensar como é fácil a vida que temos, como estamos longe das dificuldades de muitas pessoas por esse mundo fora. Fui seguindo a Clara atentamente, lendo-a e comentando-a. Descarada como sou, não hesitei em lhe pedir que me trouxesse uma capulana para juntar às que já tenho e que me acompanham para a praia. Depois de muitas combinações e alterações, e deixando pendente a promessa de um lanche cá em casa com antigas/os alunas/os, encontrei-me hoje com ela e recebi um novo pano mágico.
Agora em Portugal, a Clara não vai cruzar os braços, instalar-se de novo numa vida confortável e esquecer o que viu e quem sabe que continua a precisar de ajuda todos os dias. Está empenhada em criar uma Associação que apoie projectos que sejam formas de ajudar em Moçambique. Para que consiga levar este seu projecto avante, a Clara precisa de contactos, de empresas com consciência social que materializem os apoios.
Este meu post é a minha ajuda à Clara. Divulgar o que ela pretende fazer, num país que eu sinto como meu. Se puderem, ajudem. Se conhecerem pessoas que possam eventualmente ajudar, divulguem. A consciência social e cívica não é uma das características mais fortes dos portugueses, mas nunca é tarde para começar! O efeito borboleta é isso mesmo - ajudando a Clara aqui, em Portugal, podemos estar a ajudar muitas pessoas a muitos milhares de kms de distância e podemos mudar as suas vidas.

ps - quando a máquina tiver bateria, ponho aqui a fotografia da capulana nova!!!

Guincho

Acredito na magia e na energia própria de determinados locais.
O dia de hoje foi passado num desses locais que, para mim, é mágico.
A praia do Guincho. Não sei se é pela imensidão de mar que se estende à frente dos olhos sem ter pontões que o prendam à esquerda ou à direita. Não sei se é pela imensidão do areal que me faz ter vontade de andar, andar, andar, como se nunca lhe fosse encontrar o fim. Não sei se é por olhar para a direita e poder descansar os olhos cansados do branco da areia no verde da vegetação que rodeia a praia. O cheiro a flores silvestres. E depois, o espaço. O poder estar deitada, sentada, a ler, a dormir, a fotografar, sem ter quinhentas e cinquenta pessoas em cima de mim, a gritar, a conversar conversas sem pés nem cabeça. E depois o mar, que só existe no Guincho. A maré vazia que permite andar ali a mergulhar baixinho, a enfiar a cabeça nas espumas. A maré cheia que vem com ondas fortes. O sal que fica mesmo na pele e nas toalhas.
O Guincho é maravilhoso e a ausência de vento faz dele a melhor praia da Linha.

ps - as fotografias vêm mais tarde! A máquina ficou sem bateria ;-)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Perfeição


Perfeito, adj.
que não tem defeito, falha ou erro;
completo; total; acabado;
modelar; exemplar;
belo
[...]

Como se forma no ser a ideia de perfeição?
Como se instala no ser a busca incessante pela perfeição?
Como se ultrapassa essa busca e se aceita o imperfeito de que é feito cada indivíduo?
Como se vive, em paz, com a ideia constante de que se é imperfeito quando se quer tudo perfeito?
Não estou a conseguir lidar com as minhas imperfeições.

O Drama de Sempre


Ando uma crise de auto-estima.
Sem saber como nem porquê, detecto alterações que queria fazer desaparecer.
Pudesse a minha Rainbow aspirar gordura humana e fosse eu uma mulher tipo Mary Poppins, mágica, vos garanto que faria a mim mesma uma hiper lipo aspiração.
Ando irritada com isto!!!! Agora estou a comer uma maçã verde e um queijo fresco light. Já bebi 1,5l de água. Pão, só uma fatia torrada de manhã. Durante o tempo que estive na praia, comi tomate crú. Vá lá...porque será que quem tanto se preocupa com a linha, tem destas alterações volta não volta? Ainda por cima numa época do ano em que a palavra de ordem é pouca roupa!

Terça Feira, Quase de Férias [Hesitações Encaloradas]

Eu e a minha Máquina,
Lagoa de Albufeira
Março 2008

Ontem houve jantar de aniversário. Hoje há jantar de aniversário.
Ontem estavam 32º às nove da manhã. Hoje estavam 25º. No Guincho havia vento quente e a temperatura era mais alta do que em Cascais.
Na Marginal havia cheiro intenso a maresia e a maré estava vazia, deixando a descoberto todas as rochas que são fundo do mar das nossas praias em tempo de maré cheia.
Nas praias, vistas da Marginal, já não havia areia. Apenas muitas rodelas de cores e muitas, muitas pessoas.
A vontade de ir para a praia é grande. A vontade quase desaparece quando rebobino as imagens que já gravei.
Dentro de casa consigo manter o fresco. A casa escurecida.
Hesito. Talvez vá. Talvez fique. Talvez seja melhor ir.

Arrepio de Paixão


Afastou-me o cabelo da testa, dos olhos. Pegou na revista que tinha na mão e abanou-a junto à minha cara. O calor dos dias de verão. O suor no meu rosto. Não disse nada. Pegou-me na mão direita. Beijou-me o pescoço. O arrepio percorreu-me o corpo, a pele transformou-se em pele de galinha, o suor congelou em pedacinhos na testa. Decidi não lhe dizer nada. Deixá-la usufruir do prazer que também eu estava a sentir. Speachless. Os olhos escuros procuraram os outros olhos, buscando neles o ardor que de repente transformava tudo em frescura, em arrepio, em vontade do abraço. Irreal o sentimento de que paixão é calor...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Segunda, Quase de Férias

Não houve praia no fim de semana.
Ontem pensei que ia morrer com calor.
Hoje já está imenso calor. Tenho imensas coisas para fazer. Se há coisa que a minha Filha herdou de mim, foi a mania das listas. Quando começamos a ficar em stress fazemos listas. Já comecei a inventariar tudo o que tenho de fazer durante esta semana que é a última. Precisamente de hoje a uma semana, "bazo" daqui para fora.
Hoje tenho de começar o dia na cozinha. A minha Irmã faz anos e vai haver jantar. Que era para ser surpresa, mas não sei lá porquê, já deixou de ser. Vou fazer duas sobremesas.
Amanhã tenho a festa de anos da minha sobrinha, em Lisboa. Vou aproveitar e tratar de umas coisas por lá.
Na quarta vou dar lanche a uma pessoa especial.
Na quinta tenho de me dedicar à arrumação.
Na sexta tenho de fazer malas.
No sábado chega a Catarina.
No domingo faz anos. Temos festa.

Não sei porquê, mas sinto que este blogue está a ficar com uma falta de interesse do tamanho do mundo...

domingo, 25 de julho de 2010

Domingo, Quase de Férias

Inscrevi-me no passado sábado, Um Workshop de fotografia na Bulhosa do Oeiras Parque. Não estou com expectativas muito altas, até porque se trata de uma coisa de apenas uma hora, mas é gratuito, não exige material (eu vou levar a minha máquina) e há-de dar para aprender qualquer coisa. Quando me inscrevi, inscrevi também o Martim. Ele gosta muito de fotografia e achei que era um bom programa para fazer com ele. De repente, vou sozinha. Surgiu aí um programa para ele, que acabou por o fazer optar por deixar de lado o workshop desde que eu lhe prometesse que não iria deixar de ir só por ir sózinha. Prometi e vou cumprir. Durante uma hora. Sózinha. Aos poucos quero voltar a ser Eu.

sábado, 24 de julho de 2010

Sábado, Quase de Férias # [2]


Medo!!! Descobri há bocado que não vou ter internet portátil nas férias.
Não. Não me é possível sobreviver sem o meu blogue, sem ler os dos vizinhos, durante as férias.
Faço um apelo. Aos operadores, aos meus leitores, aos meus admiradores. Ofereçam-me uma pen de internet portátil para que eu possa blogar durante as férias. Please?

Sábado, Quase de Férias # [1]


Chego da rua. Do ar condicionado do carro para o bafo escaldante da rua. Meto a chave à porta. Fresco. A casa é tão fresca no rés do chão. Estores a meia haste e os únicos cortinados  (da casa de jantar) fechados garantem que o calor não nos invade. Sei quantas coisas se acumulam. Esqueço-as. Afinal de contas estou quase a ir de férias e não me apetece fazer nada. Rendo-me. Pelo menos as camas tenho de fazer. Arrasto-me. Estico lençóis e bato almofadas. Uf. Agora posso preguiçar. Pelo caminho pego o jornal. E um livro. Não tenho filhos a interromperem-me segundo a segundo. Posso esticar-me no sofá e ler. Ou ler e dormir. Tenho alguma soneira...antes de vir para casa passei nos meus Pais. Trouxe uma nova capulana. Tão grande que vai dar dois panos para a praia. Os meus Pais estavam irritados. Com o calor e o não terem ainda saído de casa. Iam passear de carro, com o ar condicionado ligado. A mim só me apetece mesmo dormir. Por outro lado precisava de uma corzinha mais tostada. Festa na segunda e na terça. Um ar bronzeado cai sempre bem. Talvez ainda tenha coragem. Amanhã levanto-me cedo e vou. As multidões na praia saturam-me. Vou ler. Ou vou dormir. Não sei. Já vejo.

Sábado, Quase de Férias

Fotografia tirada pela Ágata,
a Amiga mais antiga!

I.
Este é o penúltimo sábado em casa.
II.
Está sol firme, céu azul e muito calor.
A praia, mesmo ali ao fundo da descida, deve estar a abarrotar de gente sequiosa de mergulhos e banhos de sol. A praia não me vê ao fim de semana.
III.
De quatro, só cá está um.
A grande voou sobre a Europa em direcção à Noruega (acabou de enviar sms a dizer que o aeroporto é muito giro). Uma semana inteira de passeio, de descanso de Pais&Irmãos.
O segundo e o quarto tiveram convite para praia do outro lado da ponte, com direito a jantar incluído e regresso tardio a casa.
Permaneceu o terceiro.
IV.
Numa Família onde a poupança é palavra mais do que de ordem, quando acontecem estas "debandadas" de filhos, podemos dar-nos a um pequenino luxo. Vamos os três almoçar fora.
V.
Hoje fui comprar o jornal à papelaria de uns antigos vizinhos. Saí de lá a pensar como é bom ter a capacidade de manter os contactos e alguns laços afectivos e de amizade. Transmite-me a sensação de que nunca estarei sozinha.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Entre Aspas [Quando Faltam as Palavras] # 1

Eu e a minha Máquina,
Ocean Spirit
Praia de Stª Cruz
Julho 2007

quando me faltam as palavras falta-me o ar
rodopio em torno de mim
esmiuço cada pedaço dos pensamentos que voam
procurando as palavras certas que os digam
sem que se repitam sentimentos já escritos
há tristeza não dizível
em olhos que se escondem dos outros olhos
quando as palavras me dizem que não se querem mostrar
[porque também não se querem misturar]
enfio as mãos gastas em algibeiras
e fingindo que a minha cabeça nada sabe inventar
procuro nas páginas dos meus companheiros
palavras que digam o que eu não consigo...

«O MAR

Rodeia-me o mar, invade-me ainda o mar. Tudo é excessivamente salgado: a minha mesa, as minhas calças, a minha alma - convertemo-nos em sal. Já não sabemos o que fazer nas ruas, no meio de gente apressada, nas lojas, perdemos os hábitos, esquecemos as palavras mais simples no acto de comprar e vender. A nossa mercadoria tem sido composta de algas reluzentes, serpentinas ou foliáceas, pétalas enrugadas, mariscos avermelhados. O sal da espuma salpicou-nos de tal modo e impregnou-nos como se fossemos uma casa abandonada e pelas casas permanece um cheiro de salmoura.»
in uma casa na praia,
pablo neruda

quinta-feira, 22 de julho de 2010

"Queimar os Últimos Cartuchos"


Cansaço, Esgotamento, Depressão.
Três vocábulos que frequentemente são utilizados para caracterizar estados de alma, estados físicos debilitados.
Sinceramente nunca utilizei nenhum, porque médicos são pessoas que nunca visito e porque de mim espero força e alento para seguir sempre em frente e nunca dar parte de fraca.
Acontece que à beira de ir de férias me começo a sentir um pouco como se tivesse de me arrastar para fazer o que tenho de continuar a fazer e obrigando-me a socializar quando o que me apetece mesmo é desaparecer para o silêncio das minhas leituras de Verão.
Esta semana já vi o meu carro a deslizar à frente dos meus olhos enquanto pagava o combustível que ainda lhe estava a entrar no depósito [tradução, saí do carro e não puxei o travão de mão]. Hoje procurei o meu telefone por todo o lado, enquanto ele estava muito sossegado ao meu lado, em cima da mesa. Na festa de aniversário de uma das minhas sobrinhas, esta semana, onde estão sempre pessoas que eu adoro e com quem gosto imenso de estar e de conversar, parecia que estava fora de um vidro a observar o que se passava do lado de lá. As aulas já terminaram há um mês e eu ainda não consegui sentir a sensação de alívio que costumo sentir quando tenho de encaixotar livros e cadernos no final do ano lectivo [para dizer a verdade, ainda nem esta simples tarefa cumpri]. O ano lectivo foi trabalhoso e muito exigente para mim. Os problemas de saúde dos nossos Pais (homens) também me deitaram abaixo. Pessoalmente, andei a puxar por mim própria...
Não me apetece aspirar, nem limpar. Não me apetece pensar em refeições e muito menos fazê-las. Não me apetece lavar roupa e muito menos engomá-la [até consegui fazer as camas dos miúdos com rooupa tirada directamente do estendal!!!].
Faltam poucos dias, é verdade, mas nesses dias tudo o que não me apetece fazer vai ter de ser feito.
Para além disto, ainda vou ter o aniversário da minha Irmã [aproveitei que a Catarina ainda está cá e já fui com ela escolher o presente] e o aniversário da minha pequenina sobrinha de 2 anos [também já tenho os presentes].
After, a Catarina faz anos no dia 1 e vamos ter festa cá em casa. Na próxima semana vou ter de aproveitar a ausência dela e preparar tudo de maneira a que exista o factor surpresa numa festa que ela pediu para ser feita.
Não gosto de medicamentos e muito menos de estimulantes, mas neste momento acho que precisava de algo que me desse um speed mesmo à séria!
É que até escrever se está a tornar difícil...

PS - se alguém ligado à medicina/psiquiatria me ler, diga-me: são graves estes sintomas?

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Biografia [na 4ª década]


Viajei em Lisboa sem rede, que é como quem diz, enfrentei sozinha medos que podem parecer completamente desprovidos de sentido se forem atribuídos a uma pessoa da minha idade e que sempre viveu em Lisboa, que cresceu em Lisboa, que aos 10 anos andava sozinha de metro de casa para a escola e vice-versa.
A cidade mudou imenso na última década e foi precisamente há uma década que eu a deixei de frequentar diariamente, trocando-a pela pacatez de uma língua de terra paralela ao mar, onde tudo se passa devagar (ou relativamente devagar) e onde controlo tudo. Lisboa deixou de ser uma zona de conforto e passou a ser uma zona de desafio. O metro, que eu dominava, onde eu entrava a ler e saía a ler, subindo e descendo escadas quase automaticamente sem levantar os olhos das páginas, passou a ser um local onde é preciso estar com atenção a cores, mudanças de linha, novas paragens, novos destinos.
Viajar sem rede foi viajar sem a companhia de ninguém que tenha vivido a mudança e que me guiasse.
Hoje, ao fazer a leitura diária dos blogues, parei no Nocturno. A reflexão sobre a dependência/independência despertou em mim a vontade de reflectir e escrever sobre estas características que cada ser humano tem e que o tornam distinto em relação aos outros. Fez-me pensar em mim enquanto pessoa (se não é já isso que faço todos os dias quando aqui me sento a escrever, correndo o risco de me tornar cansativa, obsessiva, desprovida de imaginação...) e quais as mudanças que tenho observado em mim mesma ao longo dos anos e das situações de cada momento. Nunca fui uma pessoa dependente. A educação é a base de qualquer ser humano. Acredito nesta minha verdade. A educação que recebi dos meus Pais foi uma educação de responsabilidade aliada à confiança, pois uma não pode existir sem a outra. [Desde muito pequena que me deslocava sozinha pela cidade, a pé e de metro. Desde muito nova que ficava sozinha com os meus irmãos mais novos, de férias, aqui nesta zona, enquanto os nossos Pais estavam em Lisboa a trabalhar.]
Cresci independente e responsável e acho até que foi essa vontade de ser independente que me fez começar a trabalhar tão cedo e a deixar a Faculdade pela primeira vez. No entanto a vida não é uma recta, uma linha onde se põe um pé à frente do outro e se anda em equilíbrio, sempre em frente. A vida é uma linha, sim, no sentido do seu início e do seu fim, mas uma linha que se vai enrolando e desenrolando e nos obriga a voltas e reviravoltas, sempre em equilíbrio. [Pelo menos, no meu caso tem sido assim.] A minha independência foi transformada em semi-independência, pois se é verdade que me basto a mim mesma para tudo o que faço diariamente, não me basto a mim mesma economicamente. E a tese de que fala a Luísa, sobre a alteração da nossa biografia pela 4ª/5ª década da vida, é uma tese que subscrevo por inteiro. Se por um lado os quatro anos que já levo da minha 4ª década de vida têm sido anos de encontro, também têm sido anos de muitas questões, de muitas dúvidas, de muita vontade de mudar sem saber por onde iniciar a mudança. Sinto-me agora, como não me lembro de me ter sentido na altura própria, a viver uma fase de adolescência em estado puro. As características que definem os adolescentes quase se podem aplicar a mim pela proximidade de sentimentos que envolvem.
Ontem, ao andar sozinha em Lisboa, sem ter ninguém por quem olhar, a quem ter de dizer cuidado, senti-me de volta a mim. À pessoa com quem estava habituada a viver e que há muito tempo perdi de vista.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Dificuldades de Raciocínio


I.
Estas minhas linhas talvez não sejam muito animadoras para os que têm filhos pequenos e ainda vivem na ilusão (boa) de que à medida que eles forem crescendo, a sua missão de Pais vai ser mais facilitada. Na realidade, os anos passam, as crianças crescem e com este crescimento tem também de aumentar o nosso nível de atenção e de empenho. Nunca, em Verão nenhum, anterior a este, me tinha sentido tão esgotada do papel de Mãe a 100%. Têm sido dias exaustivos, de solicitações variadas, de necessidade de atenção especial a multiplicar por quatro. Estava habituada a dias de praia ao pé de casa com os meus 4 meninos, numa moleza boa de férias até partirmos para as Férias em Família e esta diferença na rotina tem-me alterado os sentimentos.
II.
No fim do 3º período fomos surpreendidos por novas directivas do Ministério da Educação, apontando para a criação de Mega Agrupamentos de Escolas. Medida algo estranha se pensarmos que ainda há pouco tempo terminou o processo de constituição de agrupamentos e eleição dos respectivos directores. Mais estranha ainda porque em Mega Agrupamento vão ser agrupadas escolas que distam bastante umas das outras, sendo que os Professores poderão ter de leccionar em escolas diferentes dentro de um mesmo Mega Agrupamento. Na verdade ainda não consegui entender bem este novo conceito para além da perspectiva económica, mas também ainda não consegui parar para ler sobre o assunto, reflectir e tentar chegar às minhas próprias ideias e conclusões sobre o assunto.
III.
É hoje. O primeiro passo para uma tentativa de mudar os meus dias.
Branco a cor escolhida para a roupa. Azul para os acessórios.
Aí vou eu.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

É Segunda e...

...Não me perguntem nada.
...Está tudo bem.
...O estômago está apertado [e isso é bom porque me fará não ter fome e, consequentemente, emagrecer].
...A cabeça não pensa muito para além do minuto que se vive no momento.
...O coração, esse, ainda está indeciso entre o ser simplesmente motor de vida e o responsável pelo aperto do estômago.

A vida continua [tem de continuar] em perfeito slow motion, sem nada que a faça estremecer de entusiasmo. Não me parece muito bom, é o que tenho.

domingo, 18 de julho de 2010

Wanna Be a Cartoon Tonight...

Fotografia trazida do blogue do José Fanha

Porque será que ultimamente só me apetece ter asas e voar?
I.
Sexta feira à noite o programa foi diferente. Para variar um bocado não ficámos a ronronar nos sofás diante da televisão. A princípio não foi fácil, porque esta coisa de se jantar em casa, levantar a mesa, arrumar a cozinha, sentar o rabo no sofá a fazer horas para ir sair não é muito ok. Os pequenos foram, já de pijama e almofadas debaixo do braço, dormir a casa de uma Amiga. Ficaram na boa. Calmos e sossegados, que é tudo o que uma Mãe precisa para deixar dois Filhos que raramente são deixados. Os grandes foram incluídos na saída e, embora pouco animados, lá fomos todos para Lisboa. Ideia minha, claro! A primeira saída para um local de diversão nocturno do nosso Filho homem mais velho. Achei que fazia sentido levá-lo a um local bonito da noite lisboeta, que seria um belo baptismo. Foi um belo baptismo! O local onde ficámos sentados, o bom ambiente que estava no bar, o grupo que foi tocar, tudo se conjugou para que a noite que eles pensavem ir ser de seca, se transformasse numa noite de sorrisos rasgados e canções trauteadas. Não fosse o meu ataque de falta de ar às duas da manhã, que nos obrigou a ir a correr à farmácia mais próxima comprar um inalador Ventilan para que eu aguentasse o resto da noite...
Deitei-me às 4. Levantei-me às 9.
II.
O sábado foi tenso. O clima anda tenso. Todos andamos a precisar de férias, de sair da rotina, de abandonar os procedimentos de todos os dias e deixarmo-nos invadir pela calma que só os dias de Verão conseguem transmitir.
III.
Valeu-nos o jantar de sábado. Um valente caril feito a preceito por mãos moçambicanas. Como se o ar quente da terrra onde fui concebida invadisse a minha casa, como se ao comer aquele jantar maravilhoso eu estivesse a recordar dias que na verdade nunca vivi. Há pessoas que falam de qualquer desejo que têm, por vezes o mais extravagante, e conseguem que alguém o realize. Eu, desde há muito tempo, que verbalizo o desejo de ir a Moçambique. De poder cheirar o ar de África, de poder andar descalça na terra quente, de me cobrir de capulanas, de conhecer a terra de onde vim para nascer na europa. Ainda não consegui encontrar a pessoa que me concedesse este desejo. Continuo a sonhar. Quase arrisco dizer que se fosse, dificilmente regressaria.
IV.
Estou acordada, ainda. Sem sono. À espera que chegue o meu Menino nº 1. Todos dormem. Gosto desta sensação de silêncio quando todos estão em casa, mas eu não tenho que estar sempre a tomar conta, a dar atenção, a responder a perguntas. É bom.

sábado, 17 de julho de 2010

Sábado, Mais Um

Eu e a minha Máquina,
Espanta Espíritos, Ágata
Janeiro 2010

«Ao fim e ao cabo, não é verdade que todas as raparigas têm direito a um pouco de felicidade? E o certo é que ela nunca fora feliz.»
Mrs. Dalloway, Virginia Wolf

Não é bonito queixar-me.
Há tantas, mas tantas pessoas, com vidas tão terrivelmente complicadas.
Não é bonito queixar-me. Não o vou fazer.
Digo somente que há alturas da vida muito complicadas.
Em que silêncios apunhalam, ferem, matam.
Em que as palavras que se escapam seriam muito melhores se não fossem ditas.
Em que todos os pensamentos se dirigem para um mesmo ponto, o ponto que não se quer dizer. Nem pensar.
Há alturas em que a água dos olhos é traiçoeira, em que o cérebro poderia ser um órgão dispensável como o apêndice.
Nestas alturas sofre-se.
Em silêncio. Em esperança.
De que tudo não passe de um mau bocado, de uma conjugação de espíritos que ainda não perceberam que não são bem vindos.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sexto Sentido, Instinto Maternal, [seja o que fôr]

Está a decorrer a 2ª fase do Exame Nacional de Geometria Descritiva.
A Catarina está lá. Foi em sofrimento. Nervosa, à séria. Fez quilos de exercícios. Merece mesmo uma boa nota. Merece mesmo que a média nacional baixe e que ela consiga entrar no malfadado curso que tanto deseja. Só depois do exame de hoje é que fica finalmente de férias. E bem precisa delas! [E o quarto dela também].
Eu estou assim "a modos" que agoniada. Apertada. Não sinto o coração a bater e não me apetece sequer mexer. Fumaria um cigarro se tivesse. Não tenho. Será mesmo verdade a história do instinto maternal e do sexto sentido? Deve ser disso que padeço neste momento. Ainda falta mais de uma hora para ir ter com ela. Espero que lhe esteja a correr bem.
Entretanto tinha prometido um dia inteiro de praia ao Mateus e o cinzento do céu manteve-nos em casa. Coitado do "caçula".
Na próxima semana há dois aniversários importantes e ainda não tratei dos presentes. Nem faço ideia. Algo me diz que também ando a precisar de sair daqui.
Que dias monótonos!

Ocean Spirit

Eu e a minha Máquina,

Está quase a acontecer.
Há três anos fomos dois, na carrinha que tínhamos na altura. Ele para competir. Eu para fazer companhia. Dormimos na carrinha, com pareos a taparem as janelas.
Esta manhã, um encontro no trânsito, veio trazer a recordação dos dias de há três anos atrás.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Banalidades

Estou a engomar camisas. Trabalho aborrecido, minucioso e demorado. Cada camisa engole quinze minutos, tempo durante o qual posso engomar uma pilha de T-shirts. Estou sozinha com o nº 4 e por isso estou a engomar na sala, para estar ao pé dele. Já não engomava na sala há uns cinco anos...desde que estou nesta casa.
Da janela vejo a rua. Vejo a autocaravana do meu vizinho do lado. Viva!!! Já chegou. Saíu daqui em Abril, rumo ao Círculo Polar Ártico. Chegou hoje. Deve vir cheio de histórias e paisagens para contar.
O nº4 está deitado no sofá. Preguiçoso e calmo. Foi buscar papel para desenhar. Proponho-lhe um ditado. Aceita. Mando-o buscar um livro à escolha dele. Vem um Stilton. Vamos começar...

Pensamento Estúpido # [27], com questões variadas

A partir do momento em que pomos as nossas palavras no mundo cibernáutico temos de ter muito mais cuidado com o que dizemos. E pensamos. Ou não? Podemos continuar a dizer tudo o que nos dá na bolha? Corremos o risco de afastar os nossos seguidores? E os comentadores? É impressão minha ou toda a blogosfera está de férias? Sou só eu que me sinto desamparada quando escrevo dois ou três posts de seguida e não recolho nem 1 comentário? Fico sem saber se o que escrevi é completamente estúpido, banal, mal escrito ou se o tempo é que não permite que se percam minutos a comentar. Quão estúpidos são estes meus pensamentos?

Diário de Férias # [7]

Eu e a minha Máquina,
Tavira,
Agosto 2009

I.
Dia 15. É hoje. Entramos na recta final que nos separa de quase um mês de descanso. Ainda temos de ultrapassar 2ªs fases e avaliações, resultados de recursos e candidaturas. Com as notícias que têm vindo a público sobre os resultados dos exames, a minha esperança grande é que as médias de entrada desçam este ano. Mentalmente acendo velinhas aos santos aos quais não sei rezar. [Será que se soubesse rezar seria ouvida? Por estas bandas nunca nada se consegue sem algum esforço e empenhamento...].
II.
O Martim começou hoje 15 dias de Férias Activas. A pedido dele inscrevi-o. Fiquei contente por ele se interessar por um programa deste tipo. Vai obrigá-lo a uma série de actividades que nunca experimentou e a poder praticar outras já experimentadas. É bom para ele. [mais um fora de casa durante todo o dia] No folheto de divulgação do programa fazia-se menção a condições especiais para Famílias Numerosas no que ao pagamento diz respeito. Não liguei muito, porque estas "condições especiais" trazem sempre água no bico e geralmente uns "ses" que acabam por se revelar, para nós, castradores da condição a que realmente pertencemos. Foi com surpresa e lágrimas nos olhos que, ao efectuar o pagamento, recebi a notícia de que iria pagar realmente menos por ter quatro filhos. Comentei com a funcionária que me recebeu o pagamento que era a primeira vez que estava a ser beneficiada por ter tantos filhos. Apeteceu-me enviar um mail à CMC a agradecer. Ainda não o fiz, mas acho que vou fazer.
III.
Nos sites das escolas já estão publicados os manuais para o próximo ano lectivo. Contas. Contas e mais contas.
IV.
A próxima semana pode vir a ser determinante na minha vida. Estou a torcer por mim.

Entre Aspas [quando faltam as palavras]

«A Vida como projecto só me fascinou até ao sublimar do imprevisível. Não se julgue que desprezo o futuro, sentimento impossível (até por não ser verdadeiramente um sentimento) e porque ao futuro entregarei sempre o melhor do meu passado. E do meu presente.(...) Vou pelo jardim das paixões extintas...»


Álvaro Guerra,
in No Jardim das Paixões Extintas,
2ª edição
Dom Quixote

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Do Escritor Perdido


quando me sento diante do papel em branco, assusta-me sempre a possibilidade de alguma vez não ser capaz de transformar em legível uma folha alva, produto da morte de uma qualquer árvore. tremem-me as mãos, mordo as pontas dos dedos para não roer as unhas. acidentalmente rabisco uns bonecos mal feitos, sem pés nem cabeça, muitas vezes flores, o desenho básico da infância em que qualquer ponto pode ser o pólen e meia dúzia de formas ovais ou redondas podem ser folhas de uma flor inexistente na classificação das plantas. nem sempre as ideias me parecem dizíveis ou, pelo menos, minimamente interessantes para quem as possa vir a ler. questiono as minhas memórias sobre o pouco material que me oferecem nas tardes quentes em que escrever é uma fuga, um retiro. não me dizem muito estas meninas. diluídas na massa cinzenta do meu cérebro. levanto-me. em dois ou três passos, se forem dos mais apertados, alcanço o fundo do quarto onde me retiro para escrever, ler e pensar. deito a mão ao botão da ventoinha circular. as pás iniciam o seu rodar. deleito-me com o primeiro vento que delas sai e, numa atitude meio suicida, meio infantil, tento-me a meter os dedos por entre a armação de ferro, fascinado pelas formas que as pás formam ao girar. mais três passos apertados levam-me de volta à secretária. tosco tampo e madeira fixado à parede por armações metálicas originalmente usadas nas estantes handy. analiso-me pelo estado desta secretária improvisada. sou um amador das letras, com certeza. está tudo impecavelmente arrumado. lápis afiados e esferográficas prontas a usar alinham-se num tabuleiro que há já uns tempos foi cama de talheres, dentro de uma gaveta pesada, de mogno, do móvel da sala. livros de consulta frequente, de cujas páginas saem tirinhas de papéis coloridos e meio autocolantes, marcadores de frases, ideias, palavras a fixar e a citar. papel branco, em resma, do lado esquerdo. cadernos. vários. tiques de escrevedor que não resiste à compra de mais umas páginas em branco, de mais uma capa, diferente, conquistadora de atenção por este ou aquele motivo. em todos os filmes que vejo sobre escritores, há desarrumação. lembro-me de um que vi sobre Virginia Wolf que mostrava um quarto repleto de folhas de papel. por todos os lados. chão incluído. a escrita, expoente máximo da criação, estava ali retratada como uma urgência de expôr ideias, de cobrir o branco com o escuro do manuscrito, ou da máquina de escrever. ainda não atingi este ponto de criação. é a custo que as palavras me saem e quando finalmente as desembaraço de mim, tenho de as seguir de perto para que não se percam no que dizem, no que querem significar. mas como posso eu ter a veleidade de me comparar a uma Wolf? à partida estou em desvantagem. sou homem e os homens, é do senso comum, só conseguem fazer uma coisa de cada vez, só conseguem focar a sua atenção num pensamento de cada vez, nunca mais, correndo o risco de perderem a atenção, de deitarem por terra a execução do que pensam ou fazem. claro que me ultrapassa a explicação científica desta constatação, se é que ela existe, mas aqui fechado no meu pequenino quarto, sabendo que ninguém me ouve se as palavras me saltarem da boca enquanto penso, porque não domino a coordenação de pensar e não repetir com a minha voz as palavras que penso, reconheço que me é custoso fazer mais do que uma coisa ao mesmo tempo. as mulheres? são um polvo. não perdem o norte e conseguem dar atenção e coordenar múltiplas tarefas em simultâneo. deve ser por isso que wolf era um génio da escrita. mas também deve ser por essa capacidade sobrehumana que têm que algumas mulheres se sentem a passar para o lado negro da loucura. estão a ver a minha dificuldade? de que falo eu? que considerações são estas que partem de mim e aterram nas mulheres e na sua escrita. sim, tenho a porta fechada. tenho a certeza. esta porta castanha e antiga, decorada com um mero puxador branco de esmalte cuja tinta já esfolou. é esta porta que me separa do mundo. foi esta porta que me encerrou de medos e de inseguranças. o pequeno quarto onde escrevo é o mesmo que me viu crescer. que me viu passar dos carrinhos de lata aos aviões de papel com mensagens de amor, que atirava pela janela na esperança que aterrassem na porta da mercearia em frente, onde estava sempre a Joaninha, filha do dono da loja. nunca consegui ter arte suficiente para a pôr a olhar para aqui. para a pôr a olhar para mim. para a pôr a ler as minhas palavras. é aqui que me encerro. por trás da porta castanha. páro agora. oiço barulho lá fora e tenho que espiar pela janela. pode ser a Joaninha. pode ter encontrado o avião de papel que acabei de fazer voar pela janela. só lá estava escrito que estou perdido. no meu quarto pequenino de porta castanha.

Lista



  • A Última Porta, Manuel de Freitas

  • O Elefante Evapora-se, Haruki Murakami

  • A Viúva Grávida, Martin Amis

  • Os Filósofos e o Amor, Aude Lancelin e Marie Lemonnier

  • Solar, Ian McEwan

  • A Máquina de Fazer Espanhóis, valter hugo mãe

  • O Terceiro Reich, Roberto Bolano

  • O Bom Inverno, João Tordo (a partir de 28 de Agosto)
Pronto. É só isto.
Queria-os! A todos.
Para levar no saco de férias.

Diário de Férias # [6]

Selo/Prémio oferecido pelo

Têm sido complicados, para mim, estes dias de férias das crianças.
Sinais do crescimento deles, sinais de falta de preparação minha.
O mais velho dos rapazes sai cedo. Para aproveitar a praia antes de a ter por posto de trabalho. Só regressa em cima da hora de jantar.
A mais velha de todos anda em stress absoluto. Exames e mais exames. Avaliações na Faculdade. Melhorias do 12º. As médias. O curso pelo qual anseia e onde não entrou no passado ano lectivo. As ideias de ir para fora de Lisboa. O orçamento familiar que não consegue suportar essa despesa.
Eu a querer estar em cima de tudo...há um tempo disseram-me que eu sou um Farol na vida dos meus Filhos, ontem disseram-me que eu devia ser muito boa Mãe para ter os Filhos que tenho. Sabe bem, mas eu questiono-me tanto sobre o querer ser Super-Mãe. Até que ponto tenho de ser capaz de controlar tudo, de me controlar a mim?
Agora só queria que a 2ª fase corresse muito bem, que a média nacional baixasse, que a Catarina conseguisse entrar no curso que quer, em Lisboa.

terça-feira, 13 de julho de 2010

A Solidão de Saramago, nas Palavras de João Tordo


[...]"A primeira coisa que o escritor me ensinou foi que a solidão é a mais bela narrativa que existe. (...) eu acrescentaria que são, e também, essencialmente solitárias, embora essa solidão seja magnificamente preenchida com os "inúmeros" que vivem em nós e de que falava Pessoa. (...) Com a solidão das personagens de Saramago - uma solidão repleta de fantasmas, de vozes inesperadas, de olhos cegos - aprendi a aceitar a solidão universal do Homem, afinal a razão pela qual escrevemos (para a combatermos) e pela qual lemos (entre outras coisas, para não a sentirmos tão presente)."[...]
João Tordo, in Revista Ler,
Julho|Agosto 2009, pg 50

À Sombra [num dia sem sol]

Eu e a minha Máquina,
Alentejo,
Agosto 2008

A sombra dos pinheiros e a frescura que eles nos proporcionam, em dias de calor escaldante em terras do litoral alentejano, é uma das características que mais apreciamos no parque de campismo para onde costumamos ir.
Ontem ficámos por casa. Havia muito que fazer e apesar do sol que se fazia sentir, optei por deitar mãos à obra.
À hora de almoço pusemos a mesa cá fora. O chapéu de sol decidiu encravar e não o conseguimos abrir. O sol estava demasiado forte. Puxámos a mesa para debaixo do toldo da janela da cozinha e das folhas da nespereira. Excelente spot para um almoço às três da tarde.
Voltamos a utilizá-lo agora. Para o pequeno almoço dos que se levantaram tarde e para o primeiro post do dia.
Hoje o Sol não nos incomoda, mas também não nos aquece e o belo pijama de Verão que envergo transforma-se em acessório pouco adequado ao tempo que faz cá fora.
Os meus cães (que neste momento são mais cadelas!!!) estão por aqui. Deitados uns, a brincar os outros.
Os meus filhos andam lá por dentro. Há Silence Four a tocar (Give a Little Respect).


Estou como se estivesse no "meu" parque de campismo. Ao ar livre a preguiçar, a escrever, à espera da chegada do Sol de Verão que hoje se deve ter atrasado.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Coração [de Papel]


Desenha-o primeiro. Lápis de cera, preto, apertado entre dedos pequeninos da mão esquerda. Ninguém lhe ensinou especificamente que era aquela a forma, que era aquele o símbolo para demonstrar um sentimento de afecto por alguém. Desenha-o com a precisão que a sua tenra idade lhe permite, com a convicção de que o há-de oferecer à menina sentada a seu lado, com quem divide lanches e segredos, risadas e brincadeiras. Ela não espreita o trabalho dele. Cabelo preto atado num rabo de cavalo, pestanas compridas, baixas, como os seus olhos, absorta no seu desenho, num mundo de faz de conta que só existe na sua cabeça e que transpõe para o papel. Almaço. Grosso. Tudo menos branco. Da cor que deviam ter os pensamentos se fossem transparentes, mas eles ainda não sabem dessas características dos pensamentos que correm nas suas cabeças de meninos . Ele espia-a furtivamente pelo canto do olho. Esquerdo. Vai terminar de desenhar aquela forma arredondada, com um vinco a meio, com um bico em baixo e vai recortá-la, enfiá-la num fio, provavelmente um qualquer cordel, e vai fazer um colar. Que lhe vai oferecer a ela, que finge não estar ali, sentada ao lado dele, desassossegando-lhe a alma e o coração.
Cresceu. Cresceram-lhe as mãos e o corpo. Já não usa lápis de cera e na mão esquerda segura agora uma esferográfica azul. Vai seguindo as explicações da professora e tomando notas no caderno pautado onde, com mão firme, desenhou já um coração. Não um coração redondinho, com um bico em baixo, mas um coração onde se percebem aurículas e ventrículos, aorta e pulmonar, trajectos de sangue arterial e de sangue venoso. Tenta não perder nenhum pormenor da explicação enquanto mentalmente se questiona sobre a explicação para a ligação deste órgão humano à capacidade, virtude de amar, de gostar de alguém e graficamente o demonstrar. E nos dias que se seguem devora livros. Busca uma explicação para o sentimento ter sede no mesmo órgão que a vida. Não encontra razões, mas sente uma dor que o aperta. Que lhe faz perder o ar quando no meio do estudo lhe surge a imagem de uns certos cabelos pretos acompanhados de pestanas longas. O coração bate mais rápido quando dela se lembra, bate vagarosamente quando sabe que ela está longe.
A idade adulta surpreendeu-o solto na vida em busca de explicações. Após ter entendido que só a cabeça comanda as acções humanas. Pendurado, dentro de uma das estantes de livros, tem o coração de cartolina vermelha. Os cabelos pretos nunca nele ficaram presos. Ele nunca teve a coragem necessária para lho oferecer, para lhe dizer que o músculo que é o seu coração feito de dois tipos de sangue batia por ela, minuto a minuto. Repreende-se. Questiona-se como teria sido se tivesse sido capaz. Sofre. Por amor. Tem a certeza de que é no coração que está tudo o que se sente e que o lado esquerdo, o que usa para escrever, cortar, comer, é o lado certo da vida. É para o lado esquerdo que aponta o bico no fundo da forma arredondada que é o coração.
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